Todo mundo que escreve gosta de receber cartas (e-mails) de seus leitores, e eu não sou diferente. Procuro sempre responder a todas, mesmo que às vezes demore um pouco. Na maioria das vezes as pessoas escrevem comentando o que acharam deste ou daquele texto, ou, então, sugerindo temas para novas crônicas.
Outras vezes, entretanto, as cartinhas são verdadeiros desabafos. É como se eu fosse uma amiga distante, que está aqui para ouvir confidências. O problema é que muitas vezes eu não sei o que responder. Como opinar sobre a vida de quem você nem conhece?
Há poucos dias, uma moça me escreveu contando que a filha dela sofre bullying na escola, e que ela já tinha procurado a direção da instituição e até o conselho tutelar, sem que alguém tivesse tomado qualquer providência. Contou detalhes de sua vida e, no final da extensa carta, escreveu: "Só por desabafar com você já me sinto bem melhor. Obrigada por me ouvir".
Foi o que fiz. Li a carta e respondi desejando que tudo terminasse bem, e que ela procurasse ajuda especializada.
Outra leitora me contou que sofre de depressão, apesar de todos à sua volta acreditarem que ela é feliz e sem problemas.
"Eu finjo muito bem, e só eu sei como é horrível esta solidão que sinto quando chego em casa. Já pensei inclusive em me matar", ela escreveu.
O que dizer? Sugeri também que procurasse um profissional de pudesse ajudá-la, e espero que ela tenha feito isto.
Esta semana, chegou mais uma carta, só que esta, muito divertida. A moça _ Alessandra é o nome dela _ quer a minha opinião: "sou uma pessoa estranha ou uma velha?", ela me pergunta.
Os fatos: ela gosta de ler o informe econômico publicado diariamente no jornal, sabe recitar os sonetos mais famosos de Camões, lazer é sinônimo de cinema com pipocas, passatempo é uma xícara de café ou chá e um livro, gasta mais com literatura do que com roupas, sapatos e maquiagens somados, gosta mais de barzinho do que de balada, de vinho branco do que de cerveja, prefere viajar do que ter um carro caro na garagem.
Alessandra diz que talvez nada disso fosse estranho, não tivesse ela menos de 30 anos. Por isso, pede que eu faça um "diagnóstico": "Afinal, eu sou só estranha ou sou velha para minha idade?", pergunta.
Querida leitora. Você não é nem estranha nem velha. Você só tem uma coisa rara de se achar hoje em dia, quando imperam BBBs, Naldos, McCreus e Calypsos: bom gosto. Fique tranquila e escreva sempre.
Queridos leitores
Viviane Bevilacqua
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