O peso da carne vermelha dentro da economia verde e na alimentação das famílias foram alguns dos temas discutidos no terceiro Campo em Debate desta quarta-feira (30), na Expointer. Especialistas acadêmicos, integrantes do setor e de órgãos públicos analisaram a relação da pecuária com a sustentabilidade, a necessidade de maior esclarecimento sobre o produto junto à população e de ampliar o marketing para valorizar esse item. O encontro foi uma realização do Grupo RBS e do Universo Pecuária e ocorreu na Casa RBS, no Parque de Exposições Assis Brasil.
A coordenadora-executiva do Universo Pecuária, Marcela Santana, destacou que a carne é um item que traz benefícios à saúde. Além disso, a pecuária é um dos principais caminhos para reforçar a conservação do meio ambiente dentro das práticas do agronegócio, segundo Marcela. Ela reforçou que o Universo Pecuária nasceu com o foco de desenvolver a pecuária sustentável para auxiliar produtores que atuam de maneiras diferentes. Além dessa união no lado da produção, a entidade busca fomentar conexão entre pesquisa e o campo, ligar o público e o privado, e municiar o consumidor com mais informações sobre o que compra:
— (Um dos focos é) A conexão da sociedade, que está nas cidades consumindo a pecuária de diferentes formas, para que ela tenha mais acesso ao conhecimento e possa escolher que tipo de produto vai estar consumindo.
Fernando Cardoso, chefe-geral da Embrapa Pecuária Sul, afirmou que a pecuária é a grande solução ou parte fundamental do caminho para resolver questões ligadas ao clima e ao meio ambiente, e uma fonte de alimentos saudáveis e de qualidade em termos de nutrientes. Além disso, Cardoso afirmou que a Embrapa atua junto às principais associações de raças no melhoramento genético para a criação de animais mais eficientes, com ciclo de produção menor, que trazem produtos de maior qualidade e menos emissões de gases do efeito estufa.
— A gente tem uma série de ferramentas que permitem conciliar uma melhor produtividade, melhor renda para os produtores dentro de suas fazendas e também uma maior sustentabilidade. A pecuária não é só carne. É produção de água, redução de emissões, remoções. A gente tem uma série de serviços que a pecuária produz.
José Fernando Piva Lobato, consultor da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), afirmou que a carne bovina é uma fonte de alimento saudável. E que isso precisa ser reforçado no âmbito da população geral:
— Quero falar para aqueles jovens, futuras mães, futuros pais, do quanto a carne bovina é uma fonte de proteína essencial pela sua constituição.
Usando uma frase de outro pesquisador, Lobato afirma que, assim como nós somos o que consumimos, os animais também são o que comem. Nesse sentido, é fundamental pensar na alimentação dos bovinos e no ambiente onde são criados para obter um produto de maior qualidade.
Luana Krieger, responsável pela Região Sul do Projeto Agro-BR, afirmou que vivemos em um ambiente onde os consumidores, principalmente da nova geração, estão cada vez mais atentos a pontos como procedência do produto, e máximo de rastreabilidade e informações. Ela afirma que esses atributos estão se tornando cada vez algo mais natural dentro desse processo, principalmente no mercado internacional:
— Algo que era antes um diferencial hoje é muitas vezes definitivo na escolha de um comprador.
A diretora de Cadeias Produtivas do Ministério da Agricultura, Fabiana Villa Alves, afirmou que recursos para desenvolvimento da pecuária existem no país, mas falta assistência técnica e orientação para aplicação desses valores. Ela reforça a necessidade de melhorar a imagem do nosso produto diante do mundo:
— Nós temos políticas públicas muito robustas, reconhecidas no Exterior, mas o que falta realmente é a gente melhorar essa imagem tanto do nosso produto, quanto do nosso país como produtor, grande fornecedor de alimentos diferenciados.
José Luiz Tejon, professor, doutor, sócio-diretor da Biomarketing e Personalidade Agro 2023, afirmou que é preciso melhorar o marketing e a propagação da nossa carne bovina, gerando uma comunicação mais clara e certeira para evitar um ambiente com mitos sobre o consumo desse item. Em outra ponta, defendeu a volta da carne à mesa dos brasileiros com mais frequência, cenário observado anos atrás. Usando uma experiência pessoal, afirma que foi criado em uma cultura onde era preciso comer um “bifinho” quase que diariamente, independentemente do tipo do produto, mais barato ou com preço maior. No entanto, enxerga virada nesse costume, com uma certa elitização da carne vermelha:
— Me parece que essa cultura foi substituída. Durante a semana, se consome outras coisas, e a carne vermelha ficou parece que elitizada. É o churrascão maravilhoso do domingo, os cortes extraordinários e fantásticos, caríssimos. Se perdeu a percepção de que carne vermelha é para pobre também. Fui criado como pobre comendo carne moída.
O evento, mediado pelo comunicador Zé Alberto Andrade, foi encerrado com algumas informações sobre a próxima edição do Universo Pecuária, que é uma promoção e realização de diversas entidades, como o Sindicato Rural de Lavras do Sul e a prefeitura do município. Também foi firmada uma parceria entre o Universo Pecuária e o governo do Estado no âmbito de colaboração para uma agenda de sustentabilidade.