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Enganou-se quem pensou que o momento dele não melhoraria. Marcelo Rosenbaum, o designer que ganhou notoriedade na TV revitalizando casas Brasil afora devolvendo dignidade, como ele mesmo diz, começou neste mês a venda de Yawanawá, mais recente coleção realizada pelo projeto A Gente Transforma (AGT). A linha de luminárias feita de miçangas, palhas e cipós foi concebida neste ano após período de imersão na aldeia Nova Esperança, no Acre, em peças coproduzidas com o integrantes da localidade com base na mitologia indígena da região. A comercialização coincidiu com o anúncio de seu nome para a curadoria do Clube de Colecionadores de Design do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), presidido até então pela escritora e professora da história do design Adélia Borges.
Por tudo isso, e também por tudo o que ele já fez pelo design nacional, Rosenbaum foi chamado para realizar uma palestra intitulada Design Essencial no último 17 dentro da programação do festival urbano Design Weekend (DW!). Na oportunidade, o criativo paulista de 45 anos falou do desafio que assume frente à instituição paulista a partir de 2014.
- O mercado brasileiro de decoração movimenta R$ 60 bilhões por ano, segundo pesquisa da Associação Brasileira de Designer de Interiores em 2013, mas esse valor infelizmente não inclui o artesanato. Eu quero reposicionar o artesanato, alinhá-lo a design, porque as peças de design têm que gerar desejo, e explorar isso nacionalmente. Existem coisas lindas sendo feitas pelo país, mas eles não chegam aqui, muito em parte, claro, pela logística que é distribuir isso. Quero colocar mais produção dessas comunidades no circuito nacional sem que elas percam sua origem regional e caráter exclusivo - disse a uma plateia lotada.
A escolha de Rosenbaum para o novo momento do Clube tem a chancela de Felipe Soeiro Chaimovich, curador do Museu de Arte Moderna.
- Achamos relevante este trabalho que o Marcelo tem feito em rede, um novo entendimento de design. Ele propõe redes de produção mais complexas, que envolvem o Brasil como um todo O design é um processo muito mais coletivo do que individual - defende.
Para Pedro Ariel, curador do DW!, a participação do designer na segunda edição do festival urbano qualifica ainda mais o evento que reúne durante quatro dias diferentes iniciativas de design, artesanato, arquitetura e arte. Segundo ele, a inclusão social é uma das facetas mais importantes no trabalho realizado por Rosenbaum.
- Marcelo está fazendo um trabalho maravilhoso, que resgata técnicas artesanais e também vidas. Ao escolher comunidades muito pobres para desenvolver novas ideias e novos produtos, ele expõe, ao mesmo tempo, nossas mazelas, tradições e riquezas. Ele funciona como um maestro, orquestrando grandes e pequenos talentos. O fato de ele participar ativamente do Design Weekend nos enche de orgulho - afirmou.
Experiências de A Gente Transforma
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Durante mais de duas horas, Rosembaum também discorreu sobre o processo de criação da linha Yawanawá (acima) e também da Toca (abaixo), desenvolvida em parceria com povoado tipicamente sertanejo de Várzea Queimada, no Piauí, no ano passado.
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- A gente não foi para estas comunidades pra ensinar, mas ajudá-los a recuperar hábito e ajudá-los a criar uma cadeira produtiva. E assim ficamos lá contando e conversando com os integrantes destas comunidades porque, afinal, design é contar histórias. A gente não estava resgatando nada, é um momento de reconquista deles, pois não podemos esquecer de gerar a sensação de pertencimento deles, não é uma coisa que aterrissa de fora para dentro e sim o contrário. O contrário de essencial é acessórios. Para índio não existe enfeite, cocar não é enfeite. Design essencial é design para as pessoas - afirmou.
Por fim, ao falar sobre a necessária divulgação de seus trabalhos, citou a Semana de Design de Milão, onde, desde o ano passado, exibe os projetos realizados pelo AGT.
- Estar em Milão não é estar para o mundo, é estar para o Brasil e voltar bem depois disso - reflete.