Faz uns três anos que eu vivi a minha pandemia particular. Tinha um restaurante lindo, famoso, referência na cozinha brasileira: o Roberta Sudbrack. Fomos uns dos primeiros e mais ousados em matéria de inovação na moderna cozinha brasileira. O cardápio mudava todos os dias, para seguir os desejos da natureza. Só trabalhávamos com pequenos produtores.
Foi o primeiro restaurante do Brasil que só servia menu degustação. Ganhamos mais prêmios do que as paredes daquela casinha laranja à beira do canal poderia sustentar nas suas panelas. Tínhamos acabado de ganhar a tal estrela Michelin. Estávamos em todas as listas de melhores restaurantes do mundo. Eu tinha sido eleita a melhor chef da América Latina, e o Roberta Sudbrack o 10º melhor restaurante. Tudo parecia lindo e perfeito. Mas dentro de mim era um reboliço só!
Eu sentia que precisava me olhar no espelho e fazer essa pergunta: e agora? A resposta foi uma revolução interna e pessoal que mexeu com toda a minha estrutura física e emocional. Eu precisava começar tudo de novo! Eu precisava voltar a sentir borboletas no estômago! Eu precisava voltar a ser criança entre as panelas! Eu precisar me reinventar. As cenas seguintes desse conto, vocês já sabem. Eu fechei o Roberta Sudbrack no seu auge, deixando muita gente preocupada com a minha sanidade mental! E abri o Sud, o pássaro verde, onde eu voltei à idade da pedra cozinhando num forno de barro. Onde eu voltei a ser criança e a brincar entre as panelas! A me sentir mais cozinheira do que chef. E lá, nessa casinha meio casa de Vó, sem placa na porta, onde eu me permiti andar para trás, para conseguir olhar com mais clareza para frente. É lá que eu me olho no espelho todos os dias e repito a mesma pergunta: e agora?