Observações feitas sob a liderança de um cientista brasileiro desembocaram na inesperada descoberta de que o asteroide Chariklo é orbitado por dois anéis densos e estreitos - apelidados Oiapoque e Chuí. Esse é, de longe, o menor objeto celeste identificado com essa característica, sendo apenas o quinto no Sistema Solar a ser rodeado por anéis.
A origem dos anéis permanece misteriosa, mas pode ser explicada por uma colisão que teria criado um disco de detritos. Os resultados foram publicados nesta quarta-feira na revista científica Nature.
Os anéis de Saturno estão entre as mais espetaculares vistas oferecidas pelo cosmos, e anéis menos proeminentes foram encontrados em outros gigantes gasosos. Apesar do grande esforço, a busca por anéis em objetos menores do Sistema Solar - que pode oferecer pistas sobre a formação da nossa vizinhança no Universo - vinha se provando infrutífera. A mudança de cenário ocorreu quando a equipe do Observatório Nacional, no Rio de Janeiro, espiou o Chariklo passando diante de uma estrela.
- Não estávamos procurando por um anel nem pensamos que corpos pequenos como o Chariklo teriam um, então a descoberta (e a incrível quantidade de detalhes que vimos no sistema) veio como uma completa surpresa - disse Felipe Braga-Ribas ao Observatório Europeu do Sul.
Chariklo, o maior membro da categoria de asteroides "centauros", orbita o Sol entre Saturno e Urano. Previsões indicavam que ele passaria em frente à estrela UCAC4 248-108672 em 3 de junho de 2013, conforme o ponto de vista na América do Sul. Astrônomos com telescópios em sete locais diferentes conseguiram observar a estrela "desaparecer" por alguns segundos durante a ocultação pelo Chariklo.
Segundos antes e depois, entretanto, houve dois pequenos declives no brilho aparente da estrela. Ao comparar as diferentes constatações, o time conseguiu reconstruir não apenas o formato e o tamanho do objeto, mas também a sua largura, orientação e outras propriedades.
O sistema contém um par de anéis, um com 7 km, outro com 3 km de largura, separados por uma lacuna de 9 km. Já o Chariklo tem 250 km de diâmetro.
- Tento imaginar como seria ficar de pé na superfície desse objeto de gelo (tão pequeno que um carro esportivo poderia atingir velocidade de escape e dirigir para o espaço afora) e olhar para um largo sistema de anéis de 20 km, mil vezes mais próximo que a Lua - reflete o pesquisador dinamarquês Uffe Gråe Jørgensen, da Universidade de Copenhagen, também em entrevista ao OES.
- É provável que o Chariklo tenha pelo menos uma pequena lua esperando para ser descoberta - acrescentou Braga-Ribas.
Os anéis podem acabar se provando um fenômeno que, mais tarde, leva à formação de uma pequena lua.