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De cabelos ao vento, pernas ou barriga à mostra por conta do calor, praticamente sem maquiagem, Juliana Paes passeava com um grupo de amigas em Nova York no início de setembro como mais uma turista na cidade. De férias após o sucesso da novela Totalmente demais, encerrada em maio, e comemorando o fim das filmagens da nova versão de Dona Flor e seus dois maridos, a atriz de 37 anos viajou para desopilar depois da correria por conta do trabalho. Por lá, sem a obrigação de se “montar” para eventos, gravações e comerciais, Juliana se reconheceu no visual das mulheres nas ruas: viu menos produção e mais naturalidade. Nas últimas semanas, ela, que dita tendências a cada personagem ou corte de cabelo, foi notícia por ter assumido seus cachos. Um pequeno gesto que significa uma grande liberdade.
— Redescobri meus cachos. Não estava a fim de cortar, mas, desde então, estou supercurtindo este look — contou em entrevista à Revista Donna, por telefone, momentos antes do evento de lançamento do seu quinto perfume, A Tentação, produzido na Europa, em parceria com a Puig.
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Na ocasião, Ju apareceu do jeito que você vê na capa desta edição: cabelo soltinho, feito só com difusor, e make poderoso. Beleza assinada por... ela mesma, acreditem. Apaixonada pela arte da maquiagem, a atriz tem pouco tempo livre para ir a algum dos salões que levam seu nome – já são seis unidades entre os Estados de Rio de Janeiro e São Paulo. Gosta (e sabe!) se arrumar sozinha tanto para uma ocasião especial, como o lançamento da fragrância, em que seria fotografada por meio mundo, quanto para o trabalho na TV.
— O público não sabe, mas em todas as novelas sou eu que faço minha própria maquiagem. Juro! Adoro isso, faz parte da preparação de entrar em cena, como no teatro.
Supervaidosa, Juliana não dispensa os cuidados de beleza em casa, mas o ritual que antes podia consumir muito tempo livre foi abreviado após a chegada dos filhos, Pedro, cinco anos, e Antônio, três. Até 2011, cada parte do corpo ganhava seu creme específico. De lá para cá, a praticidade reina – usa um hidratante para o corpo inteiro e ainda aplica na hora do banho por praticidade. O tempo “poupado” é dedicado para o retorno à academia, hábito retomado depois da segunda gravidez sem muita neura. Ju engordou 16 quilos quando esperava Antônio, e voltou aos 59 atuais com malhação (crossfit, musculação, dança, entre outras atividades) e uma dieta que inclui suco verde toda manhã e quase nada de pão.
Curtindo as férias antes de voltar à TV em 2017, quando será uma das quatro protagonistas de À flor da pele, novela de Glória Perez, Ju ainda não mergulhou no universo de Bibi Perigosa, ex-primeira dama do tráfico da Rocinha, na qual sua personagem será inspirada. Quando estiver gravando em ritmo intenso, já sabe que terá menos tempo para os filhos, o marido, o empresário de jogadores de futebol Carlos Eduardo Baptista, com quem está casada desde 2008 – e também para os negócios. E Juliana não apenas empresta sua grife a licenciamentos e salões de beleza, ela faz questão de controlar tudo de perto:
— Eu me envolvo em todos os processos, desde o primeiro momento quando a gente senta para definir a estratégia de comunicação, que cara a gente vai dar para esse novo perfume, desde a roupa que vou usar no shooting e o cheiro que o perfume vai ter (no caso de A Tentação, uma fragrância floral oriental).
Donna comprovou esse envolvimento durante esta entrevista, quando a atriz estava no restaurante Capim Santo, no Village Mall, no Rio. Juliana pediu licença ao telefone e, do outro lado da linha, ouviam-se instruções precisas de como apresentar o novo produto nas redes sociais e até qual hashtag usar.
— Sou metida em tudo mesmo — brinca.
Entrevista
Atriz, empresária, mãe... que espaço a beleza ocupa na sua vida hoje?
Não deixei de me cuidar depois que virei mãe, mas posso dizer que criei rotinas mais objetivas, os processos se simplificaram um pouco. Já não consigo mais passar muito tempo no banheiro depois do banho, por exemplo. Faço aquela rotina que vai no embalo: passo aquele hidratante de banho que é mais rápido, para não ter que espalhar nada depois. É um creme só para o corpo todo: não tem mais um para o pé, outro para a barriga, cada partezinha um creminho. Com exceção do rosto, claro, que requer cuidados diferentes. Mas não fiquei menos vaidosa depois dos filhos, pelo contrário: acho até que a gente fica mais vaidosa, pois você quer que todo mundo veja que você está feliz, maravilhada com o fato de ter filhos e de ser mãe.
