O personagem certo na hora certa. Com 35 anos de carreira, Deborah Evelyn celebra a volta à TV vivendo a ex-modelo e estilista Betty de Verdades Secretas 2, que está no ar no Globoplay, após longa pausa nas gravações em razão da pandemia. Na trama, a atriz interpreta uma mulher segura de si, plenamente consciente do seu poder e da sua beleza.
— A minha autoestima foi melhorando com os anos. Obviamente tem a questão da juventude, que te dá um frescor, mas antes era mais dura comigo mesma, me cobrava mais. Fui envelhecendo, mas fui melhorando minha autoestima. Me cuido, gosto de ter uma vida saudável e de me sentir bonita, desejada. Consegui equilibrar melhor as coisas com o passar do tempo. A Betty veio no momento certo por conta disso, desse momento na minha vida pessoal — revela.
Aos 57 anos, Deborah protagoniza as cenas de sexo mais ousadas que já fez nas telas, contracenando com o ator Bruno Montaleone, 25. Embora sinta-se confortável com a própria nudez, como contou em entrevista por telefone à Donna, a atriz diz que nunca é fácil ficar completamente nua em frente às câmeras.
Me cuido, gosto de ter uma vida saudável e de me sentir bonita, desejada.
DEBORAH EVELYN
Atriz
Ela entrega que aceitou encarar a personagem na continuação da novela de Walcyr Carrasco por saber que as partes mais quentes da trama seriam tratadas sob um ponto de vista feminino — a diretora Amora Mautner declarou recentemente que são cenas de sexo como ela gostaria de ver. Além disso, defende a importância de se ter uma mulher madura falando abertamente sobre sexo, masturbação, desejo, orgasmo, temas ainda considerados tabu.
— São cenas muito sensuais, femininas, delicadas e, ao mesmo tempo, fortes. A gente fica muito exposta, mas sempre houve um olhar criterioso — afirma. — É um olhar de a mulher não ser só objeto de prazer do homem, mas de ter o próprio prazer e tomar a frente da história.
Se o marido sente ciúmes? Pelo contrário, ela conta que aceita numa boa e entende que é parte da sua profissão. Deborah é casada desde 2014 com Detlev Schneider, arquiteto que mora em Nuremberg, na Alemanha. Os dois vivem um relacionamento à distância há uma década, se somados os anos de namoro, e a saudadezinha que bate só ajuda a aproximá-los ainda mais, diz a atriz. Depois que se encerrarem as gravações de Verdades Secretas 2, Deborah já tem destino certo: curtir um período de descanso na Europa, pertinho do seu parceiro. Antes, a atriz foi casada por 24 anos com o diretor de TV Dennis Carvalho, com quem teve sua filha única, Luiza, 28.
Em um bate-papo leve, descontraído e franco, Deborah revelou os seus planos profissionais, falou sobre sexo, moda, casamento e família, contando detalhes de sua relação com a filha e com a tia, a atriz Renata Sorrah, uma das suas grandes influências de vida e de profissão.
A Betty é uma personagem que chega trazendo várias polêmicas. O que você acha que pode impactar mais: a quebra de um modelo tradicional de família (a personagem é casada, tem dois enteados e os quatro acabam se envolvendo com o mesmo homem), ou ser uma mulher que tem relações com garotos de programa?
As duas coisas estão ligadas. Ela quebra esse padrão porque se relaciona com garotos de programa, mas vai acabar se envolvendo mais com um deles. Fora isso, tem a questão de ser uma mulher muito forte, independente, apesar de ser casada com um homem rico, que a ajuda. Mas ela tem um espírito independente, por isso se sente à vontade de fazer esse tipo de coisa. Ela tem essa liberdade, criou uma grife muito moderna, é atual, feminista, vai atrás dos desejos dela.
O importante é existir um respeito mútuo, dos atores com a equipe e dos atores entre si.
