Mariane veio de Sorocaba, interior de São Paulo, com um grupo de amigos, passar o Réveillon em Florianópolis. Na noite da virada, a turma chegou cedo na Avenida Beira-Mar Norte para conseguir um bom lugar para ver o espetáculo pirotécnico e, principalmente, a tão falada cascata de fogos da ponte Hercílio Luz.
Extasiaram-se com o entardecer na Ilha, naquele dia 31. Sentaram na grama, perto do mar, para esperar a meia-noite. Lá pelas tantas, outra turma grande acomodou-se por ali, com cadeirinhas, cooler lotado de bebidas e até dois cachorrinhos, que latiam ruidosamente a cada foguete que era disparado. Mariane, apaixonada por cães, foi até lá bater um papo com os "vizinhos" de avenida. Fez um afago na cabeça de um dos cachorrinhos e perguntou:
- Como é o nome? Um jovem respondeu: o dele, Pig. O meu, Bernardo.
Mariana riu e levantou os olhos, para encarar o interlocutor. Paralisou. Algo aconteceu. Sentia o estouro dos fogos, embora ainda não fosse nem 10 horas da noite. Dentro do peito, uma bateria de escola de samba já comemorava o Ano-Novo. A noite tinha uma brisa fresca, embora ela sentisse um calorão inexplicável.
- Prazer - ela disse. Mais, não conseguiu. Bernardo sorriu, com aquele sorriso de propaganda de creme dental e se aproximou para dar dois beijinhos.
Mariane, que nunca foi tímida e muito menos boba, não conseguia agir normalmente. O cara era lindo demais para ser real. Depois do constrangimento inicial, o papo rolou. Ele contou que a turma toda era de Minas Gerais e que pela primeira vez vinha a Florianópolis passar as férias.
Hospedados num hotel do Centro da cidade, a cada dia visitavam uma ou duas praias. As mais famosas, já conheciam todas.
- De tudo o que vi, gostei mais da Lagoa da Conceição. É linda e, apesar de lotada de gente nesta época do ano, deve ser um lugar muito romântico. Com certeza deve ser um cenário lindo para casais apaixonados...
Mariane só ouviu o "apaixonados". Ela já se sentia assim. Foi tipo paixão à primeira vista. Só conseguia dizer aham... é... sim... não..., abestalhada com a beleza e simpatia do moço. O tempo passava e a praia ficava cada vez mais lotada. A meia-noite se aproximava, e Mariane já nem queria mais saber de fogos de artifício e cascata na ponte. Aliás, ela já nem sabia mais pra que lado ficava a velha Hercílio Luz. Só tinha olhos para Bernardo.
Um pouco antes da meia-noite começa o espetáculo no céu. Fogos em formato de estrela, de rostinhos com sorriso, de corações vermelhos... Mariane procurou Bernardo para dar-lhe um abraço de feliz Ano-Novo (que bela desculpa!) e ficou paralisada quando o viu de mãos dadas com outro carinha lindo, rostinhos colados, sorrisos cúmplices.
Ela voltou para sua turma, abriu uma champanha, tomou quase metade num gole só e, suspirando, comentou com uma amiga:
- Foi melhor assim. Ele era areia demais pro meu caminhãozinho. Eu ia morrer de ciúme se ele fosse meu namorado. Homem bonito demais só serve para dar trabalho. E brindou a chegada de 2013, sem sequer olhar mais para a turma ao lado.
Um quase amor
Viviane Bevilacqua
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