A caderneta de poupança teve mais arrecadações do que saques pelo quarto mês consecutivo em junho, com os depósitos superando em R$ 20,53 bilhões as retiradas da aplicação, segundo o Banco Central. Depois de cinco anos com ingresso líquido negativo, em 2020 a situação passou a mudar em março e atingiu o recorde de R$ 37,2 bilhões em depósitos em maio. Todas as possíveis razões, na opinião de especialistas, estão relacionadas à pandemia da covid-19.
E isso não é exclusividade do Brasil. Hoje existe uma quantidade inédita de dinheiro com alta liquidez represada no mundo, devido à aversão ao risco e à injeção de recursos dos governos centrais, afirmou Larry Fink, fundador e CEO da maior gestora de ativos do mundo, a BlackRock, no evento Expert XP, em junho. Segundo ele, as empresas e as pessoas se prepararam para uma crise e, agora, têm recursos em caixa.
No Brasil, R$ 121,1 bilhões foram depositados em auxílio emergencial por meio da poupança social da Caixa Econômica Federal, segundo balanço do Ministério da Cidadania de 20 de julho. Além disso, os depósitos das parcelas do seguro-desemprego caem na poupança, na conta simplificada ou na conta corrente de quem é correntista do banco. Esses dois fatos já seriam suficientes para explicar a alta arrecadação da caderneta, mas o educador financeiro Adriano Severo aponta mais três fatores: em um momento de incerteza e escassez, as pessoas fazem escolhas conservadoras para o dinheiro; há menos oportunidades de gastar, porque comércio e locais de lazer estão fechados; e a diferença de rendimento da poupança para outras aplicações conservadoras é mínima, desestimulando o correntista a buscar destino mais rentável.
Neste compasso de espera, a caderneta transforma-se em uma espécie de “zona de conforto” em tempos turbulentos por ser simples, acessível e segura, apesar da baixa rentabilidade, avalia Matheus Santos, sócio do escritório Invista Valores. Segundo o assessor de investimentos, a tributação e os custos da operação são decisivos para avaliar se a poupança é mais ou menos rentável do que outros produtos de renda fixa que pagam impostos e taxas, como CDB, Tesouro Selic e Fundos DI.
— Quanto menor o prazo de resgate da aplicação e quanto maior a taxa de administração cobrada pelo banco, maior será a vantagem da poupança em relação aos fundos — compara Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
Uma opção para escapar dos custos de administração são os CDBs e fundos que não cobram administração. Outra alternativa com possibilidade de resgate imediato, segundo Severo, são as contas correntes que remuneram o saldo com 100% do CDI, oferecidas por fintechs e bancos digitais como Pagbank e Nubank.
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Saiba quando vale mais a pena deixar o seu dinheiro na poupança ou em outras aplicações e o quanto rende um valor em caderneta, Tesouro Selic e CDB. Conforme a taxa de juro e o prazo da aplicação, a poupança pode ser mais rentável do que outros produtos conservadores, que cobram custos de administração e Imposto de Renda.
Poupança X CDB
Os Certificado de Depósito Bancário não têm taxas de administração, mas recolhem imposto de Renda, da mesma forma que os Fundos DI e o Tesouro Selic. Dependendo do percentual do CDI, a aplicação é pior do que a poupança. Com a Selic a 2,25%, que deixa o rendimento da caderneta em 1,58% por ano e 0,13% ao mês, vale a pena aplicar em um CDB somente se a taxa de remuneração for cerca de 85% do CDI ou mais, conforme o cálculo de Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
Poupança X Fundos DI
Os fundos de renda fixa DI perdem para a poupança em qualquer prazo se a taxa de administração for de 1% ao ano ou mais. Se o desconto for de 0,5% ao ano, o fundo consegue empatar com a caderneta depois de a aplicação completar dois anos, quando o Imposto de Renda cai de 17,5% para 15%, conforme Oliveira. Alguns bancos já oferecem fundos DI com taxa zero e, na opinião do especialista, a redução dos custos será uma adaptação necessária para manter clientes. Quanto menor o prazo de resgate da aplicação, maior a vantagem da poupança.
Poupança X Tesouro Selic
É um dos três tipos de título da dívida pública negociados no Tesouro Direto e acompanha a taxa básica de juro da economia. Tem cobrança de imposto, mas será beneficiado por uma mudança na taxa de custódia, que cairá de 0,25% ao ano para zero a partir de agosto para até R$ 10 mil aplicados. Como o CDI segue a Selic, este título do tesouro, dentro do valor isento de manutenção, ganha atratividade em relação a um Fundo DI com taxa de administração de 0,25%. Acima de R$ 10 mil, o Tesouro Selic perde para a caderneta em aplicação no curto prazo. Simule neste link.
Fontes: Adriano Severo, educador financeiro, e Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo da Anefac
Simulação de rentabilidade* para R$ 1,5 mil aplicados
180 dias - 6 meses
- Tesouro Selic: R$ 9,25
- Poupança: R$ 11,75
- CDB com rendimento de 100% do CDI: R$ 13
360 dias - 1 ano
- Tesouro Selic: R$ 23,25
- Poupança: R$ 23,66
- CDB com rendimento de 100% do CDI: R$ 29,97
720 dias - 2 anos
- Tesouro Selic: R$ 48,82
- Poupança: R$ 47,63
- CDB com rendimento de 100% do CDI: R$ 56,32
* Válido até 31 de julho, depois disso, aplicação de até R$ 10 mil no Tesouro Selic não paga custódia e rende o mesmo que CDB a 100% do CDI. Simulação de rentabilidades líquidas
*Fonte: Adriano Severo, educador financeiro