
Em meados dos anos 1970, Milton Nascimento entoava no refrão de Paula e Bebeto que "qualquer maneira de amor vale a pena". Na década seguinte, foi a vez de Lulu Santos bradar que já considerava "justa toda a forma de amor". As artes, de forma geral, fazem coro às ideias de respeito e tolerância. Hoje, no dia em que o mundo celebra o orgulho LGBT+, confira algumas das celebridades que pintaram as cores do arco-íris em suas vidas e mostraram que têm, sim, direito à felicidade ao lado das pessoas que amam.
Danada e apaixonada

Há menos de um mês, Ludmilla surpreendeu o público ao revelar seu namoro com a bailarina Brunna Gonçalves. O romance já dura alguns meses, mas a cantora relutou em assumi-lo, apesar da atitude empoderada que sempre demonstrou em suas músicas. Não à toa, Lud já cantou versos como "Se não gosta, senta e chora / Hoje eu tô a fim de incomodar".
No programa Encontro com Fátima Bernardes, a carioca confessou que o relacionamento já dura sete meses, mas a primeira "ficada" ocorreu há dois anos.
— É muito ruim viver escondendo quem você realmente é. Vivi por muito tempo essa angústia. Já sou uma pessoa que carrega uma mochila lotada de preconceitos. Negra, funkeira, periférica e bissexual — desabafou ela em entrevista ao jornal O Globo.
Contudo, as represálias não demoraram a surgir e vieram na forma de comentários maldosos nas redes sociais e de perdas profissionais.
— Apareceram várias pessoas querendo fazer comerciais, dar patrocínios, mas também perdi contratos. Mas estamos realizadas em viver o que sempre sonhamos, sem precisar nos esconder — contou a funkeira ao O Globo.
Apoiadores
"Danada" como se autointitula em um de seus hits, Lud vem mostrando o seu lado mais versátil no quadro Show dos Famosos. No palco do Domingão do Faustão, já encarnou de Rihanna a Nana Caymmi. Tudo isso em meio a uma crise de lombalgia (dor na região lombar da coluna).
Logo após o burburinho sobre o seu namoro com Brunna, a cantora recebeu o apoio de vários famosos e anônimos, inclusive de Fausto Silva, que mandou um recado aos críticos de plantão:
— Ela tem o direito de fazer a vida dela como quiser (...) e providenciando a mudança também, para ficar longe de gente que faz fofoca, que enche o saco dela e da mãe dela, porque elas não merecem. Até porque o dinheiro dela vem de fonte limpa, vem do trabalho dela, e ela merece, no mínimo, respeito.
Luta por liberdade

A avalanche de preconceito que tem soterrado Ludmilla, nas últimas semanas, não é novidade para Daniela Mercury. Em 2013, a baiana assumiu a relação com a jornalista Malu Verçosa, e, desde então, as duas lutam pelos direitos LGBT+.
Na segunda, o casal esteve em Brasília para uma sessão na Câmara dos Deputados. A solenidade lembrou dos 50 anos do Levante de Stonewall, revolta da comunidade gay de Nova York, nos Estados Unidos, contra a truculência policial da época.
Em discurso na Câmara Federal, Dani questionou:
— Antes, eu era casada com homens. E quando casei com Malu, perdi todos os meus direitos. Direito de me casar com ela, direito de colocar o nome nas minhas filhas. Vocês entendem a inversão?
Daniela e Malu têm três filhas adotivas, Márcia, Alice e Ana Isabel. A cantora tem ainda dois filhos mais velhos, Gabriel e Giovana, frutos da união com o engenheiro Zalther Póvoas.
Por fim, ela pediu aos deputados presentes que enxerguem e protejam os LGBTs e finalizou seu discurso com um beijo na esposa.
Vai à luta e conhece a dor

Um dos artistas brasileiros que mais cantou o amor, autor de trilhas sonoras que embalaram romances da ficção e da vida real, Lulu Santos vive um momento de pura paixão.
Há um ano, assumiu o namoro com Clebson Teixeira, a quem se declara publicamente nas redes sociais e até nas letras de suas músicas mais recentes. O disco Pra Sempre, lançado neste ano, exalta o amor pelo marido — os dois oficializaram a união em abril.
"Provavelmente são as melhores e mais emocionantes canções que fiz nos últimos anos porque motivo e assunto não me faltaram", escreveu Lulu em seu perfil no Instagram.
Clebson também estrela o clipe da música que dá título ao novo álbum do amado.
Em lua de mel

Quem também oficializou a história de amor foi o casal Nanda Costa e Lan Lahn. No início de junho, a atriz mostrou, em seu perfil no Instagram, a certidão que representa muito mais do que uma formalidade e, sim, a conquista de um direito adquirido a duras penas.
Juntas há cinco anos, Nanda e a percussionista Lan só assumiram o relacionamento no Dia dos Namorados de 2018.
A união já rendeu até música, com direito a indicação ao Grammy Latino. Aponte, na voz de Maria Bethânia, concorreu na categoria de Melhor Canção, no final do ano passado, na premiação mais importante da música mundial.
Representatividade
Ao assumirem sua orientação sexual, os famosos prestam um importante serviço à comunidade LGBT+. Quando os ídolos se mostram sem filtro, é como se estivessem estendendo a mão para aqueles que ainda não tiveram coragem de se revelar.
Segundo Carolina de Barros Falcão e Luciana Drehmer, coordenadoras do Laboratório de Sexualidade, Gênero e Psicanálise da PUCRS, as pessoas famosas criam laços por alguma aproximação. As especialistas afirmam que as celebridades revelam modos de ser e existir que podem causar impacto em pessoas que, talvez, já tenham essas questões abertas, mesmo que não tão claramente.
Autoaceitação
— Ter pessoas homossexuais na mídia ou em cargos políticos serve não só como exemplo para a população LGBT+. Auxilia na naturalização das diferentes formas de comportamentos sexuais — ressalta Sabrina Cunico, professora do curso de Psicologia da Feevale.
Já para o psicólogo Daniel Mazzali, do Centro de Estudos da Família e do Indivíduo (CEFI), a grande mensagem que os famosos passam ao levantarem a bandeira da diversidade é a da autoaceitação:
— Mais do que encorajar as pessoas a assumirem sua orientação sexual sem receios, quebram estereótipos.
Analista de conteúdo do Todxs, startup brasileira sem fins lucrativos que promove a inclusão LGBT+, Vinicius Porton destaca o valor desta postura dos famosos:
— É uma grande oportunidade para sermos vistos e podermos dizer: nós existimos e estamos em todos os lugares! Porém, há outro lado da moeda, que vai além de, simplesmente, se assumir e, sim, passar a lutar pela causa.