O príncipe Harry, 38 anos, alfinetou o irmão mais velho, o príncipe William, durante um depoimento considerado histórico. O filho mais novo do rei Charles III testemunhou por cinco horas na terça (6) e por mais três horas na quarta-feira (7), na Alta Corte de Londres, onde o Mirror Group Newspapers (MGN) é julgado desde 10 de maio. Essa foi a primeira declaração à Justiça de um membro da família real britânica desde 1891.
Sem citar nominalmente William, Harry o contradisse ao mencionar a suposta paranoia da mãe, a princesa Diana, com relação a invasão de privacidade por parte da imprensa.
— Sempre ouvi pessoas se referirem à minha mãe como paranoica, mas ela não era. Ela estava com medo do que realmente estava acontecendo com ela e agora eu sei que eu passei o mesmo — disse.
Em maio de 2021, o príncipe William afirmou à revista americana Newsweek que a cobertura da imprensa havia dito que a mãe sofria de paranoia. "Traz uma tristeza indescritível saber que reportagens contribuíram significativamente para seu medo de Diana, paranoia e isolamento, que me lembro daqueles últimos anos com ela", comentou William.
Ataque a tabloides
Harry também criticou um grupo de tabloides britânicos que ele acusa de "hackeamento telefônico" em "escala industrial" para obter informações ilegalmente, como parte de seu depoimento.
— Tem sido difícil — admitiu, visivelmente emocionado, quando seu advogado, David Sherborne, perguntou como ele se sentia ao relembrar em público o assédio da mídia que ele denuncia.
Harry, dois atores de televisão e a ex-esposa de um comediante acusam o MGN, grupo editorial a cargo do jornal Mirror e da revista Sunday People, entre outros veículos, de obter informações sobre eles entre 1996 e 2011 por meio de métodos ilegais, que incluem a interceptação de mensagens em suas caixas postais.
— O hackeamento telefônico ocorreu em escala industrial em pelo menos três jornais na época, e isso está fora de qualquer dúvida — afirmou o duque de Sussex, que ainda considerou que "seria uma injustiça" o tribunal não aceitar as denúncias.
Clive Goodman, jornalista do periódico News of the World - que não é propriedade do MGN - e o detetive particular Glenn Mulcaire foram condenados em 2007 a vários meses de prisão por hackearem os telefones de Harry e de seu irmão mais velho, William, agora herdeiro do trono britânico.
— Quanto sangue mais vai manchar os dedos com que escrevem antes que alguém acabe com essa loucura? — questionou Harry, que mora na Califórnia desde 2020 com sua esposa, a americana Meghan Markle.
O casal citou a pressão da mídia sensacionalista britânica e os ataques racistas à atriz entre os motivos para abandonar a monarquia e o Reino Unido. O duque de Sussex, que desde então mantém relações muito tensas com a família real, disse temer que acontecesse com sua esposa algo parecido com o acidente de trânsito em que a mãe morreu em 1997. Ele também culpa vários tabloides, contra os quais iniciou outras batalhas judiciais, pela inimizade com sua família.
No final de março, Harry fez uma aparição surpresa na Alta Corte de Londres para audiências preliminares contra a ANL, editora do Daily Mail, também acusada de usar métodos ilícitos na coleta de informações por várias celebridades, incluindo o cantor Elton John. Naquela ocasião, Harry não testemunhou.
Incidente na Argentina
O intenso interrogatório feito por Andrew Green, um advogado do MGN, revisou vários detalhes particulares sobre a vida do príncipe, desde seu relacionamento com seus pais até seu consumo de álcool e drogas quando jovem. Harry teve que admitir que muitas dessas informações foram publicadas por outros jornais, mas acusou o Mirror de ir além, obtendo informações por meios ilegais que disse não poder provar porque as evidências "foram destruídas".
Depois, em resposta a uma pergunta do juiz, ele lembrou que, em 2004, teve de ser retirado de uma fazenda na Argentina por motivos de segurança e levado para a embaixada britânica em Buenos Aires para retornar imediatamente ao seu país.
Na época, a imprensa noticiou "o temor de um possível plano para sequestrá-lo". No entanto, disse que só se lembrava "da quantidade de paparazzi muito agressivos cercando a fazenda e da polícia local dizendo que a única maneira de se livrar deles era pagando".