Combalida pelos efeitos da estiagem e pelo avanço do coronavírus, a economia gaúcha despencou no primeiro trimestre deste ano. Entre janeiro e março, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (10) pela Secretaria Estadual de Planejamento, Orçamento e Gestão, o Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul caiu 3,3% em relação ao mesmo intervalo de 2019. O desempenho é ainda pior do que o registrado no Brasil.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no país, a redução foi de 0,3% no período, frente ao mesmo intervalo de 2019. Se comparada aos três meses imediatamente anteriores, a queda nacional chegou a 1,5%, contra 2,7% no Estado.
O cálculo do PIB no Rio Grande do Sul é feito pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE), a partir de informações do próprio IBGE. Tanto pelo impacto da estiagem quanto pelos efeitos iniciais da pandemia, o resultado negativo já era esperado.
Embora as restrições de circulação no país devido ao coronavírus tenham começado apenas em meados de março, a paralisação repentina de fábricas, aliada ao cancelamento de viagens e à queda no consumo provocaram estragos. Sem contar que, antes disso, desde fevereiro, países da Europa e da Ásia já haviam pisado no freio, com reflexos diretos no Brasil. Ficou difícil, por exemplo, a importação de insumos, especialmente da China.
— O impacto do coronavírus afetou tanto pelo lado da demanda quanto pelo lado da oferta. Além disso, pelo fato de ser uma pandemia, a doença afetou todas as economias, inclusive parceiros comerciais — diz Martinho Lazzari, do DEE.
Antes mesmo da paralisia causada pelo novo vírus, a economia gaúcha já vinha mal devido à falta de chuva. Não por menos, a queda no PIB foi puxada, principalmente, pela agropecuária, que desabou 14,9% ante o primeiro trimestre de 2019, seguida da indústria (-4,6%) e dos serviços (-1,2%). A ausência de chuvas afetou de forma decisiva a produção itens como soja (-27,7%), milho (-19,3%) e fumo (-22%), importantes elementos da matriz econômica gaúcha.
Nada, no momento, indica melhorias no curto prazo. Conforme os pesquisadores, os números da atividade econômica seguirão refletindo o baque provocado pela seca nos próximos meses. Para piorar, a covid-19 está longe de ser eliminada e o distanciamento controlado tende a prosseguir, não se sabe até quando.
— Normalmente, quando há estiagem, temos efeitos maiores na agropecuária no segundo trimestre. Provavelmente, indústria e comércio também serão mais afetados. Se a gente pensar que abril já começou com taxas negativas, é possível que tenhamos, de fato, resultados piores no segundo trimestre — projeta a chefe da Divisão de Indicadores Estruturais do DEE, Vanessa Sulzbach.
Desempenho por setor
Agropecuária
A queda de 14,7% da agropecuária no Estado, resultante da forte estiagem, contrastou com o crescimento na atividade no Brasil (1,9%). Ainda que, por aqui, as principais culturas de verão tenham sido afetadas pela estiagem de forma severa, alguns produtos registraram desempenho positivo no período, entre eles a uva (12,3%), o arroz (4,4%) e a maçã (4,1%). O feijão permaneceu estável (0,1%).
Indústria
A única atividade com indicador positivo no setor foi a da indústria extrativa mineral, mas ainda assim, o avanço foi de apenas 1,8%. Construção civil (-3,8%), eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (-18%) e a indústria de transformação (-2,6%) registraram piora e tiveram desempenho inferior ao do país. Só a fabricação de máquinas e equipamentos encolheu 12,8%, muito em razão da crise na agricultura.
Serviços
Um dos motivos da retração no setor foi a performance negativa do comércio (-2,8%). As principais quedas foram registradas nas vendas de tecidos, vestuários e calçados (-23,5%), de veículos (-14,8%), combustíveis e lubrificantes (-9,1%) e de móveis e eletrodomésticos (-13,45). Já hipermercados e supermercados avançaram 6,8%, o setor de artigos de uso pessoal e doméstico cresceu 9,4% e o de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos, expandiu 1,7%.