O cineasta francês Benoît Jacquot foi formalmente indiciado nesta quarta-feira (3) pelo estupro das atrizes Julia Roy e Isild Le Besco, informou o Ministério Público à AFP. O diretor de 77 anos havia sido detido na segunda-feira (1º) para ser interrogado pela polícia, assim como o renomado diretor Jacques Doillon. Este último acabou sendo liberado no dia seguinte "por razões médicas" e não foi denunciado até o momento.
Após dois dias de prisão provisória, Jacquot foi indiciado pelo estupro de Julia Roy em 2013 e de Isild Le Besco entre 1998 e 2000, além de violência e agressão sexual contra a primeira. O cineasta também foi colocado sob o estatuto mais favorável de testemunha assistida no que diz respeito aos estupros conjugais contra Julia Roy em 2007 e Isild Le Besco entre 2014 e 2018.
A promotoria havia pedido o indiciamento formal de Jacquot por "estupro, agressão sexual e violência, supostamente cometidos entre 2013 e 2018" contra Julia Roy e por "estupro de menor por pessoa com autoridade, estupro por convivente, supostamente cometidos entre 1998 e 2000, e em 2007" contra Isild Le Besco.
"Em ambos os casos, as denunciantes que relataram fatos que não constam nas acusações retidas serão contatadas pessoalmente", destacou o MP.
A investigação preliminar teve início após a denúncia apresentada pela atriz Judith Godrèche contra os dois cineastas, que negaram as acusações. Judith, 52 anos, acusou publicamente Jacquot de estupro em fevereiro e depois, Jacques Doillon de agressão sexual, desencadeando uma nova onda do movimento #MeToo no cinema francês.
As acusações de Judith, que pediu coragem para toda mulher que tiver sofrido o mesmo tipo de abuso no showbiz, resultou em declarações públicas e denúncias formais de várias trabalhadoras do setor na França. A advogada de Jacquot, Julia Minkowski, não quis fazer declarações, embora tenha criticado anteriormente "os ataques incessantes" à presunção de inocência de seu cliente.
Relação com as atrizes
Isild Le Besco, hoje com 41 anos, apresentou a denúncia contra Jacquot no final de maio. A atriz, que começou no cinema francês no final da década de 1980, rodou cinco filmes sob a direção do cineasta: Sade (2000), Adolphe (2002), Até já (2004), Dalit — Intocável (2006) e No Fundo da Floresta (2010), bem como um filme para televisão, Marie Bonaparte (2004).
Já Julia Roy rodou quatro filmes dirigidos por Jacquot: Até Nunca Mais (2016), Eva (2018), O Último Amor de Casanova (2019) e Suzanna Andler: Sob o Sol da Riviera (2021).
O caso de Judith Godrèche remonta a quase 40 anos, quando a atriz iniciava no cinema francês. Benoît Jacquot foi companheiro dela a partir de 1986 — quando ela tinha 14 anos e ele, 39 — e o casal assumiu um relacionamento público até a separação, em 1992.
Os pais de Judith consentiram em dar a emancipação legal à atriz, quando ela ainda não tinha completado 18 anos. Ela afirma que a relação com o cineasta era de "controle" e "perversão" e que ela sofreu estupros.
Quanto a Doillon (atualmente com 80 anos), Judith o acusou de "colocar os dedos na (sua) calcinha" durante os ensaios de um filme lançado em 1989. Na época da gravação, ela tinha 15 anos e estava namorando Jacquot.
Julgamento de Depardieu
"Estas denúncias (de Isild Le Besco e Julia Roy) não prescreveram. O período que denunciei prescreveu. Mas me sinto ouvida por meio desta decisão", reagiu Judith Godrèche no Instagram.
Enquanto isso, a Justiça francesa examina outros casos conhecidos, como o do ator Gérard Depardieu, que aos 75 anos enfrenta várias investigações há anos. Em outubro, o artista será julgado por agressões sexuais contra duas mulheres durante uma gravação em 2021.
O Parlamento francês decidiu criar uma comissão de investigação sobre a violência sexual no mundo das artes cênicas e da publicidade, que começou a funcionar em maio, mas a convocação de eleições gerais antecipadas para 9 de junho interrompeu o trabalho.