A ideia de diminuir o ritmo, definitivamente, não passa nem perto do ideal de felicidade de Vanessa Giácomo. De suas características mais marcantes, a inquietude é uma das que ela coloca no topo da lista e que impulsiona suas ideias em tudo o que se permite entregar.
E tem orgulho de viver antenada ao que ocorre ao redor, renovando o próprio senso de oportunidade, ainda que isso seja desafiador para uma mulher profissionalmente ativa, casada e mãe de três nos dias atuais.
— Sou objetiva no dia a dia. Organizo tudo para dar conta do que me proponho a fazer, afastando de mim sentimentos como a culpa e a ansiedade — comenta ela, em nosso bate-papo via WhatsApp.
Libertar-se das angústias talvez seja mesmo o segredo do equilíbrio, tendo em vista o que a atriz, roteirista e empreendedora demonstra nos 20 anos em que a vemos na TV, no teatro, no cinema e à frente de marcas de moda e beleza.
Do pouco que deixa à mostra sobre sua vida pessoal até as bandeiras que levanta com energia, Vanessa é considerada uma inspiração para sua geração. Aos 40 anos, comemorados na quarta-feira (29), defende a busca pela autoestima, pelo empoderamento feminino e pela liberdade de escolha sobre o corpo.
Isso inclui procedimentos estéticos, dos quais faz uso e recomenda a quem também tiver vontade. Camaleônica, trata o visual como extensão do autocuidado e reflexo das mensagens que transmite.
O corte pixie de Leonor, na novela Travessia, da Globo, é um exemplo. Embora se declare diferente de sua personagem em muitos aspectos, diz ter gostado da praticidade que, sim, tem tudo a ver com sua vibe:
— Esse cabelo é uma delícia de cuidar. Prático demais. Adorei! A única preocupação é manter o corte em dia, porque cresce rápido demais. Mas quando a novela acabar, devo mudar de novo. Vamos ver se vou desapegar.
Da trama das 21h também fluem debates pontuais, como o relacionamento com um homem assexual e as relações entre pais e filhos. Sem receio de dizer o que pensa, Vanessa reflete sobre o assunto e o que experiencia na maternidade com Raul, 15 anos, Moisés, 12, (ambos do casamento com o ator Daniel de Oliveira) e Maria, 8 (do atual marido, o empresário Giuseppe Dioguardi). Revela, ainda, o que faz quando precisa “zerar o HD para receber novas experiências e tirar sabedoria delas”.
Confira a entrevista
Sua personagem em Travessia lança luz ao tema da assexualidade. Como você vê essa abordagem?
A novela tem seu propósito, que é entreter. Quando isso vem acompanhado de informação, debate, conflito, tem um sabor especial. Essa é uma das características da (autora) Gloria Perez. Ela gosta de tocar em pontos sensíveis da sociedade moderna. E, por mais que a gente venha mudando nossos hábitos de consumir audiovisual, a novela segue muito potente enquanto produto cultural no Brasil, bem como a TV.
É a oportunidade de ter a família reunida, mesmo que fragmentada, em torno de um tema sobre o qual não se discute normalmente. É a chance desse assunto entrar nas casas, nas relações. E o diálogo é sempre a melhor via para resoluções.
Você enxerga evolução na forma como as famílias encaram essas questões relacionados à sexualidade?
Ah, sim! Há uma mudança grande, mas é um processo do qual estamos no meio. Principalmente, de aprendizado, de quebra de antigos olhares impregnados de preconceito. Temos que entender que a intolerância não pode mais ter espaço.
Temos que ter uma escuta aberta, exercitar essa capacidade que todos temos de nos colocar no lugar do outro. Especialmente, se esse lugar nos causa desconforto a um primeiro olhar. Não há mais espaço para: “desculpa, eu não sabia...”. A informação está aí ao alcance da nossa mão.
Você conversava sobre sexo com seus pais na adolescência?
Sempre tive muita troca e escuta. Quando era adolescente, o cenário era bem diferente dos dias de hoje, mas ainda assim, a minha família nunca foi terreno fértil para tabus. Falávamos sobre tudo, porque tínhamos uma ótima rede de confiança entre nós. O sexo era um dos assuntos, claro. Mas percebo que hoje, com meus filhos, tudo é ainda mais claro e direto.
A informação está em todos os lugares. É de fácil acesso. Por isso, dentro da minha casa, além de ser a figura que representa seguranca, cuidado e afeto, quero também ser aquela que acolhe, que orienta, que escuta.
Falando sobre maternidade, como você descreveria seu momento? Mães crescem junto com os filhos?
Com toda a certeza do mundo. Começa na gestação. Quando a gente fica craque em gestar, o bebê nasce. Quando passa a entender essa nova relação com essa nova pessoa, ela cresce e vira uma criança, que fala, anda, tem seu próprio paladar e sua personalidade. E por aí vai.
Estou entrando na adolescência. E tudo é novo para mim. A gente aprende sim, erra, acerta. Repete erro por amar demais. Tem que dosar a bronca e o abraço, mas tudo sem abrir mão do afeto. E tem as telas. E tem o ensino remoto. É um aprendizado sem fim.
