Impactos decorrentes da pandemia e diminuição do volume de investimentos contribuíram de forma determinante para a queda na produção científica na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e na Universidade Federal de Pelotas (UFPel). A diminuição foi registrada por um relatório da Elsevier-Bori, intitulado “2022: um ano de queda na produção científica para 23 países, inclusive o Brasil”. O estudo mostra que a produção científica mundial cresceu 6,1% em relação ao ano anterior, mas 23 países tiveram queda no número de artigos científicos publicados.
Jefferson Cardia Simões, vice-pró-reitor de Pesquisa da UFRGS, afirma que essa redução está atrelada a diversos fatores e que isso está sendo observado em todas as instituições. A primeira causa relatada por ele foi o efeito da pandemia.
O professor conta que as atividades distanciadas, as restrições de trabalhos em laboratórios e de pesquisas de campos afetaram a produção científica e que essa interrupção vai repercutir por dois ou três anos. O tempo para a preparação de um artigo pode levar de dois a cinco anos, em média, então esse decréscimo é natural, diz. Soma-se a isso a falta de financiamento nos últimos quatro anos.
— Os motivos que envolvem essa queda são complexos, pois envolveu uma questão de saúde, política e de financiamento da ciência e tecnologia. Agora, aos poucos nós vamos retomando.
O pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação da UFPel, Flavio Fernando Demarco, diz que essa redução da produtividade nas universidades possui diversos motivos e era esperada. Flavio, que também é coordenador do Colégio de Pró-Reitores de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação das Universidades Federais, relata que a tendência é inclusive aumentar, pois ao longo dos últimos anos, houve uma redução do aporte de recursos em ciência. Segundo ele, o valor de 2022 foi igual ao valor de 2002, ou seja, em 20 anos, houve um aumento no sistema de pós-graduação e pesquisa, mas os valores permaneceram os mesmos.
O pró-reitor destaca também os efeitos da pandemia neste cenário de queda. Neste período as universidades ficaram fechadas, com aulas remotas e a maioria dos laboratórios foram fechados por um bom tempo. A questão orçamentária também foi argumentada pelo coordenador, Demarco afirma que desde 2014 não houve aumento das bolsas de pesquisas nas áreas de mestrado, doutorado e pós-doutorado. Assim, essas áreas passaram a não ser tão atrativas e os estudantes começaram a sair do trabalho de pesquisa em busca de outras formas de sustento.
Jefferson relatou que os questionamentos sobre a validade da educação e da ciência que ocorreram nos últimos anos, afetou a motivação dos pesquisadores.
— Não podemos negar o impacto que teve um governo que negava a educação e a ciência— diz o representante da UFRGS
Flavio conta que o governo atual reajustou as bolsas e isso motiva os pesquisadores e faz com que as pessoas queiram se envolver com a ciência. Ele aponta que esse impacto já está sendo notado em relação à procura pelos programas de pós-graduação.
Além disso, há uma sinalização do governo de que não haverá congelamento de recursos para o financiamento das pesquisas. E ao longo dos próximos três anos a estimativa é de ter um aporte de R$ 12 bilhões de investimento na infraestrutura de projetos estratégicos e isso vai impactar de maneira significativa, conta o pró-reitor de pesquisa da UFPel.
—Essa retomada significa que estão aparecendo novamente os editais CNPQ, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) está anunciando novos investimentos principalmente para infraestrutura, pois nesse período os laboratórios foram sucateados. E isso vai demorar, pois tudo que foi destruído nos últimos quatro anos, vai levar um tempo para ser retomado— relata o vice-pró-reitor da UFRGS.
Simões aposta que o antigo patamar da produção científica deverá ser retomado entre 2025 e 2026.
— O dinheiro para o financiamento de projetos deve acontecer no final deste ano e início de 2024. Vai levar cerca de um ano e meio para os artigos científicos voltarem ao patamar anterior.
UFSM
A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) é a única do país que não sofreu redução na produção científica em 2022 na comparação com 2021 segundo o relatório. De acordo com as pró-reitorias e a secretaria da universidade, o resultado, apesar de ser motivo de comemoração, não surpreende, já que, conforme dados do SciVal-Elsevier (plataforma que permite a visualização do desempenho das instituições de pesquisa), a universidade vem crescendo e mantendo seus índices bibliométricos ao longo dos últimos 10 anos.
Na universidade, o destaque é visto dentro de uma tendência de crescimento e estabilidade, com a manutenção da produção acadêmica na faixa de duas mil publicações indexadas por ano e também na qualidade das publicações que vem aumentando. Além disso, a instituição ressalta dois pontos importantes. O primeiro é o esforço para a captação de recursos, principalmente via fomento público, para qualificar as infraestruturas de pesquisa em diversas áreas do conhecimento.
Outro ponto é o aporte de recursos próprios da UFSM, por meio de editais; incentivo a publicações; auxílio a projetos de pesquisa vinculados a docentes recém doutores e doutores experientes; e bolsas de iniciação científica que oportunizam a integração de alunos de graduação em pesquisa de excelência nos Programas de Pós-Graduação (PPG).
As políticas de acompanhamento, monitoramento e incentivo à qualificação do sistema de pós-graduação da UFSM, que resultaram no crescimento dos conceitos dos PPGs, as ações de internacionalização na Instituição e a manutenção das atividades durante a pandemia, também foram considerados como fatores responsáveis pelo bom desempenho.