Mais uma tendência polêmica para a conta das famosas: o retorno das sobrancelhas finas. Nos últimos meses, personalidades que são ícones de estilo, como Kylie Jenner, Bella Hadid, a cantora Rihanna e a atriz Blake Lively, adotaram o formato superslim, provocando muita discussão nas redes sociais.
O movimento, na esteira da moda que resgata trends absolutas de décadas passadas, como a controversa cintura baixa, por exemplo, é motivo de muitas dúvidas. Para a designer de sobrancelhas Natália Gerhard, 33 anos, vale a pena pensar um pouco antes de se jogar.
— O revival da moda dos anos 1990 e 2000 (Y2K) já vem de algumas temporadas e é natural que a estética das sobrancelhas da época seja representada novamente para ajudar a passar uma mensagem. Sendo assim, elas vêm como algo mais conceitual do que "vida real" — contextualiza ela, que é especialista em sobrancelhas naturais e reconstrução em seu próprio centro de beleza, em Novo Hamburgo.
De acordo com Natália, o shape afinado não deve passar de uma "microtendência", sendo algo de nicho e bem passageiro.
— Um grande público já sentiu na pele os malefícios da remoção exagerada dos fios e ainda está correndo atrás do prejuízo das últimas décadas. Muitas pessoas estão traumatizadas e vejo isso há anos no meu dia a dia de atendimentos. As clientes não estão pedindo (o formato fino) e muito dificilmente me pedirão algo do tipo — opina, ressaltando que as sobrancelhas naturais, sim, vieram para ficar.
Já a especialista em reprogramação facial visual, visagismo, design e micropigmentação em sobrancelhas Kely Bavaresco, de Porto Alegre, é taxativa:
— Não é real (a volta da moda). Tendo o conhecimento sobre a fragilidade do folículo piloso dessa região, sabe-se que, em alguns casos, o pelo removido de forma equivocada pode não nascer novamente, eternizando o formato — sublinha.
Prova disso, complementa Natália, é a busca crescente por protocolos de reconstrução e produtos para estimular o crescimento dos fios. Além disso, é também enorme a procura pela remoção de pigmentos de procedimentos antigos ou inestéticos de micropigmentação e maquiagem definitiva.
Mais do que detalhes
Antes de aderir a um novo formato de sobrancelha, é importante estar ciente de que os fios arrancados podem vir a não crescer novamente, gerando falhas permanentes.
— Contabilize as perdas e os ganhos antes de tomar qualquer decisão. Ao contrário do que muitos pensam, afinar as sobrancelhas não levanta o olhar, mas pode deformá-las — alerta Natália Gerhard.
Além disso, segundo a profissional, os desenhos naturais, com maior quantidade de fios, trazem leveza e jovialidade à expressão. Já o contrário transmite fragilidade.
Em alguns casos, errar uma única vez já é suficiente para gerar um dano irreversível.
KELY BAVARESCO
Especialista em design de sobrancelhas
— Pense nas mensagens que o formato de uma sobrancelha pode comunicar e nas características que ele pode reforçar no seu rosto — pontua ela.
A morte do pelo
De acordo com as especialistas, o processo repetitivo de remoção pode levar à destruição da estrutura, gerando microinflamações. Isso pode ocorrer a perda definitiva do pelo.
— É uma decisão sem volta. O folículo atrofia e não produz mais pelo nessa região, eternizando o formato fino. Inclusive, em alguns casos, errar uma única vez já é suficiente para gerar um dano irreversível, que chamamos de falha de execução. — defende Kely.
Ponto crucial
Quem avalia a possibilidade de atualizar o design para um formato slim e tem dúvidas sobre a combinação da tendência com o formato do rosto, antes de tudo, deve entender uma diferença crucial: finas são diferentes de afinadas propositalmente. Segundo as especialistas, o desenho natural da sobrancelha é sempre a melhor escolha. A partir dessa premissa é que entram as técnicas e o senso estético do profissional de design. E uma das principais missões é a preservação e recuperação dos fios.
— Ser fina é apenas uma das características que compõem o formato da sobrancelha, diferente das que sofreram uma remoção exagerada de fios estrutura — aponta Natália.
Me arrependi. E agora?
É comum ocorrer arrependimento nas mais variadas intervenções estéticas. Em relação às sobrancelhas, não é diferente. Para reverter situações desconfortáveis, o apoio profissional é indispensável também na hora de uma boa recuperação.
Um especialista em reconstrução de sobrancelhas é capaz de desenvolver um plano de ação adequado para cada realidade. Entre as opções está o design reconstrutivo (que inclui a micropigmentação), protocolos em cabine, indicação de produtos para uso em casa, ou ainda, dependendo do caso, até a recomendação de uma consulta médica.
— Primeiramente, tu não estás sozinha! O mais importante a fazer é parar de remover os pelos. Escolha um profissional que você se identifique, alinhado com sua decisão. Hoje em dia temos ferramentas que possibilitam uma maior e mais rápida resposta. Mas o processo, ainda assim, é lento, então paciência é a palavra-chave. Uma sobrancelha que passou meses, ou anos sendo removida em excesso não volta da noite para o dia — orienta Natália.
A boa notícia é que a evolução dos tratamentos para o desenvolvimento dos fios é cada vez maior:
— Para cada caso, a orientação é específica e uma micropigmentação leve pode ser uma das soluções. A utilização de produtos com fatores de crescimento também indico muito, pois eles têm comprovação científica de eficácia. Porém, só funcionam se o folículo piloso ainda estiver ativo. A partir de então, ou se aceita a escolha ou melhora com a micropigmentação — ensina Kely.
De nada adianta a teoria, se o indivíduo não se sente representado.
NATÁLIA GERHARD
Especialista em sobrancelhas naturais e reconstrução
Liberdade de expressão
A imagem é uma forma de expressão e traz com ela muitos conceitos e significados. Para quem está na mídia, muitas vezes, ela demanda representações exageradas e até teatrais. Por isso, vale reforçar: nem tudo o que surge na mídia ou nas passarelas reina nas ruas.
— São essas ferramentas, tão necessárias, que possibilitam contar uma história através da imagem. Sempre existe uma mensagem a ser passada, o ruído e a discussão fazem parte do show. Um exemplo são as sobrancelhas descoloridas que apareceram há algumas temporadas. Cabe a nós a interpretação e a decisão de aderir ou não, ou ainda, o "como aderir" — explica a expert Natália, que defende que a preferência de cada um deve ser considerada, para além de tendências.
— Conhecendo os conceitos do visagismo e as regras acerca do design, entendendo que a beleza também é uma forma de expressão, digo que sobrancelhas, finas ou grossas, também são um gosto pessoal. De nada adianta a teoria, se o indivíduo não se sente representado. Assim sendo, não acredito em "certo e errado", "pode e não pode". Se a pessoa tem ciência de todos os prós e contras, e mesmo assim se identifica e acha bonito, vá em frente, assuma os riscos e seja feliz com a sua decisão. Se vai “valorizar” ou “causar” é uma questão de escolha e até de ponto de vista — conclui.