Se o mercado vai comprar, é outra coisa, mas nesta segunda-feira a presidente Dilma Rousseff fez a mais pública e entusiasmada defesa do ajuste fiscal. Justo um dia depois que as ruas se encheram com ajuda do aperto no bolso da classe média, dividida entre quitar a conta de luz, encher o tanque do carro e chegar até o final do mês com orçamento no positivo. Algumas das frases da presidente:
- Vamos fazer os ajustes necessários, dialogando com todos, numa posição de humildade, mas com firmeza para que possamos chegar a um bom resultado (...) Não temos mais condições de fazer política anticíclica do jeito que fazíamos. (...) Ninguém pode negar o fato de que fizemos de tudo para a economia reagir.
A fala deu peso à tese de Christopher Garman, diretor do Eurasia Group no Brasil, que poucas horas antes havia dito, em teleconferência da GO Associados:
- É hora de dobrar aposta na estratégia do Levy. O custo político de não fazer é maior. O governo está mais refém dessa agenda do que nunca.
E encheram a bola do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que ontem se reuniu com duas dezenas de pesos-pesados na Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). Segundo José Antônio Martins, vice-presidente de relações institucionais da Marcopolo, um dos participantes, não teve briga.
- Ele é muito educado, mas frio. Ouviu nossas lamúrias e disse que o governo precisa reduzir gastos.
O gaúcho confirmou o apoio dos empresários ao ajuste, que o ministro tratou de espalhar, mas destacou que o governo não pode fazer cortes "só para os outros". Se não houve sinais de que o aperto vai diminuir, voltou o diálogo. Martins, considerado próximo da presidente Dilma, diz não falar com ela desde a posse. E promete seguir na luta para manter a desoneração da folha de pagamento. Uma das soluções seria, no Congresso, manter o alívio integral para 15 ou 20 dos 56 segmentos beneficiados hoje - os com maior peso de mão de obra.
- Por enquanto, está congelado. Mudar regras no meio do jogo é um tiro no coração do empresariado - resume Martins.