O silêncio que costuma habitar os museus deu lugar a um burburinho de pequenos estudantes do terceiro ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Gabriel Obino, do bairro Teresópolis, na Capital, que visitaram a Fundação Iberê Camargo, no Cristal, nesta terça-feira (7). O passeio é fruto do projeto Iberê nas Escolas – ainda em fase piloto – , que estreita os laços com estudantes por meio de atividades artísticas realizadas no contraturno escolar. A ação conta com apoio da empresa Ouro e Prata, que faz o transporte das crianças.
A iniciativa foi lançada oficialmente em junho pela Secretaria Municipal da Educação (Smed), mas somente agora as seis instituições de ensino selecionadas começaram a ser chamadas para visitar a fundação, que recebe recursos mensais do município para promover essas ações. A proposta é que sejam desenvolvidas atividades que dialoguem com quatro eixos educacionais: letramento, numeramento, iniciação científica e educação sensível, mas que também sejam promovidas visitas ao espaço de arte. É o que explica o arte-educador Kaue Neri, 24 anos, representante da Fundação que atua dentro da escola Gabriel Obino.
— Procuramos incorporar o conteúdo visto em sala de aula como complemento às atividades artísticas, ao mesmo tempo em que queremos usar a arte como ponto de partida para que os alunos desenvolvam esse olhar mais sensível para o mundo, a autonomia e a criatividade — diz Neri.
Ele (o artista Iberê Camargo) deve estar bem emocionado com o que fizeram para ele. Olha o tamanho deste prédio. Fizeram tudo isso sem ele pedir. No lugar dele, eu ficaria bem feliz.
DALVARINA NETA
OITO ANOS
Sentados, formando um grande círculo no hall do museu, os pequenos, com idade entre oito e nove anos, escutavam o que era dito pelas duas mediadoras. Depois, em fila indiana, liderados pelas profissionais responsáveis pela interlocução, subiram a rampa de acesso ao segundo andar da fundação, enquanto faziam perguntas e apontavam suas impressões sobre a exposição Antes da Palavra, de Daniel Senise.
Enquanto a turma seguia o movimento das mediadoras, Otávio Borges, nove anos, afastou-se um pouco do grupo e exclamou:
— "Sora", sabe o que vi nesse quadro? Que ele é igual a esse prédio por dentro, tem até as mesmas cores, é todo branco — disse o menino de olhar atento.
Quando o grupo chegou ao terceiro andar e deparou com a exposição #Selfie, Iberê em Modo Retrato, do artista homônimo, Dalvarina Neta, oito anos, revelou que é viciada em tirar selfies:
'Sora', sabe o que vi nesse quadro? Que ele é igual a esse prédio por dentro, tem até as mesmas cores, é todo branco.
OTÁVIO BORGES
NOVE ANOS
— Eu não fico uma semana sem tirar fotos minhas com meus irmãos e enviar para minha dinda pelo celular da minha mãe — disse a menina que, em um pequeno devaneio sobre Iberê Camargo, mostrou-se impactada com a grandiosidade do museu:
— Ele deve estar bem emocionado com o que fizeram para ele. Olha o tamanho deste prédio. Fizeram tudo isso sem ele pedir. No lugar dele, eu ficaria bem feliz.
Mãos à obra
Após passear pelos três pavimentos do museu, foi chegada a hora da oficina. Enquanto eram separados em duplas para a tarefa de fazer o retrato do colega sentado à frente, a expansiva Manoela dos Santos, oito anos, contou que já fez obras parecidas com as de Iberê Camargo em atividade com o professor Kaue, mas que também tem seu trabalho autoral:
— Na escola, usamos amarelo, preto, azul e pintamos o fundo de folhas de papel com as mesmas cores que ele (Iberê) usava. Mas, quando estou em casa, gosto de fazer arte abstrata. Gosto de pegar um lápis de escrever e fazer umas linhas e no meu caderno.
O secretário municipal de Educação, Adriano de Brito, explica que Porto Alegre conta com outras 21 experiências nesses moldes, que são resultado de parcerias com ONGs, e que a expectativa é de que este tipo de serviço seja ampliado. Atualmente, aproximadamente, 7,5 mil crianças são atendidas no turno inverso ao da escola, e mais vagas deverão ser ofertadas para o ano que vem.
Na escola, usamos amarelo, preto, azul e pintamos o fundo de folhas de papel com as mesmas cores que ele (Iberê) usava. Mas, quando estou em casa, gosto de fazer arte abstrata.
MANOELA DOS SANTOS
Oito anos
— Queremos abrir a oferta de mais três mil vagas, com foco na diversidade de opções de atividades para os colégios. Por isso, faremos um chamamento a nível nacional, agora, no final do ano. Queremos entidades qualificadas no setor da educação prestando serviço de turno integral — explica.