Por trás de uma grande mulher existem outras grandes mulheres. Pensando nisso, convidamos quatro personalidades que são referência em suas áreas para indicar uma mulher que foi fundamental para elas se tornarem quem são.
A economista Patrícia Palermo, a primeira Miss Brasil negra e empresária Deise Nunes, a secretária de Saúde do Estado, Arita Bergmann, e a premiada cientista Marcia Barbosa contam suas histórias e apontam quem serviu de inspiração, apoio e ombro amigo – para além de suas próprias mães, indicação que costuma surgir de pronto na cabeça de qualquer uma de nós.
Às vésperas do Dia da Mulher, no próximo dia 8 de março, dividimos um convite para todas reconhecerem a rede feminina que fez diferença nas nossas vidas até aqui – e também para refletirmos como ainda podemos inspirar, na prática, a vida de tantas outras por aí. Abaixo, leia a história de Patrícia Palermo e Maria de Lourdes Fernandes da Silva, a Lulu.
"Lulu me segurou no colo"
Quando engravidou, Patrícia Palermo tomou uma decisão: maternidade e carreira caminhariam lado a lado em sua vida. A economista-chefe da Fecomércio-RS também sabia que sua rotina só seria viável com uma rede de apoio consolidada, ainda mais que o marido passava a semana a trabalho no Interior.
Então, bolou um plano: a ajuda da avó, a ida da pequena Vitória para a escola desde cedo e o auxílio de Maria de Lourdes Fernandes da Silva — que virou funcionária da casa da família na reta final da gestação — eram as três pontas do esquema para tudo andar nos eixos. Patrícia, porém, não imaginava que sua mãe seria acometida por uma doença autoimune e entraria em coma no dia do nascimento da neta. Vitória acabou perdendo a avó menos de dois meses depois.
— Tinha perdido a minha mãe e tinha virado mãe. Mudou tudo. Daí a Lulu, como chamamos a Maria de Lourdes, ganhou uma importância gigante na minha vida. Cuidou de mim e virou minha parceira. Digo que ela não assumiu esse papel, ela abraçou — relembra a professora universitária de 41 anos.
A Lulu foi a mãe que eu não tive, me segurou no colo
PATRÍCIA PALERMO
A demanda de trabalho de Patrícia excede o horário comercial, já que ela dá aula à noite e tem viagens frequentes. Por isso, Lulu se tornou ainda mais referência na criação de Vitória à base de muito carinho e amor – embora, volta e meia, as broncas também marcassem presença. Mas o futuro reservava ainda outros duros desafios para o trio. Em 2016 e 2020, Patrícia foi diagnosticada com câncer de mama. Mais uma vez, Lulu tratou de colocar a família no prumo. Cuidou da economista, afagou a filha nos momentos difíceis do tratamento da mãe e foi mais um apoio incondicional para os dias complicados.
— Quando enfrentei o câncer, ela estudava cardápios para eu melhorar o resultado dos exames. Me dava banho, comida na boca. Ela foi a mãe que eu não tive, me segurou no colo — relata.
A relação de trabalho transbordou para uma carinhosa amizade. Patrícia e Lulu dividem leituras — a última foi Em Busca de Sentido, de Viktor Frankl —, trocam confidências ao fim do dia e se entendem apenas pelo olhar. A economista reconhece que não teria chegado onde chegou sem contar com alguém como Lulu.
— Ninguém consegue ser alguém sozinha. Vi muitas mulheres que ficaram para trás porque não tinham apoio ou não encontraram pessoas como a Lulu. Ela é funcionária? Sim. É remunerada? Sim. Mas é mais do que isso. Ela faz diferença na minha vida e na da minha filha também — pontua Patrícia.