E parece mesmo que o destino nos reserva variante em cima de variante da covid-19. Muitos jornais ainda dizem: da nova covid-19. Nova, vírgula. Já faz tanto tempo que somos obrigados a conviver com isso que dá a impressão de o coronavírus ser tão antigo quanto a inflação, outra praga que vai e vem. Em geral, mais vem que vai.
Agora são as subvariantes BQ.1 e XBB que entram no Brasil depois de causar seus transtornos na Europa, China e Estados Unidos. Cada variante chega mais transmissível que as anteriores, e imagine o que seria de nós sem as vacinas. Estados como Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco e Amazonas, entre outros, já começaram a aplicar a quinta dose. E assim, de picada em picada, a gente vai levando.
Fiquei pensando em outras variantes que assolam a humanidade, e são muitas. Algumas até mais difíceis de se exterminar que o coronavírus, por tristemente enraizadas. Que tal as variantes do preconceito, que não param de surgir?
A primeira Copa a se realizar no mundo árabe revelou o histórico de infrações aos direitos humanos do Catar, como o tratamento que o país dá aos imigrantes e o desrespeito aos direitos das mulheres. As leis homofóbicas em vigor, com penas que incluem o apedrejamento, levou à criação do movimento One Love, com as seleções europeias usando braçadeiras com as cores do arco-íris nos jogos da pré-Copa.
Infelizmente, o movimento não vai entrar em campo. Usando da variante Intolerância, que vem sempre junto com o preconceito, a FIFA ameaçou distribuir cartões amarelos para as seleções que adotassem a braçadeira. Se as equipes não puderam se manifestar, a jornalista da BBC Alex Scott, ex-zagueira da seleção inglesa, fez sua primeira aparição nas transmissões com a braçadeira One Love lindamente em destaque.
Sempre tem uma mulher orgulhando a gente mundo afora.
E vale o registro: no segundo dia da Copa, os jogadores da Inglaterra protestaram contra o racismo, enquanto o público no estádio se manifestava contra o regime do Irã. Tudo em paz, sempre a melhor garantia de espetáculos bonitos.
Outra variante em alta é a Cara de Pau, que aparece quando o assunto é abuso, seja ele qual for. Muitos, inclusive, são crimes, mas aí fica a cargo da Justiça decidir. Criatura se acha no direito de ofender alguém por causa da cor, da condição social, de preferências políticas, enfim, a lista é longa. Quando a coisa vem a público e a sociedade reage, criatura vai para as redes e apela para o clássico “quem me conhece sabe que eu não tive a intenção”.
A variante Cara de Pau se manifestou agora mesmo, associada ao subtipo Me Engana Que Eu Gosto, com o tal ministro do TCU alegando que botou lenha na fogueira antidemocrática “despretensiosamente” e “apressadamente”, em um ingênuo grupo de amigos do Zap. Aliás, a variante Amigo do Zap que Vaza Treta é outra muito comum nos nossos dias.
Tudo indica que as variantes vão continuar se multiplicando, tanto as dos vírus, quanto as outras todas. Para as da saúde, vacina. Para as demais, tolerância.
E assim, aos trancos e barrancos, lá vamos nós.