O príncipe Harry deve comparecer a um tribunal de Londres, Inglaterra, nesta terça-feira (6), para testemunhar em um processo contra o Mirror Group Newspapers (MGN), editor do jornal Mirror e da revista Sunday People, entre outras publicações. Ele será o primeiro membro da família real britânica a depor na Justiça desde 1890, quando Edward VII foi ouvido em um julgamento por difamação – antes de se tornar monarca.
O filho caçula do rei Charles III e outras celebridades acusam a MGN de coletar informações sobre eles de forma ilegal, incluindo invasão de telefones. A expectativa era de que ele comparecesse nesta segunda-feira (5) à Alta Corte de Londres, onde jornalistas e fotógrafos o aguardavam desde o início da manhã.
Seu advogado, David Sherborne, informou, no entanto, que Harry vai depor somente na terça, pois estava comemorando o segundo aniversário de sua filha, na Califórnia, Estados Unidos, e não chegaria ao Reino Unido antes da noite de domingo.
A última vez que o duque de Sussex esteve na Inglaterra foi na cerimônia de coroação do pai, em 6 de maio. Ele compareceu ao evento sem a esposa, Meghan Markle, e depois voltou imediatamente para o país norte-americano, onde o casal reside desde 2020.
Harry, que abalou a monarquia britânica quando ele e Meghan anunciaram, há mais de três anos, que estavam deixando a instituição, tem outros processos abertos contra a imprensa em seu país. Entre os motivos para deixar o Reino Unido, o casal citou a "pressão insuportável da mídia" e ataques racistas à atriz.
Relação tensa com a imprensa
Harry já apareceu de surpresa em um tribunal de Londres em março, em outro processo por violação de privacidade movido por várias celebridades – como o cantor Elton John – contra o grupo Associated Newspapers Ltd, editor do jornal Daily Mail. Ele, no entanto, não falou no julgamento, tendo apenas apresentado seu testemunho por escrito.
O príncipe, quinto na linha de sucessão ao trono, e sua esposa mantêm relações muito tensas com a imprensa. Há algumas semanas, ambos relataram ter sofrido uma perseguição de carro "quase catastrófica" por parte de paparazzi nas ruas de Nova York, Estados Unidos.
As autoridades locais minimizaram o episódio e tabloides relembraram o acidente de trânsito de 1997, em Paris, que matou a mãe de Harry, a princesa Diana, enquanto era perseguido por fotógrafos.
Em sua série documental Harry & Meghan e em seu explosivo livro de memórias O que sobra, o príncipe acusou outros membros da monarquia britânica de conivência com a imprensa. Já em documentos apresentados aos tribunais em abril, afirmou que a família real havia chegado a um "acordo secreto" com um editor para evitar que qualquer um de seus membros tivesse que depor. Isso o impediu, alegou Harry, de entrar com uma ação enquanto vivia a serviço da Coroa.
"Indícios" de comportamento ilegal
Harry e outros famosos, incluindo dois atores de televisão e a ex-esposa de um comediante, acusam algumas publicações do MGN de coletar informações sobre eles usando métodos ilegais. No início do julgamento, em 10 de maio, o MGN reconheceu "alguns indícios" de coleta ilícita de informações, pediu desculpas e garantiu que "esta conduta nunca mais se repetirá".
O advogado do grupo, Andrew Green, negou, no entanto, que mensagens de correio de voz tenham sido hackeadas e argumentou que alguns processos foram apresentados tarde demais, décadas depois dos supostos eventos. Sherborne denunciou, por sua vez, atividades ilegais "em escala industrial" por parte da MGN, com a aprovação de altos executivos.
Um biógrafo do príncipe, Omid Scobie, coautor de um livro sobre Harry e Meghan publicado em 2020, testemunhou que, enquanto estagiava no Sunday People, ele foi ensinado a hackear mensagens de voz. Também contou que, quando trabalhou no Mirror ouviu o então editor Piers Morgan dizer que uma informação sobre a cantora Kylie Minogue havia sido obtida com uma mensagem de voz. Morgan, diretor do tabloide de 1995 a 2004, negou qualquer envolvimento na invasão dos telefones.