Com diálogo e transparência, os novos reitores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) planejam conduzir a gestão compartilhada pelos próximos quatro anos. Pertencente ao mesmo grupo do ex-reitor Pedro Hallal, a nova administração quer ampliar os feitos que a instituição teve nos últimos anos, agora com um modelo inédito de gestão.
Isabela Andrade e Paulo Ferreira Júnior esperam ter sucesso ao comandarem juntos a universidade. Isabela foi nomeada oficialmente para o cargo e irá assinar as decisões que serão escolhidas e discutidas com Paulo. O novo modelo foi criado após o presidente Jair Bolsonaro não seguir a tradição de nomear o primeiro colocado de uma lista tríplice, vencedor da consulta acadêmica realizada pela universidade.
– É um modelo simples e que já estamos acostumados de trabalhar em conjunto. Participaremos do dia juntos, tomaremos as decisões juntos e temos a clareza de que temos um norte de gestão que será colocado em prática – afirmou o reitor eleito Paulo Ferreira Júnior.
Os novos reitores se baseiam em um plano de metas constituído através de discussões feitas com a comunidade acadêmica e pensadas para o futuro da universidade. São 136 ações previstas para os próximos anos com demandas de pequeno, médio e longo prazo. As metas variam entre ampliação em programas de pesquisa, reformas em prédios, modificações em estruturas pedagógicas e ampliação de benefícios para alunos.
– Dialogando, a gente espera conseguir concluir essas 136 metas que fazem parte do nosso plano de gestão e que foram escolhidas por uma grande maioria da universidade – diz Isabela.
As ações de enfrentamento ao coronavírus também prometem ter prioridade na nova gestão. A instituição foi responsável pela pesquisa mais importante do país sobre a prevalência do vírus em território nacional. A expectativa é de seguir com o estudo coordenado pelo ex-reitor Pedro Hallal e que serviu como base para diversos governos estaduais e municipais do Brasil.
– Trabalhamos muito duro desde o começo da pandemia e a pesquisa que lideramos irá continuar. O estudo foi muito importante para a tomada de decisões e ganhou uma importância nacional, iremos seguir com mais energia – diz Paulo.
O retorno das aulas em modelo presencial já é planejado na instituição. Atualmente com 20 mil alunos, a UFPel adota um calendário emergencial com atividades a distância para manter o vínculo de alunos com a universidade. A expectativa é de retorno em maio ou junho, mas tudo irá depender do andamento da pandemia até lá. O ingresso de novos alunos através do Sisu também promete ser uma das primeiras batalhas para a dupla de reitores.
Quem são os novos reitores
Casados com professores e também filhos de professores, os dois novos reitores da UFPel possuem características diferentes, mas que muitas vezes se complementam. Isabela Andrade é considerada por amigos e colegas determinada e esforçada. Paulo Ferreira Junior tem um perfil calmo, sereno, mas ao mesmo tempo batalhador. Os dois enfrentarão juntos o desafio de administrar uma das maiores universidades do Estado em um modelo inédito de gestão.
Classificada pelo marido como "mãe dedicada, praticante de tênis e torcedora do Pelotas", Isabela Andrade surgiu nos últimos anos como uma importante liderança acadêmica na UFPel. Ela foi responsável por dirigir o Centro de Engenharias, um dos mais importantes da instituição. Em 2020, aceitou o convite do grupo "UFPel Diversa" para integrar a chapa que concorreria à reitoria.
Isabela sempre sonhou em ser professora. Natural de Pelotas, filha de um casal de professores, teve uma infância movida pela educação e descobriu na arquitetura o seu dom. Além da profissão, foi cursando arquitetura na Universidade Católica de Pelotas (UCPel) que ela conheceu o marido, Douglas Brombila, com quem teve uma filha.
E foi junto da família que Isabela recebeu uma notícia que mudaria a sua vida, a da nomeação para a reitoria da universidade. Presente na lista tríplice por ter feito parte da chapa e ter recebido seis votos no Conselho Universitário, Isabela não esperava ser reitora neste momento. A decisão de Bolsonaro surpreendeu a todos e foi um banho de água fria para planos pessoais e profissionais de Isabela.
– Foi uma grande surpresa para nós, passamos uma noite totalmente em claro. Eu tinha em mente que o Paulo iria assumir e nem imaginávamos que fosse acontecer algo diferente - afirma o marido de Isabela.
Poucas horas depois de ser nomeada, Isabela sofreu ataques de dezenas de pessoas. Foram ofensas machistas, ameaças e até acusações de que ela teria feito acordo com o governo federal para assumir o cargo. Ela se manteve reclusa, foi blindada pelo ex-reitor Pedro Hallal e pelo reitor eleito Paulo Ferreira Júnior, e se manteve calma e disposta em pensar em uma solução para o grupo universitário.
– Um dos piores dias da minha vida, não desejo a ninguém o que eu tenho passado por ter colocado o meu nome à disposição na lista tríplice. Em poucas horas, tive toda a minha carreira colocada em xeque - desabou a reitora em discurso emocionado para a comunidade acadêmica nesta quinta-feira (7).
Do outro lado, Paulo Ferreira também foi pego de surpresa com a decisão. Mais ambientado com o jogo político por já ter sido chefe de gabinete de Pedro Hallal, ele se manteve calmo e pensativo. Ferreira é formado em informática, está acostumado com o trabalho minucioso de desenvolver softwares, e chegou a se arriscar no mundo dos negócios. Ser professor, que era para ser uma experiência, se transformou em sua paixão.
Após passar por diversas instituições privadas, Paulo ingressou na UFPel em 2009. Na universidade, conheceu a atual esposa, a também professora Lisane. Eles têm um filho de três anos – o terceiro de Paulo, que também tem um filho de 20 anos e uma filha de 13.
Segundo a esposa, Paulo tenta sempre achar tempo nas obrigações de trabalho para a família. Além disso, é apaixonado por esportes, praticante de basquete, que costuma jogar semanalmente com ex-alunos e com o filho mais velho.
– O Paulo teve uma serenidade e uma tranquilidade que eu não sei se eu teria. Está sendo bem complicado para a gente, eu tento blindar a família e deixar ele tranquilo para fazer as reuniões e trabalhar - afirma a esposa.
O fato de a UFPel ter a partir de agora dois reitores confundiu o filho mais novo de Paulo:
– Ué, o pai não é mais reitor? - perguntou o menino após assistir pela televisão a notícia.
O modelo de cogestão será um desafio muito grande para os dois gestores. Pelo ineditismo da situação, gera dúvidas e incertezas. Administrando e dividindo responsabilidades, Paulo e Isabela esperam ajudar um ao outro para garantirem juntos um futuro melhor para a UFPel.