Outro dia saí para comprar velas e acabei gastando quase US$900. E sei até o que você está pensando: absurdo, né? Também achei a mesma coisa.
Se eu precisei de um caminhão para levar as compras para casa? Não. De fato, coube tudo com folga em uma sacola de tamanho médio. No total, foram oito.
Se você não passa muito tempo em sites como candlesoffmain.com ou candledelirium.com, pode se chocar ao saber que uma única vela pode custar US$75. Ou mais. Jo Malone, a linha inglesa de fragrâncias, faz uma versão com quatro em uma embalagem de vidro que sai por US$445, mais de US$100 cada. Por esse preço o suporte deveria ser de ouro, certo?
Todo ramo tem o seu equivalente ao esportivo Lamborghini, à bolsa Hermès, mas é surpreendente o número de opções que os fãs de velas de luxo têm: Agraria, Astier de Villatte, Fornasetti, Frederic Malle, Lafco, L'Objet, Rigaud, e vai seguindo todo o alfabeto até a Votivo.
Diptyque e Le Labo, duas marcas francesas cujas velas básicas ficam na média entre US$60 e US$75, têm fãs ardorosos entre o pessoal do entretenimento e de moda; a Cire Trudon, outra marca de origem francesa, se promove como a fabricante de velas mais antiga e mais prestigiada do mundo e vende um modelo de US$125 - sem perfume - no formato do busto de Maria Antonieta. Também este ano a top model Petra Nemcova e a sócia lançaram uma série de seis velas Be the Light cujo objetivo é capturar, no aroma, países que acha interessantes, incluindo o Haiti - para onde ela se mudou recentemente -, representado pela Haitian Hibiscus Breeze de US$98.
Com o Natal e o Ano Novo tão próximos e o fim do Hanukkah, é a melhor época do ano para comprar e acender velas. Barbara Miller, porta-voz da Associação Nacional de Velas, disse que esse mercado gera US$2 bilhões por ano e que 35% desse volume geralmente acontece no quarto trimestre.
- É sempre um presente bom e muito popular, afirma.
Não há dúvida de que dar uma Astier de Villatte Commune de Paris para alguém é bastante significativo - e é um ato de ousadia que equivale à queima (literal) de uma nota de US$100.
Como descobri, as velas de luxo são populares para um determinado grupo de pessoas há anos. Jacqueline Kennedy iluminava a Casa Branca com Rigaud. Quando Tom Ford trabalhava para a Gucci, colocava Diptyque Figuiers em todas as suas lojas, seus escritórios e sua casa para que o aroma delicado da figueira o acompanhasse ao redor do mundo. Porém, como muitos outros itens exclusivos, de uns anos para cá velas como essas foram descobertas por um público que não precisa ser podre de rico.
Alexandra Fiber, atriz e escritora de Nova York, disse que as descobriu lendo blogs sobre estilo de vida como Garance Doré e The Selby.
- Não li nenhuma história sobre o apartamento de uma garota nos últimos três ou quatro anos que não tivesse a tal da Diptyque no banheiro. E quase tão descolado (ou mais) que a vela em si é o potinho vazio. É um símbolo de status.
Ela e a colega de espetáculo, Danielle Gibson, falam sobre a Diptyque em "SRSLY", uma série cômica que criaram e protagonizam na internet. Em um dos quadros, Gibson é procurada pela administradora de seu cartão de crédito depois de uma série de compras extravagantes que levantaram a suspeita de fraude, incluindo US$75 na Diptyque, que a atendente pronuncia Dip-tick. -É Dip-teeeek, corrige Gibson, acrescentando: -E a vela foi um presente
para mim mesma.
A conversa faz graça com a suposta sofisticação das velas de luxo e o remorso da compradora ao gastar tanto com um punhado de cera para derreter.
No entanto, Fiber admite comprar velas da Diptyque e Le Labo para o seu apartamento.
Para ela, o preço é relativo:
- Em relação a quanto uma vela deve custar, é realmente ridículo, mas se você encara como um item para transformar seu apartamento em um lugar mais luxuoso, então não é. O aroma permanece e faz com que você se sinta um pouco mais glamorosa do que se vê apenas pelo reflexo do que é sua casa.
