Revisitar clássicos é daquelas tarefas que todo apaixonado por gastronomia gosta de fazer, tenho certeza. Além de saber que sempre seremos bem servidos e atendidos, ir a restaurantes tradicionais é conhecer a história da cidade. Afinal, foram eles os responsáveis por construir os nossos primeiros parâmetros gastronômicos e também por criar as melhores memórias afetivas de muita gente ao redor da mesa.
Na semana em que Porto Alegre completa 250 anos, fomos almoçar em um lugar que, sem dúvida alguma, tem um papel muito importante da gastronomia da Capital: o restaurante Santo Antônio. O título de primeira churrascaria do Brasil é motivo de orgulho para Jorge Aita, pertencente à terceira geração da família, que, hoje, recebe os clientes com simpatia fazendo com que se sintam em casa, assim como seus avós e seu pai fizeram.
O restaurante foi fundado em 1935 pelo casal de imigrantes italianos Antonio e Conchetta Aita e desde então ocupa o número 465 da Rua Doutor Tímoteo, entre os bairros Floresta e Moinhos de Vento. O negócio surgiu como uma alternativa para quem trabalhava na região, que, na época, era rodeada por indústrias, para comer a típica comida italiana.
O sucesso foi tanto que o então governador Flores da Cunha procurou Antônio para que ele indicasse alguém para preparar um churrasco em comemoração aos cem anos da Revolução Farroupilha. Ao invés de sugerir outra pessoa, Aita convocou os quatro filhos e alguns amigos para comandar o churrasco ao ar livre.
Foi a partir desse evento que a carne entrou para o cardápio do restaurante e, desde então, é um sucesso que passa de geração em geração. Mesmo com todas as novidades do cenário gastronômico, o negócio, que completa 87 anos neste ano, segue sendo referência quando o assunto é carne de qualidade e tradição.
O legado deixado pelos avós e pelo pai é seguido à risca e com muito cuidado até hoje. Ao chegar no restautante, Jorge Aita faz questão de mostrar a foto do pai, Caetano, estampada na porta de entrada do restaurante.
– Quando tu chegas, ele te recebe. Quando vais embora, ele está dando tchau. Isso é muito simbólico para mim – afirma.
A churrascaria funciona no sistema de à la carte, mas o carro-chefe mesmo são os filés, servidos dos mais variados jeitos – à milanesa, à parmegiana, acebolado, com molho de nata, entre outros. O cardápio da casa é extenso e dividido entre entradas, saladas, massas, churrasco, cortes premium, filés, frango, lombo de porco, peixes e acompanhamentos.
Enquanto escolhíamos o que iriamos almoçar, pedimos duas caipirinhas para começar os trabalhos: a Caetano, feita com limão e laranja, e a de morango. Afinal, é quase uma obrigação ir em uma churrascaria e começar com uma boa caipira, né?
Embora a gente tivesse a certeza de que qualquer fosse a nossa escolha, não teria erro, fomos na sugestão do dono da casa: o Filé do Caetano (R$ 139), uma homenagem a seu pai. A carne vem bem acebolada e com bastante alho fritinho e crocante por cima, e acompanha batatas fritas. O prato é bem servido, mas, como estávamos em três, pedimos também a salada da casa (R$ 44), com folhas verdes, tomate, palmito, pepino, cenoura e salada de batata, e uma porção de arroz (R$ 11) para acompanhar. O filé veio no ponto perfeito: extremamente macio e vermelhinho por dentro.
Ir ao Santo Antônio é como se sentir em casa mesmo e Aita se orgulha ao contar que a maioria dos clientes já sabem de cor o cardápio. Sentam à mesa e já sabem exatamente o que pedir. Inclusive, alguns frequentam há tantos anos que até já criaram seus próprios pratos que nem constam no menu.
– O cliente da mesa ao lado criou essa massa do jeito que ele gosta, com iscas de filé e queijo gratinado. Quando ele chega, a gente já sabe que esse será o pedido – conta Cícero, garçom que trabalha na casa há mais de 30 anos.
Como um bom almoço de família, não poderia acabar sem um prato de docinhos clássicos: brigadeiro, beijinho, olho de sogra e doce de nozes. E para manter as receitas familiares, quem fornece os doces é uma das irmãs de Jorge. O olho de sogra foi o meu favorito, aquele sabor que me levou direto à infância na casa dos meus avós.
A cada ida em restaurantes tradicionais como o Santo Antônio me faz acreditar ainda mais no poder da gastronomia e ver o quanto é importante a gente valorizar sempre aqueles que deram os primeiros passos na cidade. A gastronomia vai muito além da comida bem feita, é sobre união, cuidado e muito respeito.
Que a gente ainda possa celebrar muitos e muito anos da Santo Antônio com uma mesa farta de bons filés! Vida longa aos clássicos!
RESTAURANTE SANTO ANTÔNIO
Endereço: Rua Doutor Timóteo, 465, no bairro Moinhos de Vento
Fone: (51) 3222-3130
Horário de funcionamento: de segunda a sábado, das 11h às 15h e das 19h às 22h, aos domingos, das 11h às 15h.
Delivery pelo WhatsApp (51) 99439-6540
@santoantoniorestaurante