Prejudicado pela combinação entre pandemia e estiagem, o Rio Grande do Sul amargou, em 2020, saldo negativo no mercado de trabalho formal. No acumulado do ano passado, o Estado perdeu 20.220 empregos com carteira assinada. Trata-se do segundo pior desempenho do Brasil – o Rio de Janeiro encerrou 127.155 vínculos.
O saldo mede a diferença entre contratações e demissões. No caso gaúcho, as 20.220 vagas perdidas decorrem da comparação entre 972.201 admissões e 992.421 cortes.
Ao contrário do Estado, o país registrou saldo positivo, com criação de 142.690 postos. Divulgados nesta quinta-feira (28), os números integram o Caged, o cadastro de empregos formais do Ministério da Economia.
O desempenho gaúcho reflete, sobretudo, as perdas na fase inicial da covid-19. A estiagem, que não prejudicou o país, serviu para agravar a situação do Estado no primeiro semestre. Depois, na segunda metade do ano, o Rio Grande do Sul ensaiou reação. De julho a novembro, engatou cinco avanços consecutivos, recuperando parte dos prejuízos.
Em dezembro, voltou a fechar empregos. Foram 131 vínculos a menos, reflexo da diferença entre 83.278 contratações e 83.409 demissões. Analistas ponderam que o último mês do ano costuma ser negativo.
A perda de 131 postos é a menor para dezembro desde o início da série histórica, com dados a partir de 1992. No Brasil, houve fechamento de 67.906 postos no mesmo mês.
– Olhando os resultados pelo retrovisor, há o impacto da pandemia, que gerou uma dinâmica de abre e fecha de empresas. Além disso, a estiagem atingiu o setor primário e causou reflexos na economia gaúcha como um todo – explica o economista Fábio Pesavento, professor da ESPM em Porto Alegre.
Situação dos setores
O Caged traz ainda dados por setores econômicos. Dos cinco grandes segmentos pesquisados, três ficaram no azul no acumulado gaúcho. A indústria gerou 4.336 postos, o maior saldo positivo no ano. Depois, aparecem construção (973) e agropecuária (637).
O desempenho do trio, entretanto, não foi suficiente para compensar o prejuízo de serviços e comércio. Os dois segmentos são atingidos por restrições ao fluxo de consumidores na pandemia.
De janeiro a dezembro, o setor de serviços, considerado motor da economia, perdeu 21.746 empregos. Já o comércio encerrou 4.420 vínculos.
No ano passado, algumas atividades tradicionais da economia gaúcha sofreram bastante com a crise. É o caso da indústria calçadista, na qual o Estado é referência nacional, lembra o economista Marcos Lélis, professor da Unisinos.
De janeiro a dezembro, esse ramo perdeu 11.977 empregos. Como o Estado é mais dependente da atividade, tende a sentir impacto maior do que outras regiões em períodos de turbulência.
– No complexo de couro e calçados, houve casos de empresas que não conseguiram se manter na pandemia. O setor está bastante associado ao comércio, que teve restrições – pontua Lélis.
Vacinação e auxílio no radar
O desempenho do mercado de trabalho dependerá, nos próximos meses, do comportamento da economia como um todo. E, para haver retomada mais consistente nos negócios, o Brasil tem de acelerar a vacinação contra a covid-19. A imunização é considerada fundamental para redução nas restrições a atividades.
– A economia depende da vacina para ter um horizonte melhor, menos nebuloso – define Lélis.
Outro fator que tende a ditar o rumo dos negócios é a eventual retomada do auxílio emergencial. Em razão das dificuldades fiscais, o governo federal encerrou o benefício na virada do ano. Entretanto, a pandemia segue como motivo de preocupação, e o término do auxílio retira de circulação recursos que vinham sustentando parte do consumo.
– O processo de vacinação e a decisão sobre o auxílio são fatores necessários para entender o cenário da economia e do mercado de trabalho daqui para frente. Demora na imunização seria grave – avalia Pesavento.