Após a retomada das atividades nas escolas, chegou a vez dos estudantes de graduação voltarem às salas de aula. Na próxima segunda-feira (26), começa o ano letivo de 2024 em boa parte das Instituições de Ensino Superior particulares do Rio Grande do Sul. Entre os desafios de promover currículos mais abrangentes e de qualificar a Educação a Distância, além de novas áreas em crescimento, as universidades se preparam para receber os alunos.
Entre as instituições consultadas pela reportagem de GZH, os cursos que concentram o maior número de ingressantes são de três segmentos: Direito, Saúde e Tecnologia. É o caso da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), por exemplo. Neste ano, os cursos de Medicina, Direito, Psicologia e Ciência da Computação foram os mais concorridos. Com exceção da Medicina, os demais foram os mesmo com maior número de ingressantes no ano passado. Atualmente, a instituição conta com cerca de 20 mil alunos.
O cenário se repete na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), que conta com mais de 6 mil alunos de graduação, e na Universidade Feevale, de Novo Hamburgo, onde os cerca de 10 mil matriculados já iniciaram o ano letivo na segunda-feira (19).
Crescimento na área de tecnologia
O aumento na busca por cursos de graduação na área de Tecnologia da Informação (TI), que vinham registrando números inferiores, difere da situação dos cursos na área da saúde e direito, que tradicionalmente são procurados. Até 2021, não havia cursos ligados a esse segmento entre os 10 mais procurados no RS, de acordo o Mapa do Ensino Superior no Brasil, divulgado em 2023 pelo do Instituto de Pesquisa do Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp). Essa tendência deve se intensificar nos próximos anos, segundo o diretor executivo do Semesp, o economista Rodrigo Capelato.
— Com a explosão de cursos livres e online, muitos profissionais foram atrás de cursos de TI nessas modalidades, para ingressar rapidamente no mercado de trabalho. Pela primeira vez, tivemos uma área que emprega muito, mas na qual as faculdades não conseguiam aumentar as matrículas. Agora, as empresas perceberam que os profissionais precisam chegar com as soft skills, como habilidades de gestão, liderança. Competências que só uma formação integral fornece. Apostamos que essas graduações vão crescer nos próximos anos.
O mesmo movimento tem sido observado na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Um dos cursos que mais cresceu no último ano é Ciência da Computação. No ano passado, a instituição abriu novos cursos, incluindo Ciências de Dados e Inteligência Artificial, por exemplo, com o intuito de abrir caminhos nessa área.
— Além dos cursos de graduação, temos o Tecnopuc, que favorece a pesquisa, aulas práticas, e também a empregabilidade dos nossos alunos, com as mais de 200 empresas e startups do nosso parque tecnológico — afirma o vice-reitor da PUCRS, Manuir José Mentges.
EAD segue em alta
Orientadas pelas mudanças impostas pela pandemia de covid-19, as universidades da rede privada seguem apostando em cursos nas modalidades remota e híbrida. Na Universidade do Vale do Taquari (Univates), por exemplo, 54,7% dos alunos estão matriculados em cursos no formato Educação a Distância (EAD), embora haja maior oferta no presencial. São 40 cursos presenciais e 19 EAD.
No total, 3,5 mil estudantes estão matriculados na instituição. Em 2023, o curso EAD com maior número de ingressantes foi Análise e Desenvolvimento de Sistemas. No caso das graduações presenciais, as mais procuradas foram Medicina, Engenharia de Software e Direito.
Já a Universidade Passo Fundo (UPF) está ampliando a oferta de cursos na modalidade híbrida. A partir do vestibular de verão entraram oito novos cursos – Automação Industrial, Design de Interiores, Energias Renováveis, Gestão Ambiental, Gestão da Qualidade, Engenharia Biomédica, Gestão de Recursos Humanos e Alimentos. Na instituição, as aulas foram retomadas na terça-feira (20).
Segundo o Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas (Comung), todas as 14 instituições que integram a rede ofertam cursos EAD. Conforme o presidente da entidade, Rafael Henn, que é reitor da Unisc, o grande desafio em relação ao EAD é o controle da qualidade dos cursos, especialmente com os de formação de professores.
— Na nossa região, em Santa Cruz, havia cinco instituições de Ensino Superior em 2014. Hoje, são 36. Se você perguntar para as pessoas, elas não sabem onde estão essas faculdades, são polos EAD sem nenhum tipo de estrutura e controle. No caso dos cursos de Pedagogia e Licenciaturas, é algo inaceitável a formação sem ter prática. É ruim para os alunos, que ingressam com o sonho de concluir um curso de qualidade, e para quem contrata, porque a pessoa se forma sem ter a qualificação necessária para a profissão, muitas vezes — destaca.
Em 2022, houve queda de 9,2% nas matrículas em cursos presenciais no RS, e aumento de 13,2% nas matrículas em EAD, segundo o Censo da Educação Superior, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Dados de 2021 do Instituto Semesp apontavam que a rede privada do RS concentrava 97,6% das matrículas EAD.
Mudanças curriculares
De acordo com Capelato, a revisão constante dos currículos também é uma tendência no Ensino Superior privado, buscando garantir uma formação mais integral dos estudantes. As instituições têm promovido mudanças para aproximar os alunos do mercado de trabalho, bem como trabalhar competências comportamentais, e não só nas habilidades técnicas.
— É para ontem a necessidade de as instituições repensarem seus currículos. Não dá mais para oferecer uma trajetória estanque e conteudista, com muita carga teórica. Por mais que o aluno entre em um curso de Administração, por exemplo, ele precisa ter opções. Ele pode ir para a área de Marketing, Recursos Humanos, Finanças. As universidades precisam ouvir as empresas para compreender as demandas do mercado — explica.
Esse movimento tem acontecido na UniRitter, que já retomou as aulas segunda (19). Segundo a diretora da instituição, Rachel Ballardin, as unidades curriculares fazem parte dessa mudança. Trata-se de modelo adotado em 2022, que busca conectar os alunos ao mercado, com parte das aulas ministradas no ambiente corporativo. O estudante tem a oportunidade de criar projetos dentro de organizações e indústrias, que podem tornar-se soluções concretas.
— Temos diversos parceiros, alguns locais e outros nacionais. Nós acionamos a empresa no começo do semestre, com base nas temáticas desenvolvidas naquela determinada disciplina, e elaboramos um desafio para os alunos. Não é obrigatório, mas os estudantes que optarem por esse formato deverão construir um projeto ao longo do semestre, desenvolvendo competências fundamentais para atuar na profissão — afirma a diretora da instituição, que pertence ao grupo Ânima Educação.
Processo semelhante aconteceu na Unisinos, segundo o Pró-Reitor Acadêmico e de Relações Internacionais, Guilherme Trez. A instituição adotou currículos mais transversais em todos os cursos, para que os estudantes possam ter flexibilidade na formação.
— Todos os currículos foram atualizados. Estamos incorporando essa visão dentro de cada área do conhecimento, para que os alunos possam viver o mercado de trabalho ao longo da trajetória acadêmica. Estamos ofertando mais atividades práticas dentro de empresas, por exemplo, para complementar a formação — diz Guilherme.