Ser dona de salões de beleza ajuda bastante, não?
As pessoas pensam isso (que vai lá com frequência), mas não é verdade. Claro que tenho a facilidade de chegar a qualquer momento em um deles e ter alguém para fazer uma escova, uma hidratação, que adoro. Mas o que falta, às vezes, é tempo. Muitas vezes, eu me resolvo em casa. Por exemplo, para vir ao lançamento do perfume aqui hoje (dia 22), eu me arrumei sozinha. Gosto muito de me maquiar. Muitos amigos falam que eu devia fazer tutoriais de maquiagem para a internet, inclusive. Pois eu me maquio superbem. Mas é uma coisa que faço por puro prazer, até para as novelas. O público não sabe, mas em todas as novelas sou eu que faço a minha própria maquiagem. Juro! Até em Caminho das Índias (2009), que a Maya usava uma maquiagem mais rebuscada e elaborada, até em Meu pedacinho de chão (2014), aquela make da Catarina meio fantasiosa, cheia de mil cores, era eu que fazia. Para a Carolina Castilho (Totalmente demais, em 2016) era eu que fazia também. Adoro isso porque, para mim, faz parte da preparação, de entrar em cena e me maquiar, como entrar no teatro.
Juliana em uma das unidades da rede de salões de beleza que leva
seu nome
Como é a reação das clientes quando você chega em um dos salões de beleza?
Elas adoram me ver lá. Até porque nunca chego toda arrumada, pelo contrário, vou justamente para me arrumar. Então, elas se divertem vendo que estou “gente como a gente”, de cara lavada, de cabelo molhado, cabelo preso, para fazer alguma coisa. A interação é sempre muito positiva, sou muito falante e gosto de saber o que elas estão falando, querendo, gostando, qual tratamento preferiram, que hidratação elas têm curtido. Para mim, é muito natural, já chego perguntando tudo e sinto que as mulheres lá são minhas amigas também.
Muitas chegam justamente pedindo para copiar seu corte de cabelo do momento?
Sempre mesmo. Mas, às vezes, elas chegam com uma ideia toda errada. Esses dias, chegou uma menina “Quero isso, quero aquilo”. E eu fui lá: “Posso me meter? Você não-faz-issoooo!”. Ela estava com um tom de castanho maravilhoso e queria ficar loira. Eu disse: “Não faz isso, você vai no máximo puxar umas mechas tipo ton sur ton, talvez um ombré hair”, que é aquelas mechas que pegam mais do meio do cabelo até as pontas. Eu convenci ela a não fazer aquela besteira (risos).
E seu cabelo, quem a convence a mudar ou não?
Eu não mando no meu cabelo, quem manda no meu cabelo são os personagens. Não estava, por exemplo, pensando em cortar o cabelo tão curto assim. Logo depois que acabou Totalmente demais (em maio deste ano), estava com o cabelo na altura dos ombros e adorando. Aí veio (o filme) Dona Flor e seus dois maridos. O Pedro Vasconcelos (diretor) pediu para eu cortar. Cortei e estou adorando usar o cabelo mais curto e com cachos naturais. Eu me redescobri novamente. Meu cabelo é cacheado. Na última novela, a Carolina era uma mulher que tinha cabelo liso, então eu fazia muita escova. Meu cabelo pega muito fácil essas mudanças, mas, se eu lavo e deixo secar ao natural, é como você vai ver nas fotos de hoje do lançamento. É bem assim, esse é o meu cacho.
Então, Dona Flor e seus dois maridos ajudou você a adotar esse visual?
Terminamos as filmagens e fiquei superinspirada. Dona Flor... é um filme de época, então a gente fazia aqueles “dedinhos” (técnica para enrolar o cabelo, usando só grampos para prender os fios em mechas) até a hora de filmar. Eu ia para casa quando terminava o dia com aquele visual e aí me dava um estalo: “Gente, meu cabelo natural é assim, que máximo”.
Leandro Hassum, Juliana Paes e Marcelo Faria são Teodoro, Flor e Vadinho na nova versão de “Dona Flor e seus dois maridos” para o cinema
Conta mais sobre as filmagens do longa.
Foi um dos processos mais prazerosos que já vivi na minha carreira. Não pensei que fosse ficar tão à vontade. Primeiro porque, poxa, é um filme com uma história que a maioria das pessoas já conhece, pelo menos as da nossa geração, né? Mas tem toda uma nova geração que ainda não assistiu. Então, por conta disso, o Pedro Vasconcelos me deu carta branca. Ele disse: “Ju, não quero que você veja filmes e montagens anteriores, quero que você tenha o livro (de Jorge Amado) como sua bíblia e faça o seu entendimento de Dona Flor, o que você capturar e entender dela”. Então, fiquei muito à vontade com isso. Ficou lindo, acho que as pessoas vão se surpreender muito.
