
Nos últimos anos, o mundo da moda viu surgir e se consolidar o conceito de "quiet luxury" – tendência que valoriza a sofisticação discreta, investindo em peças grifadas de alta qualidade, mas sem logomarcas chamativas ou sinais visíveis de ostentação.
Agora, essa mesma inclinação ocorre no universo estético com a "quiet beauty" – um movimento que propõe um novo olhar sobre os cuidados com a aparência, fazendo uso de procedimentos sutis que trazem um resultado mais natural.
De acordo com a dermatologista Mariele Bevilaqua, a quiet beauty é uma tendência global que valoriza a beleza individual sem transformações drásticas:
— Busca resgatar a identidade e o estilo pessoal de forma minimalista e elegante. É a ideia de ser belo “ao natural”, sem demonstrar os procedimentos realizados. É como vestir grife de uma forma muito elegante, ou como um “acordei assim, linda”.
A tendência surge como uma resposta ao excesso de intervenções visíveis e padronizações estéticas – aquelas que, muitas vezes, fazem com que rostos diferentes se tornem semelhantes. O termo carrega a mesma filosofia do quiet luxury: menos ostentação, mais sofisticação.
— Ao priorizar a naturalidade, ela promove resultados mais sutis e elegantes, respeitando a individualidade de cada pessoa. Os procedimentos tendem a ser menos invasivos, com menos tempo de recuperação e menos riscos — complementa a esteticista Thainara Porto.
Menos é mais
A quiet beauty não significa abrir mão de cuidados ou de tecnologia. O foco está em procedimentos não ou minimamente invasivos, que estimulam a beleza de dentro para fora. Thainara cita alguns:
— São indicados tratamentos que estimulam a produção de colágeno, que ajudam no rejuvenescimento, no clareamento da pele e que podem amenizar edemas e hematomas.
Entre os procedimentos mais comuns estão:
- Skincare médico individualizado: tratamento personalizado que leva em conta as particularidades de cada tipo de pele
- Ultrassom microfocado e radiofrequência: atuam nas camadas mais profundas da pele para promover firmeza e rejuvenescimento
- Luz intensa pulsada e fototerapia: para clareamento, redução de edemas e melhora da textura da pele
- Além destes também há toxina botulínica, preenchedores com ácido hialurônico e bioestimuladores de colágeno
Menos padrão, mais essência
Apesar de priorizar intervenções suaves, a quiet beauty não é radicalmente contra procedimentos invasivos. O que o movimento propõe é uma reflexão sobre o propósito por trás de cada intervenção.
— É um convite para as pessoas abandonarem a pressão de se encaixar em padrões rígidos e abraçarem uma estética mais suave, consciente e atemporal — afirma a esteticista, que complementa:
— De forma alguma é contra, mas a quiet beauty busca fugir de procedimentos exagerados que promovem uma padronização dos rostos, modificando a essência da pessoa.
Algumas celebridades internacionais e brasileiras vêm sendo associadas à tendência por apostarem em uma estética mais natural e menos transformada.
Entre os nomes citados pelas especialistas estão Julia Roberts, Anne Hathaway, Pamela Anderson, Hailey Bieber, Lindsay Lohan, Ricky Martin, Ana Furtado, Cissa Guimarães e Luiza Brunet.
Natural, mas nem tanto
Se, por um lado, a quiet beauty não se propõe a deixar todo mundo com as mesmas maçãs do rosto marcadas e lábios protuberantes, por outro, essa nova estética ainda carrega a proposta de combater o envelhecimento, o que pode manter viva uma cobrança pela juventude eterna, que costuma recair principalmente sobre as mulheres. Essa problemática leva a um debate sobre saúde mental, autoestima e etarismo.
— Mesmo nessa batida mais natural, é preciso pensar nas motivações que levam à adoção sistemática desses procedimentos — afirma a psicóloga Carolina Quiroga.
A busca por retardar o envelhecimento – ainda que sem alterar drasticamente a imagem – pode, segundo ela, esconder um sofrimento emocional profundo e, muitas vezes, alimentado pelo etarismo.
Ela também destaca a necessidade de refletir sobre o que o envelhecer representa em uma sociedade que ainda associa juventude ao valor pessoal.
— É importante se perguntar o quanto essa busca pelo não envelhecimento gera sofrimento. Por que envelhecer parece tão errado, tão feio para as mulheres? — questiona a psicóloga.