Desde o ano passado, uma nova metodologia passou a fazer parte da rotina de várias escolas e profissionais da educação no Rio Grande do Sul – o Data Wise, estratégia desenvolvida por pesquisadores de Harvard que prega a educação baseada em evidências. Trata-se de um passo a passo para redes de ensino e educadores desenvolverem pesquisas colaborativas, aprendizagem ativa e diversas fontes de dados para aperfeiçoar o ensino e os resultados dos alunos em sala de aula.
Além disso, é um instrumento capaz de potencializar o desempenho das escolas nas avaliações educacionais externas, como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), cujas provas já estão sendo aplicadas em todo o Brasil, e o Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Rio Grande do Sul (Saers), que tem aplicação de provas prevista para o final de novembro.
Em Encantado (RS), entre fevereiro de 2022 e agosto de 2023, as cinco escolas de Ensino Fundamental da rede municipal passaram por um processo de formação para incorporar a metodologia baseada em evidências, impactando 1,2 mil alunos. O responsável pelo trabalho é o educador Rafael Korman, Doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul no Brasil (PUCRS) e CEO do Instituto DEEP Nexus.
Primeiro educador certificado na América Latina no projeto Data Wise, Korman foi convidado no começo do ano passado para uma parceria com a Secretaria de Educação e Cultura de Encantado, em um projeto que integra o Pacto Municipal pela Educação. Entre as ações previstas no compromisso, está a formação intensiva de docentes com foco na metodologia baseada em evidências. O trabalho também começou em Porto Alegre em 2022, com 50 escolas da rede municipal.
— Normalmente, os indicadores e avaliações educacionais são processos descolados da realidade da escola. Em muitos municípios, talvez nem se saiba direito o que são essas provas, como o Saeb. E não deveria ser assim, porque os resultados acabam não sendo avaliados na prática, para melhorar os resultados dos alunos. Temos que entender a origem desses dados e ir para a raiz dos problemas, não podemos permanecer em uma discussão vazia — explica Rafael.
O Data Wise é uma metodologia dividida em etapas, que busca chegar a um plano de ação próprio de cada instituição de ensino, com o objetivo de identificar lacunas, preenchê-las e gerar novos processos. De acordo com Rafael, é preciso incorporar nas escolas brasileiras uma cultura de se trabalhar com indicadores ao longo do ano, com a avaliação constante dos processos.
Reflexo em sala de aula
Segundo a secretária de Educação e Cultura de Encantado, Stéfanie Casagrande, cerca de 120 professores, coordenadores e gestores de escolas foram contemplados pela formação.
— Esse processo tem sido muito positivo. Estamos vendo um aumento na busca pelas escolas municipais, mais engajamento e melhor desempenho dos alunos em sala de aula. Quando nossos professores evoluem, o reflexo nos alunos é natural — destaca a pedagoga.
Através do método, identificamos pontos que comprometem a aprendizagem além dos muros da escola, como questões socioeconômicas e afetivas. A busca ativa e justificativas para infrequência passaram a ser exigidas, o que contribuiu para a permanência do aluno na escola.
JOSI MORETTO DA CONCEIÇÃO SILVA
Diretora da Emef Erico Verissimo
O projeto foi pausado em setembro, devido às enchentes que atingiram o Vale do Taquari, afetando o dia a dia nas escolas da região. As instituições ainda estão retomando algumas das atividades, por conta da destruição causada pela chuva. Ensino Fundamental (Emef) Mundo Encantado, Centro Municipal de Educação Encantado, Porto Quinze, Erico Verissimo e Batista Castoldi são as cinco escolas que participaram das atividades, sendo que todas já sentiram mudanças nos processos internos e na aprendizagem.
Na Emef Erico Verissimo, por exemplo, o Data Wise contribuiu para reduzir os índices de evasão escolar, aumentando o engajamento e interesse dos alunos pela escola. Pensando na nova metodologia, ao fazer um diagnóstico para identificar lacunas e pontos fracos, os docentes perceberam que a necessidade de complementar a renda familiar era um empecilho para estudantes dos anos finais. A escola fica em uma das regiões mais vulneráveis do município.
— Através do método, identificamos pontos que comprometem a aprendizagem além dos muros da escola, como questões socioeconômicas e afetivas. A busca ativa e justificativas para infrequência passaram a ser exigidas, o que contribuiu para a permanência do aluno na escola. Então, começamos a promover atividades no contraturno para preparar os estudantes para o mercado de trabalho e incentivar a participação no programa Jovem Aprendiz, por exemplo — explica a diretora, Josi Moretto da Conceição Silva.
Com a incorporação do Data Wise, os alunos do 1º ao 9º ano da Emef Batista Castoldi passaram a fazer simulados preparatórios para Saeb e Saers. Antes, eles tinham dificuldades básicas, até mesmo para preencher o gabarito, e sentiam angústia com a proximidade dos exames, o que atrapalhava o desempenho, segundo Alexandra Vargas Kipper, diretora da escola.
— Antes, as provas eram marcadas, os aplicadores vinham e os alunos faziam os exames. Os resultados não eram avaliados a fundo, apenas recebíamos as notas. Quando iniciamos a formação, era tudo muito novo. Nunca tínhamos analisado as evidências com esse olhar aprofundado. Tem sido muito positivo — relata a educadora.
Planos para Porto Alegre
Na Capital, foi iniciado o processo de formação com a metodologia baseada em evidências no ano passado, mas durou somente quatro meses. Agora, estão sendo realizadas ações pontuais. No mês passado, o projeto foi tema de uma oficina com 80 professores de escolas da rede municipal. O workshop aconteceu na Semana Caldeira, do Instituto Caldeira, que tem contribuído para multiplicar os debates sobre a metodologia Data Wise no RS.
Segundo Rafael Korman, que também liderou as atividades na Capital, o ideal seria retomar o projeto, que teve pouca adesão. Em nota, a Secretaria Municipal de Educação informa que o projeto foi pausado temporariamente e acrescenta detalhes sobre as atividades já realizadas.
Confira a nota da Secretaria da Educação de Porto Alegre
Uma parceria entre a SMED e o projeto Data Wise foi estabelecida a partir de agosto de 2022 para promover uma sensibilização em relação ao uso de dados de forma colaborativa com as lentes da equidade na cidade de Porto Alegre. A primeira formação foi realizada para educadores da secretaria em conjunto com todos os vice-diretores das 50 escolas de Ensino Fundamental da rede, para apresentar a essência da metodologia e acordar sobre a implementação do ano seguinte.
Em fevereiro de 2023 foi realizada uma oficina virtual de abertura para 3000 educadores da rede, seguido de 4 encontros mensais (março, abril, maio e junho) para um grupo de 4 educadores por escola. Ao longo do processo formativo, os educadores realizaram uma investigação sobre como fazer discussões colaborativas para transformar o ensino e a aprendizagem em seu contexto. No momento, o projeto está pausado, mas a avaliação no período vigente foi positiva.