Malu está separada há um ano, após um casamento de mais de uma década com Pedro, antigo colega da faculdade. Desde que cada um decidiu viver sua própria vida ela tem dedicado todo o seu tempo à profissão, aos pais e ao filho de 12 anos. Há poucos dias, porém, confessou sentir falta de companhia masculina. Melhor dizendo: de um namorado, um amor, um chamego - qualquer coisa que aqueça o seu coração e traga de volta aquela sensação gostosa de sentir- se querida e desejada.
- Falta alguma coisa, vocês entendem? Por mais que eu me ocupe e que mantenha a agenda cheia, sempre tem uma hora em que bate um vazio aqui no peito. No começo, achei que a separação iria me deixar feliz, afinal, teria minha liberdade de volta. Mas hoje eu vejo que não nasci para viver sozinha - comentou Malu, num papo entre amigas.
As mulheres, sempre muito solidárias nesta hora - não conheço uma que não goste de bancar o cupido -, começaram a bolar mil maneiras de fazer Malu encontrar um amor. Maria disse que poderia apresentá- la ao seu irmão, que também está solteiro.
- Como ele é? - perguntou Malu.
- Um cara bonito, alto- astral. Vive malhando, pra ficar em forma. Só tem um defeito: não pode ver um espelho na frente. Passa horas admirando seus músculos.
Malu desconversou. Um cara narcisista é tudo o que ela não precisa. Léa ia sugerir o Paulinho, professor da faculdade, mas lembrou que ele só gosta de gatinhas, e Malu já está chegando aos 40. Preferiu ficar quieta.
Joana lembrou-se de um colega de trabalho. Mas as qualidades dele também não despertariam interesse na amiga. O homem, quando não está trabalhando no escritório, só gosta de futebol e videogame. São incompatíveis, já que Malu adora cinema, teatro e rodinhas de samba em barzinhos à beira-mar.
Amélia lembrou Malu que aquele antigo namorado que ela teve no Ensino Médio e de quem gostava muito na época tinha alterado há pouco tempo seu status no Facebook, de "relacionamento sério" para "solteiro".
- Quem sabe vocês dois não reatam o namoro da adolescência - sugeriu Amélia.
- Deus me livre! Terminei o namoro porque não suportava mais o hálito dele, cheirando a alho o dia inteiro! Só de pensar já fico enjoada!
Camila pensou, pensou e lembrou- se de um vizinho do prédio.
- Já sei! O Sandro! Ele é um cara legal, curte arte, cinema, cozinha superbem, é divertido, cuida do corpo, deve ganhar um bom salário e tem um sorriso estonteante.
Dessa vez, todas se interessaram (até as casadas). Quem não quer um cara assim? Mas a alegria durou pouco. Uma delas conhece bem o Sandro, e conhece também o namorado dele.
- Gente, o Sandro é gay. Tiraram ele da lista, e foram cortando outros nomes, até não sobrar um.
Só uma amiga permanecia quieta, reservada. Era Lili, a psicóloga. Ela pediu a palavra e, de forma solene, disse:
- Maria Lúcia. Não somos nós que vamos achar um namorado para você. Essas coisas não funcionam assim. Sei que está destreinada, mas sempre é tempo de reaprender a namorar.
E deu dicas que servem para todas as mulheres que vivem situações parecidas.
Se por um lado o corpo não é mais o de uma jovenzinha, você tem hoje várias outras armas poderosas para a sedução: maturidade, senso de humor, tranquilidade, sensualidade e charme. Saia de casa, divirta- se, frequente lugares alegres, sinta- se segura e, com certeza, despertará a admiração dos homens. Engatar um novo romance será, então, apenas uma questão de tempo e de vontade.
Viviane Bevilacqua: Começar de novo
Viviane Bevilacqua
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