Por trás de uma grande mulher existem outras grandes mulheres. Pensando nisso, convidamos quatro personalidades que são referência em suas áreas para indicar uma mulher que foi fundamental para elas se tornarem quem são.
A economista Patrícia Palermo, a primeira Miss Brasil negra e empresária Deise Nunes, a secretária de Saúde do Estado, Arita Bergmann, e a premiada cientista Marcia Barbosa contam suas histórias e apontam quem serviu de inspiração, apoio e ombro amigo – para além de suas próprias mães, indicação que costuma surgir de pronto na cabeça de qualquer uma de nós.
Às vésperas do Dia da Mulher, no próximo dia 8 de março, dividimos um convite para todas reconhecerem a rede feminina que fez diferença nas nossas vidas até aqui – e também para refletirmos como ainda podemos inspirar, na prática, a vida de tantas outras por aí. Abaixo, leia a história de Marcia Barbosa e Elisa Baggio Saitovitch.
"Elisa me inspira"
Marcia Barbosa é carioca, mas foi no Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) que fez a graduação, o mestrado e o doutorado. Em um ambiente dominado por homens, ela ouvia a história de uma gaúcha fora da curva, a tal Elisa Baggio Saitovitch, que havia passado por aqueles mesmos corredores e feito o caminho inverso – migrou justamente para o Rio de Janeiro, onde trilhou uma brilhante carreira no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).
E o que era uma admiração distante virou amizade no início dos anos 2000. Marcia participava da organização de uma conferência internacional sobre a restrita atuação das mulheres na Física e tomou coragem para convidar Elisa para participar. Foi daí que nasceu uma parceria para além dos números e fórmulas.
— Entrei em contato e disse: "Elisa, tu és superpoderosa, renomada e ainda tem filhos, o que traz ainda mais desafios. Topas?". Ela aceitou e foi arrasadora. No fim, decidiu que faríamos uma próxima edição no Brasil. Achei maluca a ideia, mas aceitei, e foi assim que nossa caminhada começou — relembra a cientista de 61 anos, reconhecida por entidades internacionais como a ONU e eleita em 2020 uma das mulheres mais poderosas do país, segundo a revista Forbes.
Admiro a Elisa porque ela sempre foi uma liderança feminina de cooperação, mas, ao mesmo tempo, agressiva para conseguir o que queria.
Trabalhando juntas, uma complementava a outra. Elisa era reconhecida pela destreza na captação de recursos e habilidade para colocar projetos em prática, enquanto a organização do cronograma ficava a cargo de Marcia. Quinze anos mais nova do que a gaúcha, a física carioca queria aprender o que pudesse com a veterana. Na prática, viu de perto uma mulher que fazia questão de abrir caminho para outras, e esse foi um importante ponto de conexão entre as duas.
— Muitas vezes, é a "vida de ser uma única mulher na sala". Por isso, é difícil encontrar outras para compartilhar o que passamos. A Elisa e eu nos entendíamos porque éramos alvo das mesmas sacanagens. A gente se validava, porque os ataques existem — relata Marcia. — As gerações anteriores normalizavam algumas atitudes machistas. Passar a perna, tentar inviabilizar a liderança, achar que mulher não pode estar naquele cargo. Os homens, muitas vezes, se achavam mais no direito de protagonizar.
Mesmo a distância, a amizade engrenou. Quando Elisa vinha a Porto Alegre, marcava um café com Marcia. Já nas vezes em que a carioca ia passear no Rio, fazia questão de visitar a gaúcha. E-mails, ligações e, hoje, via WhatsApp, seguem conectadas e unidas.
A cientista conta que elas são opostos na vida privada, mas isso traz ainda mais leveza para a relação. Elisa é louca por um bom vinho, Marcia opta por uma alimentação vegana. A gaúcha é quase uma carioca da gema, enquanto a cientista nascida no Rio prefere o agito cultural do que uma caminhada na praia. Elisa é mais reservada, Marcia é conhecida por ser extrovertida. Os múltiplos opostos viram motivo de riso, descontração necessária para recarregar energias e enfrentar os desafios da profissão:
— A gente se permite rir juntas. Na vida acadêmica, temos que manter uma postura de rigidez e firmeza, não podemos baixar a guarda. Admiro a Elisa porque ela sempre foi uma liderança feminina de cooperação, mas, ao mesmo tempo, agressiva para conseguir o que queria. Nunca achei que ficaríamos tão próximas. Ela me inspira — diz Marcia.