Uma reflexão realista quanto à situação econômica do país e os impactos sobre as conquistas sociais e a ampliação da classe média nos últimos anos. Em curto prazo, os brasileiros terão de se equilibrar diante do aperto. Essa foi a avaliação apresentada na primeira edição do Com a Palavra em 2015, evento realizado por Zero Hora com o objetivo de aprofundar temas abordados pelas diferentes áreas do jornal.
Com o tema "O Cenário da Economia e as Perspectivas para a Nova Classe Média", o debate foi realizado nesta segunda-feira, no StudioClio, na Capital, com a presença dos economistas Ely José de Mattos, professor da Face/PUCRS, e Alexandre Englert Barbosa, do banco Sicredi. A colunista de economia de ZH Marta Sfredo fez a mediação.
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Barbosa apresentou uma leitura de como o país chegou ao atual de cenário de dificuldade econômica. Conforme o economista, houve uma opção do governo em apostar no crescimento por meio da ampliação do consumo, com redução de juros e incentivo ao crédito. A ideia era de que os investimentos viriam a reboque, mas essa perspectiva não se confirmou:
- O que está acontecendo agora é o reverso da moeda. Os preços reduzidos ou não administrados, como os dos combustíveis e energia, estão voltando agora em momento em que a economia está mal.
Para Mattos, a classe média é a mais atingida pelos recentes reajustes de preços. Ele apontou como um dos principais fatores a ausência de reformas estruturais para promover a qualificação dos trabalhadores. Com isso, o aperto econômico dos custos de vida soma-se à impossibilidade de o mercado valorizar o trabalhador médio, porque o retorno em produtividade é muito baixo.
- Precisamos de um grande ajuste institucional. A gente tem muita dificuldade de entender que o Estado não tem como manter tudo, e a sociedade precisa contribuir.
Conforme o economista do Sicredi, os próximos dois anos serão de aumento das dificuldades, com elevação nos índices de desemprego, baixa taxa de crescimento e até recessão em 2015. Barbosa aponta, contudo, que esse período é necessário e preparatório para a recuperação do desenvolvimento do país.
- O maior risco para o Brasil é o governo retomar a estratégia anterior e deixar o ajuste de lado. Aí sim, iremos pelo mesmo caminho que a Argentina - afirmou o executivo.
A avaliação do professor da PUC é um pouco mais pessimista, com cenário de estagnação pelos próximos três anos. De acordo com Mattos, esse é o prazo para que os ajustes na economia permitam o início de mudanças estruturais no país.
Estão previstas edições mensais do Com a Palavra para este ano, ainda sem data marcada. Os próximos dois debates vão abordar os resultados do Índice de Desenvolvimento Estadual (iRS), criado em parceira entre Zero Hora e PUCRS, que mede o desempenho do Estado em três dimensões: padrão de vida, educação e, reunidos, longevidade e segurança. O objetivo da iniciativa é contribuir para a discussão sobre a situação atual do Estado e as melhores alternativas para avançar.
Os debatedores
Alexandre Englert Barbosa
Gerente de Análise Econômica e Riscos de Mercado do banco Sicredi, é mestre na área de Economia Internacional e doutor em Economia Aplicada pela UFRGS. Já atuou como consultor econômico na Federação das Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul (Federasul) e Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs).
Ely José de Mattos
Doutor em Economia Aplicada pela UFRGS, possui mestrado em Desenvolvimento Rural e graduação em Ciências Econômicas pela mesma universidade. É professor da Faculdade de Administração Contabilidade e Economia (Face) e do programa de pós-graduação em Economia do Desenvolvimento da PUCRS. Tem experiência nas áreas de Desenvolvimento Econômico, Economia e Meio Ambiente e Teoria Econômica, atuando principalmente em temas, como pobreza, desenvolvimento rural, desenvolvimento econômico e meio ambiente, econometria aplicada e desenvolvimento de indicadores.
O evento
O Com a Palavra é aberto ao público e propõe aprofundar temas tratados pelas diferentes áreas do jornal. Estreou em março de 2014, sempre com a participação de jornalistas e seus convidados. No ano passado, nomes como Flávio Tavares e Nei Lisboa (50 anos da Ditadura Militar, com Rodrigo Lopes), Humberto Gessinger (Uma carreira de sucesso na Música, com Francisco Dalcol e Gustavo Brigatti), Luiz Fernando Verissimo (Copa do Mundo, com Lauro Quadros) e Renato Janine e Francisco Marschall (Ética e Sociedade, com Carlos André Moreira) participaram do evento.