Dificilmente perco campeonato de memória. Ninguém me desafia nessa. Talvez, só o Gustavinho, um grande amigo que até hoje é conhecido pela habilidade de lembrar cada detalhe de ocasiões vividas em um passado bem distante.
Sou aquele que sempre intervém ou ratifica depoimentos aleatórios, corrigindo histórias com um “na verdade não foi bem assim”, relatando minuciosamente a ordem dos fatos. OK, muito disso é fruto da minha ansiedade.
Mas, queria dizer que ainda guardo perfeitamente na memória minhas primeiras lembranças de incursões gastronômicas. Passei muitos finais de semana na casa de outro grande amigo, o Lucas, na época em que ele morava na Rua Nossa Senhora Aparecida, uma das principais da Vila Conceição.
Era um programa incrível que durante muito tempo considerava como sendo em uma outra cidade, já que não tinha muito noção de tempo em deslocamentos. Qualquer trajeto que fosse suficiente para dar sono já entrava na lista do longe. Imagino que, no meio da Ipiranga, eu já estivesse dormindo, e só acordava ao atravessar a pontezinha de pedra na entrada do bairro dele.
A família do Lucas sempre teve o hábito de sair para jantar aos domingos, o que sempre invejei. Dava uma outra cara para o marasmo dominical, fugindo do silêncio assustador que só esse dia consegue proporcionar.
Enfim, num desses domingos, fui junto com eles na Fogo de Chão da zona sul. Você, que é mais jovem ou que não tem uma memória tão boa, talvez nem saiba que a Fogo de Chão começou em Porto Alegre e ficava lá perto do Jardim do Sol, na Cavalhada.
Faz mais de 30 anos, mas essa viagem pelo tempo me fez perceber a importância que a zona sul teve na formação do meu caráter gastronômico. Infelizmente, não tem mais Fogo de Chão, que naquele tempo era uma das únicas opções por lá. E ver o tanto que a zona sul prosperou me enche de orgulho. Escrever isso acabou me deixando curioso para saber: qual a memória gastronômica mais antiga de cada um de vocês?
destemperados
Domingos na Zona Sul
Diogo Carvalho
Ver perfilGZH faz parte do The Trust Project