Símbolo nada convencional para uma fábrica de roupas, uma vaca serviu de inspiração para a recuperação da Pitt, de Santa Cruz do Sul. Com base na história bíblica de José, o animal sorridente e encorpado passou a ser usado para motivar os vendedores a conquistar sete anos de vacas gordas depois de sete anos de dificuldades.
Desenhos de uma simpática vaquinha em cenários diferentes foram usados em campanhas de estímulo. Deu certo. Em 2014, a Pitt deve chegar ao sétimo ano consecutivo de crescimento - a previsão é de 12% em relação a 2013. Em uma das maiores e mais antigas fabricantes de jeans do país, os proprietários investem para não voltar a inverter a curva.
- A vaquinha foi um ótimo estímulo, mas vamos ter de aposentá-la no fim do ano e pensar numa nova proposta, porque não pretendemos voltar às vacas magras - brinca Claudino Simon, 70 anos.
Em janeiro de 1967, Simon foi um dos fundadores da empresa, então chamada de Jaclan, junto com dois sócios. Na época, o trio de bancários, que pretendia abrir um negócio para deixar como legado aos filhos, viu um nicho de mercado a ocupar na região com a falência da única camisaria da cidade. Além disso, tinham o know how literalmente dentro de casa.
- Minha mãe, Frieda, era costureira e passou a cuidar de toda parte de produto. A nós, restaram as contas, as vendas e o marketing, que era bem rudimentar naquele tempo - lembra o diretor-fundador Jacob Braun, 72 anos.
Com duas funcionárias e uma máquina de costura semi-industrial, a empresa começou fabricando apenas camisas em uma sala no centro do município. A produção de 30 peças por mês logo se multiplicou, exigindo aumento no número de funcionários. Em cinco anos, o quadro já era de 36 pessoas, fora os sócios-proprietários, que deixaram de lado o banco para se dedicar ao empreendimento.
Recursos próprios para salvar o negócio
Em 1975, no mesmo ano em que passou a se chamar Pitt - por sugestão de uma consultoria da Capital -, a empresa entrou no mercado de jeans. À época, a calça, que se tornaria essencial no guarda-roupa dos brasileiros, começava a se tornar a queridinha no país, mas havia poucas opções além dos modelos importados - e caros. Hoje, o jeans é o carro-chefe da Pitt e representa 70% do volume de vendas.
O fator que transformou a empresa quase caseira em uma indústria consolidada veio em 1982, com a transferência da fábrica para as margens da BR-471. Arriscado, o investimento no terreno e na construção de 3 mil metros quadrados de pavilhões, além de avançar em meio à instabilidade da economia nacional, exigiu financiamento e injeção de dinheiro do bolso dos proprietários, porque a empresa não tinha o valor em caixa.
- Quase foi um passo maior do que a perna, mas resolvemos arriscar, porque era isso ou jamais cresceríamos - observa Simon.
A partir daí, a Pitt passou a ter, em média, 8% de incremento anual. Em 2001, tropeçou no primeiro prejuízo da história, o ano 1 dos sete anos de vacas magras. A crise resultou, conta Braun, de vários fatores:
- A economia ia mal, havia muita concorrência, principalmente chinesa, e as vendas caíram. Nossa saída foi reduzir drasticamente os custos e investir em marketing.
Uma das estratégias foi apostar na popularidade de atores de televisão para popularizar a marca. Reynaldo Gianecchini, Rodrigo Santoro, Thiago Lacerda, Henri Castelli, Marcos Palmeiras, Malvino Salvador e outros passaram a aparecer em anúncios da Pitt. Algumas famosas, como Deborah Secco e Fernanda Paes Leme, foram contratadas também.
- Quem costuma comprar as roupas do marido e as próprias? Quem costuma encher as lojas e shoppings e portanto vai gostar de ver homens bonitos e querer ver o seu companheiro tão bem quanto? - explica Simon, que sabia bem a resposta.
Para espantar de vez a crise, a empresa se capitalizou em 2007. Para aumentar o aporte, os proprietários venderam parte do patrimônio pessoal.
- Só abre mão dos próprios bens quem realmente acredita no seu negócio. Nós acreditamos - resume Simon.
No basquete, marca com nome de campeão
É impossível falar no único time de basquete gaúcho que conquistou o campeonato brasileiro sem lembrar da Pitt. A marca patrocinou o Corinthians por apenas três anos, de 1992 a 1995, e por um valor considerado baixo, cerca de R$ 200 mil. Na época, o investimento era somente uma forma de ajudar o time, já que o basquete em Santa Cruz do Sul era um dos esportes mais fortes.
Outras empresas, principalmente fumageiras, reforçaram recursos para o clube, mas para evitar a associação de cigarro ao esporte, a Pitt deu nome à equipe. Em 2014, o título completa 20 anos e até hoje o time é lembrado por seu nome composto Pitt/Corinthians, tudo junto, quase como se fosse uma única palavra: "pitticorinthians".
- Ninguém imaginava que conseguiríamos o título. Patrocinar a equipe foi o investimento menos pensado e de melhor resultado que já fizemos - avalia o fundador Claudino Simon.
A nova aposta da Pitt são lojas exclusivas da marca. Já são três - uma em Santa Cruz do Sul, outra em Cachoeira do Sul e a mais recente, inaugurada há dois anos com investimento de R$ 1 milhão, em Porto Alegre.
- Ainda estamos experimentando o formato. Se der certo, a ideia é transformar em uma rede de franquia - esclarece Jacob Braun.
Quem está à frente da experimentação são os filhos dos dois fundadores, Luis Augusto Braun, gerente de produto e lojas próprias, e Eduardo Simon, gerente industrial e de marketing, ambos de 35 anos, que já estão sendo preparados para a sucessão, ainda sem data marcada.
Perfil
Fundação: 18 de janeiro de 1967
Localização: sede e fábrica em Santa Cruz do Sul
Unidades: mais de 30 confecções prestadoras de serviço nos três Estados do Sul
Descrição: empresa têxtil que produz 1,3 mil modelos de jeans, camisas, polos, jaquetas e malhas
Capacidade de produção: 6 mil peças por dia
Comercialização: três lojas exclusivas e mais de 3 mil pontos de venda no país
Número de funcionários: 900
Previsão de crescimento em 2014: 12%
Mercado: das 3 mil lojas multimarcas que vendem produtos Pitt, apenas 11% estão no Rio Grande do Sul