Poucas horas antes de o Banco Central confirmar o que o mercado esperava - a quinta alta sucessiva de meio ponto percentual no juro básico, que agora orbita a 13,25% ao ano - o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou que o ajuste fiscal exige "esforço distribuído por todos". E garantiu que o governo está "cortando na carne as suas despesas".
O Planalto está em um momento "mulher de César". Não basta cortar na carne, é preciso expor as feridas, para que tamanho aperto seja suportável. Os índices de desemprego estão subindo. A renda cai em termos nominais, o que significa que salários mais altos dão lugar a mais baixos. E a inflação consome parte maior da renda de quem manteve emprego e renda.
Dados do Tesouro Nacional também divulgados na quarta-feira mostram que as despesas do governo federal recuaram 0,8% no primeiro trimestre deste ano, frente ao mesmo período do ano passado. Parece pouco. Só em março, a renda média nominal (sem contar o efeito da inflação) caiu 2,8%, o maior tombo desde janeiro de 2003.
Despesa pública é difícil de cortar, é fato. Um governo que impõe tamanho aperto ganha legitimidade quando demonstra, claramente, que está fazendo sua parte. E se isso está ocorrendo, não é verificável nem visível para a maioria dos brasileiros.
Como o Brasil testou os limites do possível nas finanças públicas - da mesma forma que o Rio Grande do Sul -, é hora de corrigir o rumo. Mas é crucial demonstrar solidariedade no esforço. Na prática, não só no discurso.