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Na conclusão de semana mais curta e bem movimentada pelo feriado de 7 de Setembro, o Ibovespa chegou ao fim desta sexta-feira (10) na mínima da sessão, em baixa de 0,93%, aos 114.285 pontos, ainda assim de forma mais tranquila do que nas duas anteriores, em que a queda livre de 3,78% no pós-Independência, maior perda desde 8 de março, deu lugar no dia seguinte a recuperação parcial (+1,72%) construída em menos de 15 minutos, até a máxima, perto do fechamento.
Já o dólar à vista terminou cotado a R$ 5,2671, em alta de 0,76%. Com isso, a moeda americana encerrou a semana com valorização de 1,59%.
No intervalo de quatro sessões, o índice da B3, a bolsa de valores brasileira, acumulou perda de 2,26%, um pouco mais acomodada do que a colhida na semana anterior, quando recuou 3,10%. O giro ficou em R$ 34,8 bilhões nesta sexta, vindo de R$ 39 bilhões e R$ 40,1 bilhões nas sessões precedentes. No mês, o Ibovespa acumula agora perda de 3,78%, cedendo 3,98% ao longo do ano.
O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que a carta pedindo harmonização entre os poderes, assinada pelo presidente Bolsonaro, abre espaço para que se retome diálogo respeitoso entre o Executivo e o Judiciário. Na mesma linha, o ministro da Economia, Paulo Guedes, aposta na pacificação e na continuidade das discussões de reformas.
— A iniciativa do presidente ontem (quinta-feira) colocou tudo de volta aos trilhos — disse Guedes em evento virtual do Credit Suisse.
Por quanto tempo a pacificação persistirá é uma dúvida que permanece em aberto. Ainda assim, apesar da alta no dólar e de queda do Ibovespa mais significativas ao longo da tarde, um como outro mostraram padrão relativamente acomodado nesta beirada de fim de semana, favorecidos, mais cedo na sessão, por leitura acima do esperado para as vendas do varejo em julho (+1,2%, na margem), divulgada pela manhã, bem como pela desmobilização dos caminhoneiros, ao longo do dia.
— Tivemos um dia negativo também no Exterior e a agenda política se estende ao fim de semana, com as manifestações do próximo domingo, dia 12. Então é natural a cautela dos investidores, a diminuição de posições em véspera de fim de semana. A volatilidade não acabou, é uma realidade que deve se estender à eleição do ano que vem, até que se tenha um quadro mais claro. A volatilidade veio para ficar — diz Mauro Morelli, estrategista-chefe da Davos Investimentos, mencionando também como fator de atenção importantes deliberações sobre política monetária, aqui e nos Estados Unidos, nas reuniões de 21 e 22 de setembro, que se aproximam.
No Exterior, o dia ficou dividido entre fatores positivos, com a conversa telefônica entre os presidentes Joe Biden, dos Estados Unidos, e Xi Jinping, da China, "para evitar que a rivalidade comercial e tecnológica entre os dois países se torne um conflito", e desdobramentos negativos, como as preocupações em torno da desaceleração da economia, em razão da variante Delta e de indefinições quanto à retirada de estímulos e a condução da política monetária nos EUA, observa em nota a equipe de análise da Terra Investimentos.
Dólar
A cautela com a cena política local voltou a dar as cartas no mercado de câmbio doméstico ao longo da tarde desta sexta-feira, com investidores ponderando os efeitos e a duração do aceno de paz de Bolsonaro ao STF.
O dólar até abriu a sessão em queda e desceu rapidamente à mínima de R$ 5,1699 (-1,10%), esboçando dar continuidade ao mergulho na reta final do pregão de quinta, quando recuou 1,86%. Logo em seguida, porém, o movimento vendedor perdeu força, dando lugar a operações de realização de lucros e recomposição de posições defensivas, o que pôs o dólar em terreno positivo já no fim da manhã.
