Põe mais água no feijão. É com essa expressão, tão identificada com o tradicional prato brasileiro que chegou até mesmo a ser usada pelo papa Francisco ao visitar uma favela quando esteve no Rio de Janeiro em julho passado, que a Fröhlich, fundada há 59 anos, em Ivoti, quer reafirmar sua posição no mercado.
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O slogan é parte da campanha para promover o carro-chefe da empresa, o feijão da marca Fritz & Frida, eleito como melhor feijão gaúcho e o segundo melhor do país pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste). Dona de outras duas marcas, Frily e Frilar, a Fröhlich tem atualmente 350 produtos, mas o grão símbolo do cardápio brasileiro responde por cerca de 20% do faturamento.
Até chegar ao que é hoje, a empresa passou por uma série de mudanças. A história começa em 1955, quando Lauro Carlos Fröhlich, com apenas 13 anos, tomou a iniciativa. Com o pai, Alfredo Nicolau Fröhlich, adoentado e havia quase dois anos sem poder trabalhar no transporte de mercadorias, decidiu pedir dinheiro emprestado a um tio. Na época, 15 contos de réis foram investidos na abertura de um pequeno armazém perto da casa da família. Assim começaram as encomendas e entregas de alimentos e de rações de porta em porta. Em pouco tempo, a forma de atendimento conquistou cerca de 70% dos moradores de Ivoti.
- Os negócios foram crescendo, conquistamos mais clientes, até em outras cidades, e acabamos comprando uma nova área - lembra Fröhlich, referindo-se ao espaço onde até hoje funciona a empresa.
Sem água, nem energia elétrica ou telefone. Foi nessas condições que a Fröhlich transferiu as operações, em 1965, às margens da BR-116.
- Foi muito difícil, era quase um deserto. Mas fomos para lá pensando no potencial da estrada em logística - esclarece o diretor-presidente.
Os obstáculos foram vencidos aos poucos, com ajuda de articulações políticas do então vereador mais jovem do Estado - o próprio Lauro Carlos Fröhlich. Eleito aos 21 anos, o fundador da Fröhlich não esconde que o cargo ajudou a conseguir acesso mais fácil ao governo, como para levar os cabos de energia até a sede da empresa. Um episódio é relatado também na biografia lançada no final de 2012, Mãos à Obra (Editora Alcance).
"Em um daqueles churrascos de confraternização onde se fazem novas amizades e articulações políticas, cheguei para o gerente da CEEE (Companhia Estadual de Energia Elétrica), Francisco Spindler, que estava presente:
- Escuta, Chico - falei, usando o apelido pelo qual ele era conhecido. Estou ali na entrada de Ivoti, na beira da BR, e não tenho luz elétrica. Isso não pode continuar. E o pior é que também não tenho muito dinheiro para gastar.
- Bom, Lauro - ele respondeu. - Que o dinheiro está curto, isso eu sei. Mas tu não vais gastar muito. Vamos fazer um orçamento e a gente dá um jeito."
Logo depois, Fröhlich complementa, também no livro: "Quando chegou o orçamento, não houve muita negociação de preço e nem de prazo de pagamento. Mas, espremendo nossas finanças, finalmente instalamos a luz elétrica em 1967."
A ausência de telefone também foi solucionada com um empurrão da política, que facilitou o projeto. A solução de fato, porém, veio da união de um empresário vizinho, que ajudou a bancar a obra. Na época, Ivoti contava apenas com uma central telefônica, no Centro, mas que não era muito efetiva.
- Mais de uma vez aconteceu de eu pegar meu Fusca e ir a Porto Alegre para resolver um assunto urgente e, na volta, ainda não tinham completado a ligação - lembra o empresário.
Eletricidade e telefonia ajudaram a desenvolver os negócios e a família decidiu criar marca própria. Assim, em 1982, surgiu a Fritz, uma referência ao apelido de Alfredo Nicolau Fröhlich.
- Meu pai era chamado carinhosamente assim por todos. Na comunidade alemã, Fritz é como o Zé, aquele cara simpático e amigo de todo mundo - explica Fröhlich.
Um casal dá início a nova família
Para não deixar Fritz desacompanhado, pouco depois surgiu a marca Frida. Em 1999, os dois nomes foram unidos no casal Fritz & Frida, que hoje batiza cerca de 290 produtos - arroz, feijão, farofa, sobremesas, chás, sopas, entre outros. Na época, a mudança, que incluiu novas embalagens, resultou em expansão de 100% das vendas.
- Cuidamos da nossa marca como se fosse um bebê, porque é para nós o mais importante. Ela concentra todo nosso trabalho para buscar um padrão de qualidade e na qual sabemos que o consumidor confia - observa o sócio fundador Lauro Carlos Fröhlich.
Numa tentativa de diversificar o portfólio e aproveitar o potencial de clientes fiéis, em maio de 2004 a empresa lançou a marca Frily, voltada ao mercado pet, que tem 35 itens. A terceira e mais recente marca colocada nas prateleiras é a Frilar, em 2010, com foco em higiene e limpeza, que já conta com um mix de 27 produtos.
Há quatro anos, a empresa passou a operar no segmento food service, para o qual vende produtos com formatos exclusivos, como extrato de tomate de quatro quilos, vinagre de cinco litros e cereais em embalagens especiais de 25 quilos, entre outros. Atualmente, é o segmento que mais cresce, com incremento de 16% no último ano. Por isso, a empresa investe em uma equipe de vendas exclusiva para atender ao mercado de restaurantes e hotéis.
Ainda hoje a Fröhlich funciona como atacadista e distribuidora aproveitando sua estrutura para vender outras marcas. Em 2013, esse segmento representou 38,3% do faturamento. Nos planos está a construção de um novo centro de distribuição, estimado em R$ 15 milhões, junto à sede de Ivoti, que está em fase de projeto. ]
Perfil
Fundação: 21 de janeiro de 1955
Localização: Ivoti
Descrição: empresa que detém três marcas, Fritz & Frida, de itens alimentícios, Frily, com produtos para cães e gatos, e Frilar, voltada para higiene e limpeza
Produtos: oferece 2 mil itens, dos quais 350 são de marcas próprias
Clientes: 12 mil pontos de venda distribuem os produtos da marca
Número de funcionários: 470