Laren Stove, NYT
Quando o podólogo Ali Sadrieh abriu a Evo Advanced Foot Surgery, em Beverly Hills, há 13 anos, achava meio fútil que as mulheres quisessem operar os pés em função da dor quando usavam sapato de salto.
- As pacientes me traziam o sapato que sonhavam usar - contou ele, em entrevista recente no St. Regis New York, onde estava hospedado para ver algumas clientes. - A princípio, parecia absurdo, mas depois percebi que precisavam do calçado para projetar autoconfiança. Ele fazia parte de sua aparência. Esse é o mundo real.
Para Sadrieh (que estava usando um par de brogues personalizados da Gucci), a cirurgia nos pés é uma mistura de medicina e conto de fadas: em sua clínica, não há bunionectomia (cirurgia que elimina joanetes), só um procedimento chamado Cinderela.
- Nunca tive uma paciente que me pedisse "correção do hálux valgo com osteotomia e fixação com pino", por isso, decidi criar um nome que simbolizasse o resultado da cirurgia, sem jargão técnico. Qual é o objetivo do Cinderela? Permitir que se calce um sapato que antes não era confortável.
Ele também criou o Perfect 10! (encurtamento estético dos dedos dos pés - feito uma vez em uma modelo de 17 anos por causa dos sapatos que tinha que usar profissionalmente), o Model T (alongamento dos dedos dos pés) e o Foot Tuck, que aumenta o coxim de gordura da sola para acomodar melhor o salto alto.
E não é o único a se dedicar aos procedimentos direcionados exclusivamente aos pés.
O Dr. Neal Blitz, especializado em cirurgias estéticas e reconstrutivas (incluindo a bunionplastia) e que opera não só em sua clínica, em Manhattan, como também no Mount Sinai Hospital, se refere a essa parte do corpo como "a última fronteira" para aquelas que já fizeram cirurgias plásticas em todo o resto.
- Minha clínica foi invadida, tudo por causa de Manolo Blahnik, Christian Louboutin e Nicholas Kirkwood. Não existe prazer maior que poder abrir um armário de sapatos para alguém que teve que mantê-lo fechado durante anos.
Dr. Scholl ou Birkenstocks? Esqueça. Para o Dr. Oliver Zong, fundador da NYC Footcare e que se denomina "criador da plástica podal", é rotina cuidar de problemas como Pé de Salto Alto (termo que criou para descrever o pé deformado pelo uso excessivo desse tipo de sapato) e Dedo de Caroneiro (quando o dedo do pé é excessivamente grande e se destaca como o dedão de alguém que pede carona). Recentemente criou o termo "Obesidade dos dedos do pé", descrito em seu site, que também anuncia: "Pés perfeitos para sapatos de grife".
A estilista Cathy Hardwick, que deu a Tom Ford o primeiro emprego como assistente, fez cirurgia para retirada de joanetes dos dois pés com o Dr. Richard Frankel, fundador da Park 56 Podiatry, em 2008.
- Ele não queria operar porque eram minúsculas; não dava nem para ver, mas doía dependendo do sapato que eu usasse. Só concordou em operar anos depois, mas hoje meu pé está perfeito - e posso usar as sandálias que antes não podia.
De fato, é comum ver as pacientes entrando no Instituto Beauté da Dra. Suzanne Levine, uma clínica de podologia e spa medicinal na Park Avenue, com uma sacola cheia de sapatos que não podem usar por causa de joanetes e dedos deformados. Botas vitorianas, Jimmy Choos e Manolo Blahniks são só algumas das opções que mantém nas prateleiras de vidro - isso porque faz questão de checar quais as grifes que se adequam melhor a cada cliente, sabendo que tanto Prada como Michael Kors duram mais que a média das outras marcas, por exemplo.
- Tem gente que não vai para a praia nem para a piscina porque tem vergonha dos pés - conta a especialista, que usava botas da Michael Kors quando conversou comigo.
Suas soluções, descritas em cinco livros com títulos como Meus Pés Estão me Matando, incluem, entre outras, terapia com plasma enriquecido com plaquetas; injeções de células-tronco; preenchimento injetável para acolchoamento do metatarso; botox; Dysport e Myobloc para sudorese excessiva. Ela também defende a prática de exercícios para os pés.
Qual o pedido mais maluco já recebido?
- Uma vez uma paciente queria fazer lipo nos dedos dos pés - conta ela, ainda incrédula.
Dr. Zong disse que uma mulher pediu a remoção dos mindinhos para poder usar um sapato especial. Nenhuma das duas foi atendida. Dr. Jonathan T. Deland, chefe do Departamento de Pé e Tornozelo e cirurgião ortopédico do Hospital para Cirurgias Especiais, é contra qualquer procedimento cosmético, até os menos radicais.
- Mais importante que qualquer outra coisa é que o pé não doa e seja funcional. Se a paciente usa um salto de 6 cm sem dor, mas reclama quando usa um de 9 cm, então não há motivo para operar - afirma ele.
Deland também é cauteloso no que se refere às injeções de "acolchoamento" dos pés.
- Se houvesse uma que realmente funcionasse e durasse, muitos dos médicos bons a aplicariam porque esse é um problema muito comum. A verdade é que não há. E a paciente devia mais era pedir o artigo ou a referência que mostra o acompanhamento a longo prazo desse tipo de procedimento.
Entretanto, para Annette Healey, vice-presidente de serviços de varejo da CBRE, a bunionectomia era caso de necessidade.
- Para o cargo que ocupo não posso usar tênis - lamenta.
E aproveitou para fazer a cirurgia dois dias depois do Natal de 2011, "quando todo mundo estava em St. Barts, para poder me recuperar usando botinhas forradas".
O cirurgião Craig Radnay lhe disse que até seu andar estava ficando comprometido pelo problema, e que as costas também começavam a sofrer.
Agora ela garante que pode caminhar até 30 km em botas de salto.
- Para quem mora em Nova York, o meio de transporte são os pés.
E embora passe 95% do tempo de rasteirinhas ou salto anabela, agora também pode exibir Prada, Manolo e Gucci. Mas há limites.
- Infelizmente nunca vou poder desfilar de Christian Louboutin - suspira.