Um dos destaques da cena musical brasileira de 2016, As Bahias e a Cozinha Mineira retorna nesta quinta a Porto Alegre. Desta vez, a banda sobe ao palco do Ocidente para espetáculo em formato intimista – mas não menos lacrador.
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Formada em 2011 pelas cantoras Raquel Virgínia e Assucena Assucena e o instrumentista Rafael Acerbi, As Bahias e a Cozinha Mineira tem, em seu bojo musical, o encontro de Gal Costa com Milton Nascimento. Tropicália com Clube da Esquina. Bahia com Minas.Em seu poderoso disco de estreia, Mulher, misturam ritmos nordestinos e trabalham com jazz, rock e vertentes do samba. Não é raro suas músicas não ficarem só no que anunciam, mas irem navegando por outros gêneros e subgêneros. No show desta noite, o trio lançará mão apenas de voz e violão (e eventuais guitarras).
– É um espetáculo que remete ao nosso início, quando éramos só nós três tocamos violão pelos corredores e pátios da USP (Universidade de São Paulo) – explica Assucena, em entrevista por telefone – Mas não significa que será um show pra baixo, pelo contrário, é bastante enérgico.
No repertório, além das músicas de Mulher, canções de gente que integra o universo d'As Bahias, com Lupicínio Rodrigues, Caetano Veloso, Belchior e, claro, Gal e Milton. Mas as intenções da banda vão além de criar boa música sob a batuta dos dinossauros da MPB. Erguidas bem altas, estão bandeiras de combate ao racismo, homo e transfobia e machismo.
– Claro que, à priori, a pretensão de uma banda é fazer música. Mas o ser humano é um animal social e qualquer posição sua é política. Se eu canto é político, se eu me calo também é político. Logo, se uma travesti decide cantar ciranda ou canção de ninar, naturalmente essa vai ser uma pauta política – afirma Assucena, que assim como Raquel, é transexual. – Mas é evidente que muita gente não gosta, afinal, questionamos privilégios milenares de homens brancos héteros.
A pauta forte aliada a qualidade musical d'As Bahias vem possibilitando ao grupo levar seus temas para audiências cada vez maiores – como nos programas de Esquenta e Encontro, na Rede Globo. Assucena salienta que o trabalho de movimentos sociais e o avanço das políticas públicas nos últimos anos foram essenciais para fomentar as discussões a respeito de liberdade, respeito e igualdade de gênero.
– Tivemos muitas conquistas significativas nos últimos anos, como o aumento de negros e pobres nas universidades e a sanção da lei que reconhece nome social para pessoas trans na esfera pública – diz. – Queremos apenas o que é nosso por direito. Nada além.
AS BAHIAS E A COZINHA MINEIRA
Quinta, às 23h. A casa abre às 21h.
Ocidente (João Telles esquina Osvaldo Aranha).
Ingressos: R$ 35 (antecipados) e R$ 45 (na hora).