DEBORAH EVELYN
Atriz
Verdades Secretas 2 tem várias cenas de sexo (67, ao todo, em 50 capítulos). Como foi fazê-las? Você se sente confortável com a exposição do corpo?
Nunca é fácil fazer, mas as cenas foram tratadas de uma maneira impressionantemente respeitosa, delicada, apesar de fortes. Além de serem cansativas, porque são cenas muito físicas, como se fosse um balé, e a gente fica repetindo, oito horas fazendo isso. É bastante complexo, mas aceitei fazer porque sabia que ia ser tratado dessa maneira. No ar, é lindo, é sexy, mas é com muito respeito. A do primeiro capítulo é uma das mais lindas e fortes que já fiz entre cenas de sexo. Não conhecia o Bruno (Montaleone) e a primeira vez que o encontrei para gravar foi para fazer cena de sexo. Claro que falei com ele antes, conversamos por telefone, vídeo, mas a primeira vez pessoalmente foi ali, então é sempre uma situação (risos). A gente se deu muito bem, o Bruno é um ótimo ator, é um querido, chegou com muita garra para fazer tudo certo, e aí você vai fazendo acordos com o seu colega, sabendo qual o limite de cada um. O importante é existir um respeito mútuo, dos atores com a equipe e dos atores entre si.
Como costuma ser a sua rotina de cuidados com a beleza, com o corpo?
Não é nada exagerado. Malho quando consigo. Sempre tive personal trainer ou malhava sozinha, e na pandemia comecei com um professor muito bom, com uma proposta online, que mudou bastante a minha vida. Comecei a malhar todos os dias, quando posso, coisa que não fazia. Também fui numa nutricionista, que nunca tinha ido antes, para me ajudar na alimentação. Você passa muitas horas gravando, é sempre muito difícil. Já levava marmita, mas achava que precisava de algo mais entre o almoço e o final da gravação, porque a gente fica lá cinco a oito horas sem comer, então queria comer saudável. Fora isso, vou há algum tempo numa ótima dermatologista.
Você se inspirou em algum estilista para compor a sua personagem?
A Betty é totalmente inspirada na Isabel Marant (estilista francesa dona da grife de mesmo nome, conhecida por criar peças versáteis e cosmopolitas), que passa um pouco dessa personalidade de mulher moderna. As roupas dela são maravilhosas, não tem nada de careta. Vi vários desfiles, entrevistas, o figurino também é essa coisa mais calça jeans, camiseta, camisa e uma jaqueta bonita, grande, de couro. Totalmente baseado na Isabel Marant, não só na personalidade como na maneira de se vestir. Vi vários outros também, porque é um universo muito distante de mim, nunca fui ligada em moda. Procurei ajuda para entender como as estilistas ficam em dia de desfile, esse tipo de coisa que realmente eu não sabia, não fazia parte do meu vocabulário.
E o que não falta no seu guarda-roupa no dia a dia?
Não falta calça jeans, jaqueta de couro, bota, camiseta. E, no verão do Rio de Janeiro, um vestido mais compridão, um estilo nada perua.
Você vive um relacionamento à distância há 10 anos. Foi uma escolha desde o início?
Quando a gente começou a namorar, foi ok e tal, mas quando a gente decidiu casar, pensei: “Meu Deus, vou casar com alguém do outro lado do Atlântico, como é isso?” Mas, assim, apaixonada (risos). Era o melhor que temos, então vamos. Não vamos desistir por uma coisa que hoje em dia é mais fácil de resolver. Ele é arquiteto, mas tem a empresa dele, então pode viajar, pode vir para cá. E aconteceu de a gente ficar sempre com um relacionamento muito fresco, nem parece que estamos juntos há 10 anos. Apesar de que nesse tempo todo, tirando a pandemia, nunca tínhamos ficado mais do que quatro semanas sem nos ver. Ele vinha ou eu ia, sempre com um frescor, de ter muita coisa nova para contar, apesar de a gente se falar todo dia. Temos, claro, um monte de coisa para contar quando nos encontramos. Acabei achando bom, também porque não estamos na fase de criar filhos, aí seria complicado. Para criar filho, é importante estar próximo todos os dias, porque divide as tarefas e os dois têm essa oportunidade maravilhosa de ver o filho crescer. Para mim, isso é insubstituível.
