Nasci e cresci em uma família que ama pão. Minha bisavó preparava um feito em casa com erva-doce de comer rezando, que era “potchado” em uma chimia de uva, na nata novinha, em um prato de arroz e feijão e até na polenta com galinha. Três, quatro, cinco fatias se escoravam em algum prato colorido do enxoval da minha bisa.
Foi num desses pratos coloridos — e cheios de memória afetiva — que comemos no Libertino, o novo restaurante do bairro Bom Fim, em Porto Alegre. Com inspiração na cozinha italiana, o restaurante do chef Mauri Olmi me levou para os almoços da casa da minha bisavó: comida com cheiro, sabor, textura, lembrança e felicidade.
O lugar é um encanto por si só. Tem mesas na rua para quem quer aproveitar a brisa, ambientes aconchegantes e cadeiras com encosto de palhinha.
O que não falta é vontade de ficar. E nós ficamos pertinho da cozinha aberta. O cheirinho da focaccia tostando aumentava ainda mais a nossa fome.
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Fomos recebidas com uma jarra de água — que é de cortesia da casa e você pode pedir quantas vezes quiser —, as cartas de vinhos e bebidas e o menu do mês. A ideia do Libertino é mudar o cardápio de comidas a cada dois meses e, por isso, conta com opções restritas.
De cara já sabíamos o que pedir de entrada: não tem jeito, o steak tartare é sempre uma unanimidade entre nós. Com gema curada, o tartar (R$ 67) vem acompanhado de fatias de focaccia e um tutano que estava desmanchando na boca. Junto, abrimos uma Amitié Cuvée Brut Rosé (R$ 115) que nos acompanhou durante o jantar e a conversa jogada fora, já que nos sentíamos em casa.
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O arroz com porco e lula até nos brilhou os olhos, esteve entre nossas escolhas por algum tempo, mas deixamos ele para a próxima visita. Assim, fomos de spaghetti all’amatriciana (R$ 68) — com molho de tomates e bacon, além de uma generosa camada de parmesão ralado. De encher o estômago e o coração. Junto dele e dos outros pratos, chegaram à mesa mais algumas fatias de focaccia para mergulharmos nos molhos e nos sabores.
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Outra opção entre os principais foi o cordeiro com molho demiglacé e salada de batata (R$ 79). Por mais que não seja tipicamente italiano, o prato era delicioso e carregava muito sabor. A salada de maionese vinha com bastante temperinho verde e cebolinha picada, e estava bem geladinha.
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Por pouco, ela não foi a protagonista da noite: a lasanha de ossobuco com agrião e gremolata (R$ 72). As muitas camadas sobrepostas, a carne desmanchando, o apimentado no ponto exato, o molho para a potchada entre uma garfada e outra. Não sei dizer o que me encantou mais, mas comeria essa lasanha todo domingo.
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Por fim, depois de mais uma jarra de água, pedimos uma das duas sobremesas do menu atual. Não teve tapete vermelho ou gente gritando o nome, mas cada flash em cima do prato valeu. O sorvete de iogurte com doce de ovos, merengue triturado e manjericão (R$ 29) finalizou essa experiência com aplausos de pé. E não era para menos: equilibrava o doce dos merengues com a neutralidade do sorvete e a cremosidade do doce de ovos. O manjericão finalizava com frescor uma das melhores sobremesas que já comi.
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Que noite, Libertino. Que vontade de levar a família e os amigos para provar uma comida que enche o coração. E já que a potchada é livre — e eu também —, eu volto logo.
LIBERTINO
Endereço: Rua Santo Antônio, 801, no bairro Bom Fim
Horário de funcionamento: de terça a sábado, das 19h às 23h. Sábado e domingo, das 12h às 15h
@libertino.poa