Foi assim quando você interpretou Gabriela, outro personagem clássico de Jorge Amado?
Aí foi bem diferente porque quando Sonia fez a Gabriela... Era quase uma santidade, né? É uma coisa acima do bem e do mal. Existia da minha parte uma certa responsabilidade: “Caramba, vou ter que mexer no time que sempre ganhou”. Existia essa preocupação. Mas, no meio do processo, quando a minissérie começou a ter uma audiência muito legal e os comentários começaram a ser positivos, fui relaxando. Em Gabriela, comecei a me divertir do meio para o fim. Com Dona Flor foi desde o início muito gostoso.
É a segunda vez que você faz um papel que foi de Sonia Braga. Como você se sente quanto a isso?
Costumo dizer que se todos os personagens que foram de Sonia forem oferecidos para mim, eu estou feliz da vida. Porque ela sempre foi uma inspiração, uma grande musa, sempre esteve no meu imaginário como ideal de beleza, de sensualidade, de comportamento. É muito confortável e muito lisonjeiro fazer os papéis que foram dela.
Você citou a beleza da Sonia, que chamou bastante a atenção em Aquarius...
É sensacional o filme, né? Ela continua linda e com uma energia diferenciada, parece que ela vibra em outra dimensão.
Você pensa sobre a passagem do tempo?
Eu me sinto uma adolescente por dentro. Juro! Claro que a gente amadurece, os filhos fazem a gente amadurecer muito, mas os meus desejos, os meus ímpetos, a minha alegria de pular, cantar, dançar e sorrir, é como se eu tivesse 17 anos ainda. Não é como se eu tivesse 37. Tenho certeza de que vou ter sempre essa vontade de brincar e fazer umas besteiras. Mas talvez o corpo não vá responder nessa medida. Óbvio que, quando me olho no espelho, percebo a passagem do tempo. Não estou cega para o que está acontecendo com o meu corpo e o meu rosto. O tempo é implacável mesmo. Mas junto com isso também vem uma segurança, uma maturidade, uma certeza de que a minha capacidade profissional hoje é maior. Me sinto mais capaz, mais segura e mais poderosa para fazer as coisas. Então, uma coisa vai balanceando a outra, entende? Ao mesmo tempo que existe aquela insegurança do “Tem uma ruguinha aqui”, mas existe a segurança do “Pô, mas eu sei fazer isso muito melhor do que eu fazia tempos atrás”. Essa maturidade faz com que essas ruguinhas não sejam um grande problema. Muito pelo contrário. Quero mais é que apareçam. Não tenho investido em botox, em grandes intervenções para esticar meu rosto. Eu me cuido, me alimento bem, tomo muita água, me exercito, tenho orgulho das marquinhas que o tempo fez em mim. E pretendo me manter assim, pois preciso das minhas expressões para o trabalho. Preciso poder franzir minha testa, poder chorar e as rugas aparecerem, sim. Quero envelhecer da melhor maneira possível, mas sem brecar esse processo.
Você sente que há mais oferta de papéis para mulheres de mais idade?
Não sei se aumentou o número ou não, mas acredito que a TV e o cinema têm personagens para todas as idades. Só que acho as personagens da minha faixa, dos 30 aos 40, sempre mais instigante. São as que mais têm conteúdo, conflitos, vida pregressa... Isso as torna muito atraentes para mim. Mulheres de 30 e poucos sempre vão ser mais estimulantes do que personagens de meninas de 20.
E é justamente nessa faixa em que muitas decisões importantes são tomadas.
Exatamente. É aquele momento em que as mulheres estão buscando se estabilizar, se estabelecer, é aquele “Agora ou nunca que vou ter filho, que vou construir uma família”... Essa fase tem um tempo cronológico mais estabelecido, então é muito em função disso, de ter que se decidir um pouco os caminhos nesta época.
Você passou por questões como família versus trabalho?
