Por mais que os adolescentes gostem e utilizem o celular com frequência na escola, eliminar o aparelho do ambiente escolar será positivo para a aprendizagem – é o que pensam estudantes e pais consultados por Zero Hora. No momento, os jovens se preparam para uma rotina menos conectada nas instituições de ensino, com a recente aprovação da lei que restringe o uso do celular em escolas.
— Hoje a gente se perde no meio das redes sociais. É uma forma de atrair nossa atenção muito facilmente. Rouba nossa atenção e a gente nem percebe — relata o aluno Frederico Rivero, 17 anos, do Colégio Monteiro Lobato, em Porto Alegre.
Pela legislação, o uso dos dispositivos eletrônicos passa a ser limitado no ambiente escolar, inclusive nos intervalos e no recreio. O uso passa a ser exclusivamente pedagógico, ou para fins de inclusão e acessibilidade. Apesar de acharem desafiador esse distanciamento do celular, adolescentes ouvidos pela reportagem avaliam que a medida é importante.
— No começo, as pessoas não gostaram muito da lei, em geral. Mas, no fundo, acho que todo mundo sabe que vai ser melhor para a gente. Muita gente não consegue reconhecer quanto o celular atrapalha — diz a aluna Sofia Virti Coutinho, 15 anos.
A estudante do Colégio João XXIII, também na Capital, que vai começar o 2º ano do Ensino Médio, já está se acostumando a não usar o dispositivo em sala de aula, uma vez que existem restrições na escola desde 2024. Agora, a instituição de ensino constrói novas diretrizes com base na nova lei. Com isso, deve ser limitado o uso do aparelho também nos intervalos.
— No recreio é liberado, durante a aula não pode. Mas as pessoas dão uma olhadinha ou outra. Eu costumo deixar na mochila, porque se fica embaixo da mesa eu fico olhando as notificações, me distrai. Mas no recreio, muitas vezes mesmo estando em grupo, fica cada um no seu celular, sem interagir.
Segundo o pai de Sofia, Rodrigo Coutinho, a família percebe que as mudanças já estão surtindo efeito.
— Percebemos nas conversas com ela, e também em reuniões na escola, que a turma está muito mais interessada nas aulas, estão bem mais participativos, melhorou muito — afirma.
Adaptação e resultados
Para Manuela da Silva de Aguiar, 14 anos, que estuda na Escola Estadual de Ensino Médio Arthur da Costa e Silva, em Capivari do Sul, foi difícil no começo, mas ela está se acostumando a deixar de lado o celular nas aulas.
— No início foi desafiador, até porque estamos acostumados a mexer o celular direto, principalmente nas férias. Mas, com o tempo, fomos nos acostumando com essa ideia. Até porque isso só ajuda na nossa dedicação, promove a criatividade e principalmente a concentração nas aulas — argumenta a aluna, que vai começar o 9º ano do Ensino Fundamental.
No colégio do Litoral Norte também há regras para evitar o uso do aparelho durante as aulas. Um fator que ajudou na adaptação a essa nova realidade foi o diálogo em casa, com os pais. Segundo a mãe de Manuela, Raquel da Silva, a família busca tratar sobre o assunto com frequência:
— A gente procura limitar um pouco o uso em determinados horários, para que a gente possa dar mais atenção aos momentos em que nós estamos juntos em família. Vejo que essa geração está ficando muito no mundo virtual, e acabam deixando de usufruir momentos importantes, inclusive na convivência com outras pessoas.
Para Frederico, a própria escola vem auxiliando nessa adaptação. Desde 2024, o Colégio Monteiro Lobato conduz o projeto Reconecta, que busca melhorar a relação das crianças e jovens com o celular, sobretudo com as redes sociais, abordando temas como cyberbullying e saúde mental.
— O projeto nos fez perceber o quanto o celular faz parte das nossas vidas. Eu pegava o celular e nem percebia. Isso quebra o ritmo da aula. Eu gosto muito de ouvir música, ficava de fone de ouvido a aula inteira. Então, tirar o celular realmente me ajudou, fez toda a diferença — conta o aluno, que vai iniciar o 3º ano do Ensino Médio.
Conforme o aluno, que faz parte do Grêmio Estudantil e participou da construção do Reconecta, as atividades oferecidas nos intervalos ajudam para sentir menos falta do aparelho. Apresentações musicais, esportes, jogos e oficinas vêm contribuindo nesse período de adaptação.