
O príncipe Harry e a esposa, Meghan Markle, se despedem oficialmente nesta terça-feira (31) de seus deveres como membros seniores da família real britânica, apesar de já terem iniciado uma controversa nova vida nos Estados Unidos em meio à pandemia do coronavírus. O último compromisso do casal com a Coroa foi marcado por tensão, em 9 de março, em Londres.
O anúncio do afastamento, em 8 de janeiro, surpreendeu muita gente, inclusive a rainha Elizabeth II. Na época, o casal divulgou sua intenção de ser "financeiramente independente". Com isso, Harry, de 35 anos, sexto na linha de sucessão ao trono, e Meghan, 38, não poderão mais usar o título de alteza real, nem representar a monarca oficialmente.
Depois de um tempo no Canadá, o casal se mudou na semana passada para a Califórnia, onde a atriz americana mantém contatos de sua época como atriz e onde vive sua mãe, Doria Ragland. O presidente Donald Trump foi rápido em enfatizar em sua conta no Twitter que não pretende financiar sua proteção. Um porta-voz do casal logo respondeu: "Eles não têm planos de pedir ao governo dos EUA recursos de segurança. Foram feitos acordos de segurança com financiamento privado."
Na segunda-feira (30), Harry e Meghan se despediram de sua conta no Instagram, que tem mais de 11 milhões de seguidores.
"Talvez vocês não nos vejam mais aqui, mas nossas atividades continuam".
Imprensa britânica critica casal
O jornal britânico The Times denunciou em um editorial a indiferença do casal à crise que os britânicos vivem pela covid-19. "Harry e Meghan escolheram ser celebridade em detrimento do dever", é o título.
O texto criticou a pressa da mudança do casal.
"Pouco antes de Trudeau e Trump fecharem a fronteira mais longa do mundo, um jato particular sobrevoou o local, levando nosso duque e duquesa de Sussex de seu esconderijo no Canadá para seu novo lar na Califórnia", diz um trecho.
A escritora especializada na família real britânica Penny Juno considera que caberá à rainha, a seu filho Charles e a seu neto William liderar o país nesses tempos difíceis.
"É um grande estímulo ter uma mensagem da rainha, ou de William, e ver seus filhos aplaudindo os trabalhadores da saúde. É importante", afirma.
"É exatamente disso que se trata a família real, e aqueles membros que se colocam à margem serão bastante irrelevantes", acrescenta.
Penny Junor lembrou que o príncipe Charles, de 71 anos, experimentou ele mesmo a crise, ao testar positivo para a covid-19 e permanecer em quarentena, encerrada na segunda-feira de acordo com o Palácio.
Por uma vida mais tranquila
Harry denunciou em muitas ocasiões a pressão implacável da mídia sobre o casal, assim com sua mãe, a princesa Diana, que morreu em um acidente de carro em 1997 enquanto era perseguida por paparazzi.
Esse foi o principal argumento usado para justificar sua retirada, afirmando que ele e Meghan queriam uma vida tranquila com seu filho, Archie. O pequeno comemora seu primeiro aniversário em maio.
O casamento de Harry e Meghan em 2018 despertou uma certa esperança de modernização da monarquia com a chegada dela: divorciada, afro-americana e atriz. Agora, sua mudança para Los Angeles, coração da indústria do cinema e do entretenimento, reforça as críticas.
Longe de se afastarem da mídia, "escolheram se estabelecer em Hollywood e plantar as bases para suas novas carreiras lucrativas, não muito longe dos projetores, mas sim no meio deles", observou o Times.
Na semana passada, a Disney anunciou que a duquesa de Sussex emprestou sua voz para um documentário dedicado à vida de uma família de elefantes africanos, com lançamento previsto para 3 de abril. Como não recebem mais dinheiro público, os dois são livres para assinarem contratos comerciais e tirar proveito de sua fama.
Embora Meghan tenha dado sua voz em troca de uma doação para uma associação para a proteção dos elefantes, a imprensa britânica não hesitou em criticar este primeiro trabalho e denunciou a "hipocrisia" do casal que, segundo o Times, "tira proveito do status real" sem assumir as obrigações que o acompanham.
E, se o sonho americano não corresponder às expectativas, talvez o casal possa voltar à sua vida anterior, pois o acordo alcançado com a família real será revisto em um ano.
* com informações da AFP