A estudante Juliana Estradioto descobriu que a ciência poderia ser também para mulheres e meninas. Mesmo que as circunstâncias dificultassem seu caminho, Onilia Araujo abriu seu negócio e agora desbrava espaços para outros negros no empreendedorismo. Já a estilista Rochele Gloor fez questão de dividir tudo o que aprendeu com os maiores nomes da moda em um projeto social no Morro da Cruz. Conheça as histórias inspiradoras das três vencedoras da 5ª edição do Prêmio Donna Mulheres que Inspiram, que decidiram fazer diferente para mudar a realidade – dos outros e delas próprias.
* Neste ano, a cerimônia de premiação precisou ser cancelada como medida de prevenção em razão do coronavírus. Mas nossas vencedoras foram homenageadas com mimos da Onodera Estética e delícias da Caracol Chocolates. Agradecemos aos nossos parceiros.
Rochele redesenhou a carreira
Ela passou oito anos indo à praia todo final de semana em busca da onda perfeita. Apaixonada por ciência, deixou o surfe de lado para frequentar as aulas de Radiologia. Mas a garotinha que, num desfile da quarta série, criou um look com vestido tubinho e camisa de organza ainda estava ali, pedindo passagem. A oportunidade de dar vazão a sua veia criativa chegou quando Rochele Gloor mudou-se para os Estados Unidos para acompanhar o então marido. Aproveitou a temporada norte-americana para se descobrir.
éÉosso dever, como cidadãos, doar para a sociedade, tanto dinheiro quanto conhecimento
ROCHELE GLOOR
Aos 28 anos, ingressava no Fashion Institute of Technology (FIT), uma das mais prestigiadas escolas de moda de Nova York. Logo, seu currículo começou a acumular experiências: trabalhou com expoentes da moda como Zac Posen e Francisco Costa, à época diretor-criativo da linha feminina da Calvin Klein. No ateliê de Oscar de La Renta, ajudou a vestir celebridades como a atriz Sarah Jessica Parker e a estrela pop Taylor Swift. Mas, quando o pai ficou doente, sentiu que era hora de voltar a Porto Alegre.
Assim que pisou em solo brasileiro depois de oito anos fora do país, Rochele tinha duas certezas. Ela queria criar sua própria moda, mas também precisava dividir o conhecimento adquirido. Começou dando o start na marca que leva seu nome, a RGloor, focada em luxo sustentável. No DNA da grife, preceitos que a estilista de 39 anos entende como fundamentais para quem faz moda hoje: a sustentabilidade e o impacto social. Os vestidos, saias e blusas são confeccionados pensando em como as sobras de tecido poderão ser aproveitadas – o chamado zero waste. São peças feitas para durar, atemporais, que não precisam (e nem devem) ser deixadas de lado a cada troca de estação.
— Se não mudarmos (a forma como a moda é feita), em 30 anos não sei onde estaremos, onde vamos colocar todos esses resíduos — reflete.
Decidida a dar um destino diferente aos tecidos que se acumulavam, Rochele resgatou outro desejo que a inquietava desde que havia voltado:
— Aprendi que é nosso dever, como cidadãos, doar para a sociedade, tanto dinheiro quanto conhecimento.
Assim nasceu o Atelier da Cruz, projeto social que ensina corte e costura para mulheres há cinco anos. Mais do que uma atividade que possibilita ganhos financeiros, a sala montada no alto do Morro da Cruz, na zona leste da Capital, tornou-se um ponto de refúgio para que elas dividissem suas histórias, angústias e sonhos. É a terapia do riso, como costuma dizer Rochele. Enquanto alinhavam uma camisa na máquina de costura, aprendem que seu trabalho pode render não apenas dinheiro, mas também sorrisos e gratidão. Como a vez em que criaram colchas de patchwork para um lar de idosos a partir de todas as sobras de tecido que recebessem: pedaços de camiseta, por exemplo, foram cuidadosamente cortados para virar o cobertor que seria entregue como presente de Natal.
No final de 2019, quando o projeto completava cinco anos, a comemoração veio com o desfile da mais recente coleção da RGloor na Brasil Eco Fashion Week, principal semana de moda sustentável do país. Mais uma vez juntas, peças costuradas pelas mulheres do Atelier refletiam a essência de Rochele.