Uma juíza de Los Angeles, nos Estados Unidos, declarou admissível a denúncia apresentada contra a Netflix pela georgiana Nona Gaprindashvili, uma lenda soviética do xadrez. Ela acusa a plataforma de difamação sexista na série de sucesso O Gambito da Rainha. Na demanda, a campeã georgiana pede US$ 5 milhões em indenização.
Na série, um personagem afirma que Gaprindashvili "nunca havia enfrentado homens" em uma competição, ao contrário da heroína fictícia de O Gambito da Rainha, a americana Beth Harmon, interpretada por Anya Taylor-Joy.
"É manifestamente falso, além de grosseiramente sexista e humilhante", diz a denúncia apresentada em setembro do ano passado pela campeã, que hoje tem 80 anos.
A jogadora, que se tornou a primeira grã-mestre de xadrez da história em 1978, já havia enfrentado dezenas de jogadores homens de destaque em 1968 — ano retratado na série.
A Netflix negou a intenção de ofender a campeã e afirmou, em um comunicado de imprensa, que tinha "o maior respeito por Gaprindashvili e sua ilustre carreira".
A plataforma, no entanto, classificou a denúncia como "sem fundamento", argumentando que se trata de uma obra de ficção protegida pela Constituição americana e sua primeira emenda, que garante a liberdade de expressão.
Em uma decisão emitida na quinta-feira (27), a juíza californiana Virginia Phillips determinou que uma obra de ficção não goza de imunidade a processos por difamação se envolve pessoas reais.
Nascida em 1941 em Zugdidi, no oeste da Geórgia, Nona Gaprindashvili joga xadrez desde os 13 anos. Ela ganhou o campeonato mundial feminino aos 20 e defendeu, com sucesso, o título em quatro ocasiões, antes de perder a coroa em 1978 para outra georgiana, Maia Chibourdanidze, que tinha 17 anos à época.
Na Netflix, a série O Gambito da Rainha bateu recorde, alcançando 62 milhões de exibições em todo o mundo no intervalo de quatro semanas, e venceu 11 prêmios Emmy.