Um pedacinho de plástico que faz as vezes de dinheiro mágico e tem lugar cativo nas carteiras de mais da metade dos brasileiros. Capaz de empurrar as contas para o futuro e, ao mesmo tempo, submetê-las a uma das mais altas taxas de juros do mercado, não surpreende que o cartão de crédito seja um dos vilões da inadimplência no país.
No ano passado, entrou em vigor um novo conjunto de regras que extinguiram o crédito rotativo a partir do segundo parcelamento seguido da fatura. Isso porque o pagamento do valor mínimo (15% do total) desencadeava um “efeito bola de neve” — uma dívida de R$ 100 chegaria a R$ 430 ao final de 12 meses.
Pela nova regra, atualizada em 2018, quando o cliente opta por pagar o mínimo pela segunda vez, o banco deve suspender a cobrança, e o portador do cartão pode escolher entre pagar o valor integral ou aderir a uma nova linha de crédito a juros mais razoáveis. No caso dos inadimplentes (que não pagam nem o valor mínimo da fatura), para quem o juro era ainda mais alto, a bola de neve segue rolando: as financeiras devem cobrar o juro do rotativo regular, mais multa de 2% e juro de mora de 1% ao mês.
De vilão a companheiro
Nenhuma medida é capaz de salvar os clientes de um de seus maiores inimigos: eles próprios.
— O problema é que as pessoas usam o cartão de crédito como complemento de renda. Ganham R$ 1 mil de salário e têm limite de R$ 1 mil no cartão, então agem como se dispusessem de R$ 2 mil mensais. Assim, estão sempre com o mês atrasado — explica Leandro Rodrigues, da Dsop Educação Financeira.
As medidas que buscam combater a inadimplência, ao converter a dívida do crédito rotativo em uma com juro mais baixo e prazo mais longo, até prolongam o endividamento. A percepção de risco diminuído também pode ser interpretada — equivocadamente — como um sinal verde para seguir consumindo sem controle.
Falta consciência sobre o “dinheiro de plástico”, que, se bem utilizado, pode passar de vilão a mocinho. Bons hábitos podem converter o cartão de um escoador de recursos em um gerador de benefícios e prêmios como milhas e descontos.
— O cartão é bom desde que você pague em dia. É claro que comprar num mês para pagar no outro é uma condição favorável. Mas tem de usar sabendo que poderá pagar. Mesmo que o crédito rotativo não exista depois de 30 dias, a pessoa que seguir parcelando a fatura vai cair em um financiamento – pondera o presidente da Associação de Educadores Financeiros (Abefin), Reinaldo Domingos.
Dicas de uso do cartão para quem está endividado
1 - Tenha consciência dos bastos
O gasto no cartão não é palpável como o gasto em espécie, então, as pessoas compram sem atentar à quantia que está sendo despendida e sem ponderar se conseguirão pagar. Quando chega o vencimento da fatura, o problema está criado.
2 - Aproveite os benefícios
Já que você vai usar o cartão, fique atento aos benefícios como descontos em restaurantes e lojas, além do queridinho programa de milhagens.
Sites como este permitem que você, inclusive, venda suas milhas acumuladas e faça uma renda extra.
3 - Não sobreponha dívidas
Nunca use um cartão para pagar a dívida de outro. Se não houve condições de sanar a primeira dívida, a tendência é que você apenas transfira o problema para uma nova financeira, até que a situação fuja ao controle.
4 - Tenha só um cartão
Para quem se descontrola, concentrar as despesas em um único cartão tende a ser uma medida interessante — e pode garantir melhores benefícios e torná-lo um cliente mais valorizado.
5 - Não ultrapasse 30% da receita
É importante ter, no mínimo, 70% de seus ganhos reservados para despesas essenciais como moradia, luz, água, transporte e lazer.
6 - Maximize o prazo
Fazendo as compras no cartão na última semana antes do vencimento da fatura, você aproveita ao máximo o prazo, já que os gastos serão contabilizados apenas na fatura seguinte.
7 - Pesquise a concorrência
Há opções de cartões que não cobram anuidade e oferecem ferramentas de gerenciamento financeiro como apps para celular, para que o cliente tenha maior controle dos gastos.
8 - Fique atento aos cartões “fáceis”
Uma causa importante de inadimplência são os cartões oferecidos por lojas sem necessidade de comprovar renda e com benefícios como desconto na primeira utilização, estimulando as compras por impulso. Controle-se!