Vivenciei, sim, esse dilema. É um drama contemporâneo. Às vezes, você tem que abrir mão de coisas na vida pessoal porque a sua carreira está em um momento impulsionado ou o contrário, tem que abrir mão de um momento muito bom na sua carreira porque bateu o sino e você quer ter filhos. Vivi isso um tempo atrás. Optei por construir família, por ter filhos, dar um tempo na carreira para poder engravidar. Tive um filho atrás do outro, era um desejo grande de que eles não tivessem muita diferença de idade. Tive que escolher: tive chances de começar uma carreira internacional e abri mão, “Não vou”, pois meu sino já estava batendo. Decidi: “O resto pode esperar, eu quero ter filhos agora”. Mas superentendo e respeito mulheres que decidem pela carreira. Cada um tem o seu direito. Não existe certo ou errado nessas escolhas. É muito chata essa pressão da sociedade. “Ai, você não quer ter filhos?” Acho que a mulher não “tem que” nada, a gente não é obrigada a nada nem a procriar. A mulher tem que ser dona do seu corpo, do seu destino, dos seus desejos. Sem ter que dar respostas para a sociedade, e sim para si mesma.
A atriz posa sem maquiagem com o afilhado, Gabriel, e brinca no Instagram: “Cara de domingo”
Por conta das suas escolhas, do que você tem que abrir mão no dia a dia?
Caramba, a gente sempre abre mão de um pouco do nosso tempo, né? Já perdi festas em famílias, eventos, situações em que eu gostaria de estar com a minha família por causa de trabalho. Mas, em geral, dou um duro danado e rebolo para conciliar tudo. Toda mulher que quer dar conta de tudo vai estar sempre descabelada, no sentido figurado (risos). Não tem jeito. Estou aqui falando com você, mas já estou pensando que depois tenho que buscar meu filho na escola e que, à noite, tenho que fazer o tema de casa com ele. Não tem como manter totalmente a tranquilidade, mas tento manter a serenidade diante disso. Sei que é corrido e vou tentar fazer as coisas da melhor forma possível, sabendo que não vai dar tempo de fazer tudo todos os dias.
O marido, Eduardo, e os filhos, Antônio e Pedro
O que você faz para manter essa serenidade?
Eu preciso dormir. Preciso de oito horas de sono. Nesse sentido, abro mão de jantares no meio da semana, festinhas, para poder dormir bem. Se eu sei que vou ter um dia seguinte cheio, abro mão de um encontro, de um evento, de uma comemoração, pois é muito importante para mim dormir oito horas.
Na prática, como você se organiza para isso?
Boto eles para dormir (risos). Meus filhos dormem supercedo, e isto é uma coisa que eu recomendo. Ter horário para as crianças: 20h30min, eles estão na cama e depois disso vou fazer as minhas coisas. Vou estudar meu texto, ver minha agenda do dia seguinte, namorar o marido, conversar com ele, colocar os assuntos em dia. Os meninos acordam supercedo, então tenho que acordar junto. Se vou dormir às 23h, eles acordam às 7h, 7h30min, e estou lá.
No ano que vem você já volta às novelas, mais uma vez em uma trama de Gloria Perez. O que você pode adiantar sobre a personagem de À flor da pele?
Estou muito a fim de trabalhar com a Gloria de novo. Foi ela que me deu minha primeira protagonista em horário nobre, sempre fico muito feliz com o texto dela. As minhas expectativas para a nova novela são as melhores, estou superempolgada, de verdade. Agora, tenho esse período bom de férias até começar a me preparar para gravar, vai ter dado tempo de recarregar as baterias. Não acho que eu vá ser a vilã da trama, mas com certeza a personagem não vai ser a politicamente correta. Interpretar essas pessoas que estão ali vivendo conflitos, estão no erro, no desvio, é sempre muito interessante.
Com que tipo de ajuda você conta para fazer toda essa engrenagem funcionar?
Tenho babá porque, para estar aqui falando com você, alguém precisa estar lá com eles, é claro. Mas tem coisas de que não abro mão: dar o banho e botar para dormir, fazer o dever de casa, é tudo comigo, não tem conversa. Quando estou gravando novela, fica um pouco mais difícil, mas aí o Dudu (Carlos Eduardo Baptista) assume: ele faz o tema de casa, e eu boto para dormir. Nosso esqueminha tem que ser planejado diariamente, mas contar historinha e rezar junto, isso é comigo.
Tem planos de aumentar a família, Ju?
Não temos. Um é pouco, dois é bom. Dois é bom demais. Chega (risos).
Quem manda é a personagem
Do loiro ao castanho. Do liso comprido ao crespo curto. Confira as mudanças no visual de Juliana Paes a cada novo trabalho: a aposta agora é o corte trapézio, assim chamado porque tem a base reta discretamente enviesada para frente, logo acima do músculo trapézio, com franja lateral e desfiados nas pontas. Quem assina o look é o cabeleireiro da atriz, Tiago Parente. O visual foi batizado de Wild Bob, está em alta na Europa e é usado também por celebridades como Emma Stone, Taylor Swift e Jennifer Lawrence.