O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes negou nesta quinta-feira (26) que tenha se reunido com o senador Delcídio do Amaral, preso ontem pela Polícia Federal para tratar sobre assuntos relacionados à operação Lava Jato. Em conversas gravadas pelo filho de Nestor Cerveró e que embasaram o pedido de prisão formulado pela PGR, Delcídio disse que era preciso “centrar fogo no STF”, sugerindo conversas para convencer ministros a beneficiar o ex-diretor da Petrobras.
“Nunca (me encontrei), até disse isso ontem ao me manifestar no meu voto. Jamais fui procurado. Falava-se que seria procurado por Renan (Calheiros) ou pelo vice-presidente Michel Temer. Eu não fiz nenhum contato”, reafirmou, em entrevista ao Gaúcha Atualidade.
Mendes explicou que é "comum" ministros receberem políticos e advogados das partes de um processo, mas ressaltou que é preciso respeitar limites nessas abordagens.
“Nós todos temos contatos aqui em Brasília com os políticos que tenham uma posição de destaque. É natural que tenhamos uma relação de cordialidade, mas todos sabem os seus limites”, afirmou.
Gilmar Mendes também explicou questões técnicas relacionadas à prisão do senador Delcídio Amaral. De acordo com o ministro, a prisão configurou-se como flagrante por se tratar de uma prática continuada de crime, no caso a obstrução das investigações do esquema de corrupção na Petrobras.
“A questão aqui é técnica. O senador pode ter passado a integrar uma organização criminosa, como se fosse uma quadrilha, um grupo destinado a cometer crimes. Nessa condição, estaria em crime permanente. Por isso, se admitiu a ideia de flagrante”, justificou.
O ministro lembrou ainda que a conduta do senador Delcídio Amaral refletiu “fatos extremamente graves”.
“Estamos lidando com fatos extremamente graves, inclusive ligados à obstrução da Justiça”, disse, referindo-se à tentativa de Delcídio Amaral de atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato.
Eduardo Cunha
Questionado sobre os motivos que levaram à prisão do senador Delcídio e a "não prisão" do presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, Gilmar Mendes lembrou que não há "flagrante", nem caso de "obstrução" às investigações, no que se refere ao deputado.
Mendes projetou para o início do ano que vem, decisão do STF a respeito da denúncia protocolada contra Cunha pela Procuradoria Geral da República.
"Me parece que houve um aditamento da denúncia [em outubro], o que envolve a reabertura de prazo para a defesa do deputado. A decisão [do STF] muito provavelmente deverá sair no inicio do ano que vem", explicou.