Não repare no jardim nas fotos; não é bem esse o lugar que Thomas Rainer quer expor ao mundo.
Ele fica até encantado ao rever as imagens dos espaços que ajudou a projetar como parte da empresa de paisagismo Oehme van Sweden - como a nova coleção de azaleias do Jardim Botânico de Nova York, que certamente valem uma espiada.
Boa ideia também é também dar uma olhadinha no seu blog sobre jardinagem, o Grounded Design, onde fala sobre os dogmas do paisagismo.
- Esse movimento pelas plantas nativas vem, em parte, esse conceito protestante de que é preciso sofrer para ser bom. Para defender a vida selvagem e ser um cidadão melhor, você tem que jogar fora suas dálias e peônias. Eu acho isso péssimo. A sustentabilidade deveria ser mais hedonista, dar prazer. -
E a partir daí ele revela toda a sua cosmologia, que gira em torno de um único jardim, mas ao mesmo tempo insiste em dizer que ninguém quer ver o pequeno espaço ao redor de sua casa, uma construção meio sem graça de 1951 que fica bem no itinerário de um ônibus, ainda por cima.
Rainer escreveu centenas de posts e artigos sobre o natural (e alguns sobre o artificial) das paisagens norte-americanas até que finalmente mostrou a primeira foto do jardim de sua casa, há alguns meses.
- Fiquei apavorado - contou ele certo domingo. - Eu dou aula de Paisagismo - Rainer é professor adjunto da Universidade George Washington - e sou aquele tipo de cara que todo mundo procura para resolver dúvida no trabalho. Tenho um blog. Grande parte da minha credibilidade vai daquilo que faço no meu próprio espaço, mas tenho perfeita consciência de que nem minha casa nem meu jardim jamais serão uma obra prima.
Em pleno inverno, Rainer andava pensando no que suas plantas tinham feito, ou deixado de fazer, durante o verão.
De certa forma, há dois jardins a analisar: o primeiro é o de plantas nativas ( - quer dizer, mais ou menos - , ele hesita), com perenes e arbustos como aronia e azevinho-do-inverno. A ideia é permitir que elas cresçam para formar uma proteção contra a rua movimentada.
O segundo, que seu cunhado chama de "matagal", é uma mistura de espécies anuais e exuberantes que se espalham pela propriedade.
Como se Rainer não fosse crítico o suficiente, sua mulher, Melissa Rainer, também é paisagista; juntos, eles trabalham na Rhodeside & Harwell, em Washington.
- Se fosse para eu fazer o jardim planejadinho, eu iria contra muita coisa que ensino nas minhas aulas - .
- 'Iria' ou 'poderia ir?' - provoca Melissa.
- O jardim da casa dele é um lugar estranho - , diz Todd Forrest, vice-presidente de Horticultura e Coleções Vivas do Jardim Botânico de Nova York. E embora a tradição de excelência seja padrão no trabalho, afirma: - Não dá mais para olhar o jardim de outro profissional de forma crítica, tipo, 'Nossa, que gramado impecável.' -
Sobre seu próprio jardim, em Ridgefield, Connecticut, Forrest diz: - Nada ali foi projetado ou trabalhado. - Na verdade, ele conta que está fazendo uma seleção casual para saber quais plantas nativas da Nova Inglaterra são atraentes para o Odocoileus virginianus, também conhecido como cariacu.
Forrest vê o mesmo espírito curioso em Thomas Rainer e já o convidou para uma palestra em março.
- Ele é muito autocrítico e, de certa forma, às vezes até exagera. Não se diz especialista, apenas admite ser um curioso nato e honesto - , explica Forrest.
Qual a avaliação honesta de Rainer em relação ao próprio jardim, então?
- Não há nenhuma preocupação em relação à combinação de cores. E as alturas também não combinam, parece aquelas fotos de uma classe da sétima série, cada um de um tamanho, ou seja, não tem nenhuma coerência. -
De onde, por exemplo, vieram as bananeiras-da-abissínia de quase 3,5 metros e por que elas estão fazendo sombra para a Pycnanthemum virginianum?
Melissa Rainer responde à primeira pergunta: o casal gosta de sempre dar uma espiada na seção de ofertas da loja de jardinagem local, onde tudo custa US$5. Foi plantar em abril e ter um gigante seis meses depois.
Em relação ao motivo, Thomas esclarece: - Elas têm um clima tropical. É um pedacinho da América Central ao lado de uma amostra norte-americana que, por sua vez, está grudada com um espécime do Mediterrâneo. Não é autêntico, mas é bagunçado e eu gosto dessa falta de ordem. -
Se as bananas dão um ar de mistério, outras plantas são um verdadeiro enigma: os cravos já não tinham desaparecido, junto com os pianistas e o raquitismo?
- Com certeza, as anuais não são descoladas, sofisticadas; para mim, são o equivalente natural à música pop. Elas são muito acessíveis emocionalmente. Têm um quê do próprio cosmos, sua vivacidade, sua alegria. Não são profundas, mas não deixam de exalar certa nostalgia. Talvez seja aquela saudade de algo que não se sabe exatamente o quê. -
Entretanto, não há filosofia que explique os teixos sob os janelões da sala - talvez porque eles tenham vindo com a casa.
- Eu cheguei seco para arrancar tudo, mas agora eu me divirto fazendo podas artísticas - , ele brinca.
Não há dúvida de que Rainer ama suas plantas nativas de paixão: tanto que, ao lado de Claudia West, horticultora da North Creek Nurseries em Landenberg, na Pensilvânia, vai escrever um livro sobre elas. - Em questão de dez anos, as nativas deixaram de ser verdadeiras pragas, totalmente ignoradas pelo comércio do setor, a ícones de movimento paisagista - , ele conta.
- Seu plantio está engajado como jamais esteve - , ele acrescenta e aí inclui o impossível: queremos que elas ajudem a salvar as abelhas, diminuam o escoamento da água de chuva, eliminem o uso de fertilizantes, embelezem os estacionamentos dos shopping centers e melhorem o movimento do comércio. Elas têm que pagar os nossos pecados.
Acho que nem é preciso comentar o resultado de uma dezena de equináceas raquíticas em uma calçada de menos de 2 m de largura.
- O problema é a escala; como encolher a grandeza do Parque Nacional Shenandoah para caber no jardim da lateral de uma casa? Ele acaba mais parecendo um diorama. Acho que os jardineiros e paisagistas têm que apostar mais no natural. -
Ou, em outras palavras, como ele mesmo já começa a desconfiar, é melhor confiar no estilo todo próprio da natureza.
Jardim
Depois de vários anos, renomado paisagista norte-americano mostra jardim de sua casa
Thomas Rainer tem um blog sobre paisagismo e ajudou a projetar centenas de espaços importantes
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