E vem algum sentimento diferente com a chegada aos 40 anos?
Olho para a minha estrada de vida, minhas escolhas, e até para os meus erros sem julgamentos, sem culpa ou cobrança. Tudo o que eu fiz foi resultado do meu esforço em fazer aquilo que, na época, foi o meu melhor. Esses 40 anos são um pouco de um balanço disso tudo. E um recomeço de muitas expectativas para ainda realizar muitas coisas.
A gente precisar se amar, não pode mais se punir.
VANESSA GIÁCOMO
Atriz e roteirista
O passar do tempo traz algum receio, como a menopausa?
Não reluto com o que é naturalmente esperado que aconteça. Me cuido, me trato, invisto em tudo o que ajuda a prevenir (os sintomas). E hoje meu foco maior está em fazer escolhas para que tudo aconteça da melhor forma possível.
Se puder fazer algo que reduza os impactos da menopausa, farei. A mulher encara muitos desafios, como as alterações hormonais, que impactam até o nosso metabolismo. Acho que a saída é driblar o tempo com inteligência, sabedoria e afeto com a gente mesma.
Sabemos que você é vaidosa. Mudou algo ao longo dos anos?
Acho que tudo muda ao logo do tempo, porque diz respeito à maturidade. A gente amadurece e passa a olhar para as nossas relações de maneiras que vão se modificando com o passar do tempo, com os ensinamentos que a vida traz. Minha vaidade sempre esteve muito ligada à carreira de atriz. Mas agora acho que também tem uma íntima relação com o bem-estar, com qualidade de vida, com a forma como eu quero estar daqui a 10, 20, 30 anos.
Você é adepta aos procedimentos estéticos?
Sim. E cada um sabe a medida do que deseja e suporta. Ninguém tem o direito de apontar o dedo para o outro, porque fez ou deixou de fazer um procedimento. Acho que o limite é apenas a segurança. Não vale qualquer coisa, como se arriscar com profissionais não qualificados ou usar substâncias que fazem mal. Gosto de fazer os minimamente invasivos. Mas é uma escolha muito particular. E isso serve para mim.
O que você considera essencial para se curtir no dia a dia?
Sempre digo: todo mundo pode e deve mudar, melhorar, se assim desejar. Não gosta de usar o cabelo de um jeito, muda. Está infeliz com a imagem que enxerga no espelho, muda. O que não pode é não se amar por não estar do jeitinho exato que se deseja. A gente precisar se amar, não pode mais se punir, se privar, se envergonhar ou se esconder. Corpos só se libertam quando cabeças e corações se mantêm livres.
E o mais importante: nada de comparações. A gente não sabe da vida do outro, das lutas, das batalhas, do tanto que essa pessoa se dispôs a ser dessa ou daquela forma. Cada um tem a sua história. E se essa comparação for através da rede social, pior ainda. A rede social é um recorte muito maquiado da nossa realidade e não tem nenhum juízo de valor na minha frase. Mas é uma verdade que precisa ser lembrada pelas pessoas.
O que faz pela saúde da mente?
Tenho o privilégio de trabalhar com aquilo que amo e para o que sou vocacionada. A arte me inspira, me fortalece e me equilibra. Ver um filme, ler um livro, assistir a um show. Tudo isso ajuda a arejar a mente. Minha família é a base de pilares sólidos. Estar com eles é resgatar valores que dizem muito sobre mim e isso também ajuda a manter a mente sã.
Descansar é outra coisa que, nos dias de hoje, não é prioridade para quase ninguém. E isso é tão necessário, mas tem algo, em especial, que me reabastece. Tenho uma cabeça que não para. Adoro criar, empreender. Dar vazão a isso me deixa ativa, viva. E isso me faz muito bem.
Equilibrar carreira e maternidade é ainda um desafio?
É um desafio para todo mundo, mas a mulher carrega um peso a mais nessa correria dos dias de hoje. Acho que sou ligada no 220 volts, mas tenho uma rede de apoio que faz toda a diferença na minha vida. Tem algumas funções da maternidade de que não abro mão. Para isso, tento ser prática e organizada, estabelecendo uma escala de importância de tudo o que está no meu entorno.
Mas sou muito maleável, porque acredito que não adianta ter esse pensamento de fazer isso ou aquilo a ferro e fogo. Todo mundo faz concessões. Faz parte. Algumas coisas são inegociáveis, claro. Acho que todo mundo deve ter algo que não está à venda. No geral, acho que a inteligência emocional e a sanidade mental estão, também, nas batalhas que a gente escolhe enfrentar.
E o que faz para relaxar?
Quando estou no ar, aproveito os dias de folga para ficar em família, realizar trabalhos que não estão relacionados à novela e cuidar de mim – não necessariamente nessa ordem de prioridade. Além disso, adoro cozinhar, preparar a casa para receber amigos, jogar conversa fora e dar boas risadas. Sou uma pessoa de muitos amigos e meu marido tem essa mesma energia. Adoro estar em contato com a natureza, que é também uma forma de reconexão com o que é importante para minha vida pessoal.