A indústria de velas de luxo certamente acredita que seus produtos são um investimento. Os fabricantes gostam de explicar que suas velas são feitas à mão, ou usam cera de soja em vez de parafina à base de petróleo, ou que elas vêm em recipientes de cristal, ou são trabalhadas pelos maiores perfumistas do mundo com óleos essenciais caríssimos. Tirando os elementos básicos como cera, pavio e chama, garantem que seus produtos não têm nada a ver com as versões de US$10 vendidas nas lojas de presentes em versões como maçã com canela ou bolinho de mirtilo.
Fabrice Penot, um dos fundadores da Le Labo, elaborou melhor a resposta na boutique com cara de laboratório que mantém em Nova York, onde se sentou rodeado de frascos cheios de líquidos borbulhantes.
- A qualidade da intenção que colocamos em nossas fragrâncias e a atenção com que procedemos à fabricação são uma arte. E tem um impacto tremendo no poder da emoção que podemos produzir.
Milly de Cabrol, decoradora que recomenda velas sofisticadas semelhantes para seus clientes e também as usa em casa, diz que sua sofisticação é óbvia.
- O vidro é muito bonito, o perfume é fabuloso e nem um pouco enjoativo, diz ela, que prefere a Agraria Bitter Orange da Christmastime.
- Quando se compra uma vela barata, o cheiro é sempre muito forte. Dá a impressão de que você está no banheiro do aeroporto.
Mesmo assim, tirando as decoradoras e sua clientela exclusiva, é de se questionar quem compra essas velas tão caras. Karen Doskow, gerente da Kline & Co., empresa de pesquisa de mercado de Nova Jersey, diz que ninguém gasta mais que US$40 em média.
- Quem compra essas de US$80? Quase ninguém. É um microcosmo. Não corresponde à realidade, diz ela. Porém, a Diptyque e outras marcas de prestígio vendem versões miniatura por US$30, ela acrescenta.
Para mostrar o quando esses produtos são refinados - ou talvez justificar os custos, os fabricantes criaram toda uma experiência teatral que começa com os nomes. Enquanto as velas mais baratas optam por denominações literais como pinheiro ou baunilha, as de luxo optam por sons mais cosmopolitas (Abd el Kader, Monte Carlo) e têm descrições mais evocativas - como essa, da Forget Everything But Me de US$150 da empresa 12.29: - Uma ternura incontrolável que escapa pelos dedos e desaparece em um suspiro perfumado.
Como as joias, elas estão em exposição em cúpulas de vidro. Para escolher uma, não é possível dar uma cheiradinha e colocar (ou não) no carrinho de compras; nesse caso, você ergue a tampa e sente o arome preso ali dentro.
Em casa, juro que me esforcei para proceder aos rituais. Tinha certeza que sabia acender a vela - e, no entanto, Diptyque, Cire Trudon e Carrière Frères, todas vieram com manual de instruções.
Para obter melhores resultados, todas diziam - com algumas variações -, eu deveria derreter a cera da superfície toda da primeira vez. Nos usos sucessivos, era importante não deixar a vela arder mais que duas ou três horas sucessivamente; manter o pavio curto e ajeitar os pelinhos para que ficasse sempre de pé.
Na loja da Le Labo, onde gastei US$60 em uma versão menor da Laurier 62 - que tem esse nome por causa do número de ingredientes que leva - Penot me deu o conselho mais valioso de todos.
- Sugiro que você acenda as sem perfume se quiser a luz, o calor e o conforto da chama. Quando quiser acender uma perfumada, que seja a melhor porque depois que o fizer da primeira vez, vai ser difícil voltar a comprar as de US$10.
Faz a gente pensar duas vezes antes de acender o pavio.
CASA & CIA
Velas de luxo podem custar até US$ 125
Fabricantes enfatizam que tirando os elementos básicos como cera, pavio e chama, seus produtos não têm nada a ver com as versões de US$10 vendidas em lojas de presentes.
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