A pá de cal nas esperanças de uma de apreciação do real veio no início da tarde, na esteira de fala do próprio Bolsonaro relativizando o tom das declarações da "carta à Nação". Em conversa com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, o presidente disse que a manifestação do dia 7 de Setembro, quando atacou duramente o ministro do STF Alexandre de Moraes, "não foi em vão". Mais cedo, o presidente, ao tentar explicar a apoiadores seu recuo em relação às criticas ao Supremo, disse que não pode "falar para cima" porque o dólar dispara, o que resulta em aumento dos preços dos combustíveis.
Segundo operadores, o ziguezague na comunicação presidencial deixou o mercado com o pé atrás e estimulou a busca por proteção na véspera do fim de semana (em que estão previstas manifestações contra Bolsonaro), empurrando o dólar para cima.
Na reta final dos negócios, a moeda americana registrou novas máximas, correndo até R$ 5,2711 (+0,84%), em meio ao mau humor externo, com aprofundamento das perdas nas bolsa de Nova York, o que contaminou o Ibovespa, e novas máximas do índice DXY — que mede o desempenho do dólar frente a seis moedas fortes. A moeda americana também ganhou certo fôlego em relação a divisas emergentes, diminuindo as perdas frente ao rand sul-africano e o peso mexicano, considerados pares do real.
No fim do dia, o dólar à vista terminou cotado a R$ 5,2671, em alta de 0,76%. Com isso, a moeda americana encerrou a semana com valorização de 1,59%. No acumulado do mês, o dólar sobe 1,84%.
Na avaliação da economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, a manifestação de Bolsonaro foi positiva, ainda mais por contar com o auxílio de Temer, visto como um hábil articulador político, mas ainda não assegura uma mudança definitiva na postura do presidente.
— Não se sabe como vai ser daqui para frente. É natural os investidores adotarem uma postura mais de cautela quando chega o fim de semana — afirma Abdelmalack, ressaltando que, com as dúvidas ainda sobre o orçamento de 2022 e todos os ruídos políticos, o que impede uma depreciação maior da taxa de câmbio é processo de alta da taxa Selic.
Ainda há no mercado inquietações sobre como o governo vai compatibilizar o pagamento de precatórios e um reajuste do Bolsa Família, rebatizado de Auxílio Brasil, com o teto de gastos, considerado a âncora do regime fiscal brasileiro. Em evento promovido pelo banco Credit Suisse, o ministro da Economia disse hoje que vai se reunir com os presidente das duas Casas do Congresso e do STF para falar da questão dos precatórios que acredita em uma solução "respeitando o teto de gastos".
A economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, pondera que não se sabe quais serão os próximos passos de Bolsonaro e seus eventuais impactos "na evolução das reformas", em meio a um cenário de inflação elevada e de revisões para baixo do crescimento econômico.
— Isso gera cautela e aumenta a aversão ao risco para Brasil — diz Consorte, ressaltando que o tom da carta de Bolsonaro não é suficiente para a manutenção de uma tendência da taxa de câmbio.
Para Gustavo Gomiero, head da mesa câmbio e operações PJ da Wise Investimentos, o tom da carta de Bolsonaro acalmou um pouco o mercado, mas não é garantia de uma mudança de postura do presidente.
— Ele vai continuar falando o que pensa e isso vai provocar muita volatilidade na taxa de câmbio — afirma.
Gomiero ressalta, contudo, que os fundamentos macroeconômicos domésticos, o ambiente externo ainda favorável e o diferencial de juros apontam para um cenário de pressão de baixa para o dólar, o que levaria o real a acompanhar o desempenho das demais moedas emergentes.
— Até o fim do ano, se a crise política arrefecer e as pautas andarem no Congresso, os fundamentos podem jogar o dólar para baixo — diz.
No Exterior, as atenções se voltam para o início da redução da compra mensal de bônus (tapering) pelo Federal Reserve. A presidente da distrital de Cleveland do Fed, Loretta Mester, afirmou hoje que está muito confortável com início do "tapering" neste ano e conclusão até meados do ano que vem.