Montadoras oferecem automóveis com preços reduzidos e postergação da primeira parcela. Concessionária abate até R$ 30 mil do preço de carros vendidos pela internet. Fabricante de calçados vende modelos da nova coleção a preços 25% menores. Grande varejista isenta do frete as compras no e-commerce. Operadora de turismo comercializa pacotes de voo e hospedagem com valores reduzidos, para serem desfrutados em 2021. Esta não é a descrição de uma Black Friday, e sim do esforço de empresas para atrair consumidores durante a pandemia.
Para quem tem dinheiro na mão, o momento pode ser bom para barganhar, defende Leandro Rassier, sócio do Escritório Alta Vista Investimentos, professor universitário e educador financeiro. Quem tem recursos está comprando na baixa, enquanto muita gente que precisa de dinheiro está aceitando conceder descontos, ele avalia.
— Imóvel à venda por R$ 1 milhão está sendo vendido por R$ 800 mil — afirma.
A corretora de imóveis Ângela da Rosa Zucatto conta que houve recorde histórico de vendas para um mês de junho na empresa em que trabalha. O motivo, ela avalia, foi a maior disposição de proprietários em dar descontos.
— Na semana passada, um apartamento todo reformado no bairro Boa Vista, com dois dormitórios e vaga de garagem escriturada era anunciado por R$ 320 mil e foi vendido por R$ 245 mil. Uma barbada. O dono estava precisando vender e aceitou – diz Ângela (veja abaixo dicas para negociar imóvel).
Muitos estão vendendo imóveis para quitar dívidas, concorda Leandro Rodrigues, educador financeiro. Castigado com cancelamentos de matrícula e evasão escolar, em especial de ensinos infantil e universitário, o setor de educação é outro que está oferecendo boas ofertas para atrair alunos, completa Rodrigues.
Modere a empolgação
Os especialistas advertem, contudo, para não fazer um gasto empolgado pelas promoções. Apenas quem está confiante de estar diante de um negócio com preço muito proveitoso, que já vinha acompanhando o valor do bem há algum tempo e sabe que ele está subavaliado deve gastar a reserva financeira, afirma o economista Alfredo Meneghetti Neto.
— A compra tem que ser muito bem avaliada. Neste momento de incerteza, muitas vezes os preços perdem a referência — adverte Meneghetti Neto.
Quando surgem descontos para todos os lados, o educador financeiro Adriano Severo desconfia de que, na verdade, os valores estavam superavaliados antes:
— Ao invés de baixarem o preço para o que ele realmente vale, podem oferecer como se fosse um desconto.
Algo que ajuda na hora ada barganha é pagar à vista. Mas se a pessoa não tiver todo o recurso, pode ser mais vantajoso esperar e economizar o dinheiro para comprar no futuro do que tomar crédito para adquirir algo com desconto, completa Wendy Carraro, professora de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Considere antes de fechar o negócio
Este é um momento de pensar em seu orçamento e, se for preciso, fazer ajustes para conseguir atravessar o momento de turbulência. Porém, aqueles que estão certos de que não sofrem risco de perda de receita e já vinham planejando comprar um bem podem encontrar oportunidades de pechinchar preços ou condições favoráveis. Acompanhe os passos da boa negociação:
Reflita
Antes de decidir comprar, pergunte-se: “Eu realmente preciso disso?”, “Este é o melhor momento para eu comprar?”, “Se eu não comprar isso agora, vai me fazer falta?”, orienta a educadora financeira Camila Bavaresco. Se a resposta for sim para as três perguntas e se tratava de uma compra planejada, é hora de seguir para o próximo passo: pesquisar.
Pesquise e anote
Pesquise o máximo possível e registre as informações, afirma Wendy Haddad Carraro, coordenadora do projeto de educação financeira da UFRGS. Para saber o quanto era cobrado pelo bem antes da pandemia, consulte sites de monitoramento de preços como Zoom, Precifica e Buscape. Também pesquise a a confiabilidade do fornecedor, em sites como o Reclame Aqui.
Escolha as palavras
Na hora de negociar, não demonstre excesso de interesse, sugere Leandro Rodrigues. Como nos traímos em atos e palavras, ele instrui evitar expressão como “eu preciso” e usar termos como “estou apenas comparando preço” — isso vai fazer o próprio vendedor abrir a negociação. O gerente é quem pode dar o maior desconto, então peça a ele, completa Rodrigues.
Prefira dinheiro
Pagar à vista e em dinheiro é ótimo para exigir desconto, diz o educador financeiro e professor André Bona, que sugere negociar no fim do mês, quando os vendedores buscam bater a meta. Quanto maior o valor, mais margem para desconto, de 5% para imóveis mais baratos até 20% para os mais caros, exemplifica a corretora Ângela da Rosa Zucatto.
Priorize qualidade
Nem sempre pagar pouco significa fazer um bom negócio, não se descuide da qualidade, alerta Rodrigues. No setor imobiliário, a principal característica da boa compra é a localização, afirma Ângela. Imóvel em um bairro bem valorizado , seja novo ou usado, com ou sem garagem, é um bem com alto potencial de revenda, diz.