Escura é mais forte? Dá para harmonizar com comida? Qualidade e preço estão atrelados? Apesar de gostarmos de um copo bem gelado e estarmos em terceiro lugar no ranking de países que mais consomem a bebida, segundo o relatório global da Kirin Holdings, nem todo mundo é especialista quando o assunto é cerveja.
Não, beber todo final de semana não serve como expertise, nos desculpem.
Mas, ainda bem, existem muitos mestres cervejeiros no país e aqui em Porto Alegre. Convidamos Marco Antônio Quadros, gerente de operações da cervejaria Veterana, que tem programação especial de Oktoberfest no dia 12 de outubro, e Rodrigo Mizunski, cervejeiro caseiro e ex-integrante da Associação dos Cervejeiros Artesanais do Rio Grande do Sul, para tirarem algumas dúvidas sobre o universo da velha e boa ceva que frequentemente surgem por aqui.
A cerveja deve ser servida sempre gelada?
Criou- se no Brasil a impressão de que uma boa cerveja deve ser servida estupidamente gelada, mas isso é apenas um mito criado a partir do “gosto brasileiro” das mainstream nacionais, tipo Pilsen, que proliferaram por aqui durante muitas décadas. Na verdade, para cada estilo de cerveja, há uma temperatura ideal – cervejas leves pedem uma temperatura mais baixa, algo em torno de 2° C, enquanto cervejas mais encorpadas podem pedir uma temperatura de até 8° C, algo impensável para os costumes do paladar nacional. Resumindo, uma cerveja muito gelada (muito próxima a zero graus ou abaixo disso) prejudica a experiência sensorial, pois as papilas gustativas não conseguem mais reconhecer o sabor da bebida.
O rótulo artesanal é sempre melhor do que o industrial?
Outro mito. Uma cerveja para ser considerada artesanal precisa ter a intervenção e a análise humana em cada uma das suas etapas de produção. Ainda assim, um processo industrial eficiente não prejudica em nada a qualidade da cerveja, só oferece um processo mais padronizado.
A cerveja envelhece bem como o vinho?
Não. Ainda que existam cervejas que se assemelham aos vinhos de guarda, por usarem muito lúpulo (que é um conservante natural), as cervejas não-pasteurizadas precisam ser resfriadas a temperaturas adequadas, podendo, sim, ter sua vida prolongada, mas sem o processo de envelhecimento como conhecemos no vinho. As pasteurizadas, guardadas em local seco e protegido da luz, também podem manter suas características por algum tempo, mas sem garantia de longevidade.
É possível harmonizar cerveja com comida?
Muito! Tanto que essa é uma prática habitual em eventos gastronômicos. Nada melhor do que um bom churrasco com uma Pilsen, um petit gateau com uma Stout ou, ainda, uma tábua de queijos com uma Sour. Mas, claro, o que vale mesmo é comer bem e beber bem, independentemente da combinação.
O lúpulo é o único responsável pelo amargor?
O amargor da cerveja é causado por compostos químicos chamados alfa-ácidos, existentes no lúpulo, sendo o amargor medido através do IBU (International Bitterness Unit) da cerveja, e se dá exatamente pela quantidade de alfa-ácidos encontrados na bebida. Quanto maior o índice, mais amarga a bebida será. Mas, outros fatores, como o malte e a fermentação, também influenciam no sabor final.
As mais caras são sempre de melhor qualidade?
O preço é determinado pela origem dos ingredientes, modelo de produção e de negócio, além de outros elementos influenciados pelo mercado. A qualidade está mais atrelada aos insumos e ao processo produtivo da bebida, por exemplo. Acredite, dá para fazer cerveja boa e barata, com toda a certeza!
A versão escura é mais forte do que a clara?
Mais um mito disseminado. Prova disso é que uma Dry Stout, de cor preta intensa, tem uma alcoolemia e um corpo inferiores a uma IPA, por exemplo, que pode ser tão cristalina quanto uma Pilsen. Uma cerveja equilibrada une corpo e teor alcoólico de forma proporcional, o que não afeta a cor, necessariamente, já que ela é obtida por meio dos tipos de maltes utilizados ou da própria torra.