Como é o convívio com a sua filha, Luiza? Você já contou que não gosta de dizer que é amiga, mas mãe dela.
É maravilhosa. Sou muito próxima da minha filha, a gente se fala todo dia. Quando ela era adolescente, me perguntavam se era amiga da minha filha e eu dizia: “Não, sou a mãe”. É outra categoria. Continuo sendo a mãe da Luiza, o que não me distancia dela nem um pouco, pelo contrário, até me aproxima muito. A gente fala de praticamente tudo, claro que tem coisas que ela vai conversar com as amigas, assim como tem coisas que converso com meus amigos, são setores diferentes. Fico muito feliz e agradecida de a gente ter conseguido construir a relação dessa maneira, de não ficar formal. A gente viaja juntas, ri juntas, conto minhas angústias para ela, ela conta para mim, a gente divide alegrias também. Para mim, é a melhor relação que posso ter.
E como é a sua relação com a Renata Sorrah? Vocês conversam bastante sobre trabalho nos encontros de família?
A relação é ótima. É uma tia e madrinha muito próxima, sempre foi, ela é uma pessoa bem família. Ela teve uma influência muito grande na minha carreira, desde pequena. Lembro de uma vez, acho que tinha no máximo 10 anos, morava em São Paulo e ela foi para lá com a peça Vagas para Moças de Fino Trato, com a Yoná Magalhães e a Glória Menezes, e me levava no teatro. Eu não podia ficar na plateia, ficava na coxia, e achava aquilo lindo, aquelas três mulheres se arrumando. Lembro também de uma vez quando era um pouco mais velha, fui para o Rio de férias e ela me levou na gravação de uma novela. Comecei a viver esse universo com ela. A gente é muito próxima, falamos muito de trabalho quando nos encontramos, mas também da vida. A nossa família é muito unida, é uma coisa importante nas nossas vidas.
Você tem uma participação ativa nas redes sociais e se posiciona sobre questões variadas. Isso tem trazido alguns haters? Como você lida com isso?
Tem trazido haters, sim, e às vezes dá vontade de parar, porque é uma energia ruim que vem. Mas não conseguiria não me posicionar nesse momento, é mais forte do que eu. Não se posicionar hoje em dia é muito estranho, é quase dizer que está tudo bem. Saiu no jornal dia desses sobre o novo disco do Caetano (Veloso), e ele falou que não perde a esperança no potencial do Brasil. Acho isso bonito, de a gente conseguir ter esperança. Não tem como se acostumar com o jeito que está.
Não conseguiria não me posicionar nesse momento, é mais forte do que eu
DEBORAH EVELYN
Atriz
Quais os seus planos para o futuro? Você tem projetos para ser retomados, não é mesmo?
Tenho dois projetos de teatro que eram para ter sido feitos em 2020 e 2021 e que vou retomar no ano que vem: a peça Três Mulheres Altas, com a Nathalia Timberg, e Bella Figura, com a Yasmina Reza. Sei que alguns teatros foram abrindo, mas eu não tinha vontade de voltar, porque não queria botar o público em risco. É uma coisa muito séria, mas espero que no ano que vem já seja possível, a vacinação já está avançada. Fora isso, tem Verdades Secretas 3, que eu saiba, e estou bem animada se tiver. Mas, por enquanto, quando acabar a série, vou viajar, estou indo para a Alemanha encontrar meu marido, ficar um tempinho por lá.
Ficha técnica
Fotos: Guilherme Lima
Styling: Samantha Szczerb
Looks: Deborah usa 613, Poema Hit e Segheto
Beleza: Guto Moraes
Agradecimentos: Rio Othon Hotel