No ano da pandemia de coronavírus e da adaptação forçada ao ensino a distância (EAD), a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) realiza, nesta quinta-feira (26), a consulta para definir a gestão 2021-2025 da Reitoria. Duas mulheres encabeçam as chapas concorrentes: Lucia Pellanda, atual reitora, e Miriam da Costa Oliveira, ocupante do cargo entre 2008 e 2017.
Por concentrar cursos nas áreas dos profissionais mais exigidos na linha de frente do atendimento a pacientes com covid-19, a UFCSPA, com mais de 5,5 mil estudantes, tem se mostrado cenário propício para embates entre membros da comunidade acadêmica. Em uma crise sanitária sem precedentes, com fortíssimo componente ideológico, divergem aqueles que defendem medidas preconizadas pelo governo federal e os que se opõem a elas.
Enquanto a instituição se destaca no campo da pesquisa e no apoio direto à população, aplicando testes e produzindo álcool gel e equipamentos de proteção individual (EPIs), existem, entre os professores, adeptos do chamado "tratamento precoce", exaltado pelo presidente Jair Bolsonaro e recomendado pelo Ministério da Saúde, apesar da falta de sólida comprovação científica quanto à eficácia das drogas alardeadas como eficazes contra o Sars-CoV-2.
Outra característica que acrescenta tensão ao pleito de 2020 é a possibilidade de Bolsonaro não escolher o nome mais votado por alunos, docentes e servidores quando receber a lista que será encaminhada pelo Conselho Universitário (Consun), como ocorreu em outras instituições, quebrando uma tradição bem estabelecida de respeito à autonomia acadêmica. Foi o caso da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em setembro, que teve o candidato menos votado, Carlos Bulhões, definido como vencedor, o que gerou ruidosa polêmica. Bulhões ficou em terceiro lugar na consulta e também entre os conselheiros. O presidente tem a prerrogativa legal de optar por qualquer uma das chapas que compõem a lista tríplice (neste ano, na UFCSPA, haverá um segundo período para inscrições de interessados, conforme quadro abaixo).
Quanto a essa peculiaridade de eventual nomeação do "perdedor", Lucia afirma esperar que seja respeitada a vontade expressa pela apuração. Já Miriam garante estar tranquila por acreditar que representa um número significativo de votantes.
Do mandato que se aproxima do término, Lucia destaca os desafios da pandemia, com o protagonismo assumido pela instituição contra a disseminação da doença — e equipando os alunos para o EAD —, a redução do índice de abandono graças a mudanças no sistema de matrículas e o manejo do repasse menor de verbas.
— Economizamos em obras. A reforma do salão nobre, orçada em R$ 3 milhões, foi executada por R$ 600 mil. Investimos o restante em pesquisa — exemplifica Lucia, 53 anos, médica e professora de Epidemiologia. — Nosso foco foram as pessoas, sabendo que teríamos poucos recursos — completa.
Para um eventual segundo termo, estão entre as prioridades concluir a construção do restaurante universitário, iniciar as obras da clínica que atenderá moradores do Centro e investimento em programas de extensão, engajando a população.
— Queremos ampliar as ações com as escolas para estimular as crianças a ter contato com a ciência — projeta Lucia.
Para Miriam, seus períodos anteriores à frente da UFCSPA marcaram a "transformação de uma faculdade isolada em uma universidade especializada na área da saúde".
— Quando assumi, tínhamos três cursos de graduação. Quando saí, tínhamos 16, os mesmos que existem até hoje. Na pós-graduação, evoluímos para 12 programas a partir dos três que existiam na minha entrada. Evoluímos em área física também — lista Miriam, 68 anos, médica endocrinologista e professora.
Se voltar a ocupar o posto máximo da instituição, Miriam pretende manter o padrão de qualidade já estabelecido e ir além naqueles pontos que demandarem ajustes ou permitirem avanços:
— Queremos crescer como universidade, nos aspectos acadêmicos e de área física, cuidar das pessoas, diminuir o retrabalho e avançar no uso do EAD.
A consulta
- Votação online nesta quinta-feira (26), com previsão de divulgação da apuração à noite.
- Os votos têm pesos diferentes na soma final: 70% para o voto dos docentes, 15% para o dos técnico-administrativos e 15% para o dos estudantes.
- O resultado será levado ao plenário do Conselho Universitário (Consun) para ser considerado na votação da lista tríplice.
- Desta vez, conforme decisão do Consun, será realizada nova inscrição de chapas e votação dos concorrentes.
- Ao final, os três candidatos mais votados terão seus nomes enviados para apreciação e escolha por parte do presidente da República.