A alta de 0,61%, em abril, no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado nesta sexta-feira (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), significa outra má notícia para o cenário de juros no país. De acordo com o economista-chefe da CDL-Porto Alegre, Oscar Frank, para acelerar um eventual novo ciclo de redução da taxa Selic, seria necessário outro tipo de comportamento da inflação. Mas não foi o que aconteceu no mês passado.
— Pelo menos em curto prazo, não entendo que isso possa gerar algum tipo de corte de juros — sustenta.
Frank lembra que existe, hoje, no Brasil, uma grande discussão sobre o tema. Isso tem se refletido na pressão de setores do governo federal que tentam exercer influência sobre o Banco Central (BC) para sensibilizar o colegiado da instituição — o Copom — a flexibilizar o atual patamar de 13,75% ao ano:
— Se não houver mudança no regime de metas inflacionárias, entendo que os juros só serão reduzidos no próximo ano. Por outro lado, se tiver alteração nas bandas ou na utilização do ano-calendário para gerar uma convergência da inflação no ano-calendário, poderíamos pensar em diminuição da Selic ainda em 2023.
A principal justificativa, explica, é que, além da comunidade das altas no IPCA, há uma piora dos aspectos “qualitativos”. Isso fica claro, segundo Frank, ao avaliar os preços mais sensíveis aos ciclos da economia, e que não estão tão expostos aos solavancos temporais, como uma estiagem, por exemplo.
Os núcleos de inflação cumprem esse papel e segregam os elementos mais voláteis. E, nesse aspecto, alerta o economista, houve uma aceleração em três meses, o que indica também a "deterioração qualitativa" do indicador em abril.
— Outro fator é que o chamado índice de difusão (que anota quantos dos 380 itens pesquisados pelo IBGE apresentaram crescimento de preço) percebe que as altas estão mais espraiadas na economia e isso é algo sempre levado em conta pelo BC — analisa.
"Condução rigorosa do BC"
Economista e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Mauro Rochlin acrescenta que o comportamento dos preços da economia no mês passado “decepciona”, sobretudo, no grupo de Alimentos e Bebidas, que após uma deflação em março voltou a puxar o índice.
O problema, argumenta ele, é que o BC parece “obcecado em convergir a inflação para a meta muito rapidamente e está preocupado em desancorar as expectativas para 2024”. Desse processo, analisa Rochlin, emerge o que ele considera como “uma condução extremamente rigorosa” da curva de juros:
— O núcleo da inflação, principalmente, no que diz respeito aos Serviços, ainda se encontra pressionado. É o que justifica a reticência do Banco Central em dar início a um novo ciclo de redução de juros. De toda maneira, insisto que trabalhamos, atualmente, com uma taxa extremamente elevada para a realidade que se apresenta.